terça-feira, 11 de maio de 2021

Da felicidade


"Le bonheur se raconte mal", escreveria Henri-Pierre Roché no livro Jules et Jim e que François Truffaut adaptaria no seu filme de 1962. Não é fácil falar ou escrever sobre a felicidade, de facto, nem sequer quando tentamos explicar aquilo que nos passa pela cabeça quando sabemos que o nosso clube se encontra, nas últimas três jornadas do campeonato, a apenas dois pontos de quebrar um jejum de dezanove anos na conquista do título de campeão. Nos últimos trinta anos, acaba por ser mais fácil, por isso, falar daquilo em que se tornaria o "acontecer Sporting": uma tendência irresistível para o abismo na performance desportiva e em actos de gestão que pareciam vir de alguém, entrincheirado numa guerra sem fim, que adoptava estratégias contrárias, à medida que as épocas passavam, para salvar um clube da sua rendição e derrota final. Um clube, por outras palavras, que mais se entretinha a travar guerras contra si mesmo e que descobria, nas vitórias dos outros, um motivo para atacar aqueles que, partilhando a mesma camisola, lhe pareciam antes se definir por categorias mais ou menos merecedoras de sportinguismo.

Nos últimos trinta anos, é mais fácil, por isso, nos recordarmos da dor trazida por uma final europeia perdida em casa, de campeonatos perdidos em momentos decisivos, de relatórios de contas e planos de insolvência, de jogadores da formação emprestados para outros sem futuro travarem o seu crescimento, ou de um traumático episódio em que um plantel inteiro se viu agredido, no seu santuário, e alguns dos seus maiores valores decidiram rumar a outras paragens para seguirem com as suas vidas. O clube jogava contra si mesmo a cada momento e este último episódio, sobre o qual muito já se escreveu, ainda hoje serve para dividir adeptos entre leais ou não leais a causas e fantasmas que substituem o elo transversal que nos une.   

Será possível, afinal, vencer uma guerra sem inimigos? No desporto, a vitória faz-se, em primeiro lugar, pela força de uma união e pela crença num projecto, muito antes de olharmos à nossa volta e, talvez assombrados pelo nosso poder ou por quem cremos que nos deseja destruir, preferirmos salvaguardar projectos pessoais em vez de colectivos. Foram poucos os momentos em que a gestão do Sporting não teve consequências desastrosas, ao longo dessas décadas, e foram poucos os momentos em que os adeptos, por outro lado, não mais vestiram as suas camisolas e deixaram de acreditar que, apesar de tudo, os jogos continuavam a ser para ganhar. O sportinguista sempre se agarrou à sua paixão, à sua esperança, a um sentimento de pertença a um clube que sempre precisou da ilusão para sonhar com a conquista máxima. E hoje, aqui estamos: depois de tantas guerras e, ainda, da época com o maior número de derrotas da sua história, o Sporting está a dois passos de se tornar campeão nacional.

"E se correr bem?", diria Rúben Amorim na conferência de imprensa de apresentação como treinador do Sporting. Com essas palavras, o treinador entraria no universo sportinguista e ousaria revirar, então, a equação que nos parecia definir. Como a sua grandeza exigia, "acontecer Sporting" poderia ser, afinal, uma resposta natural a um desígnio de vitória, alimentando-se da mesma naturalidade com que os sportinguistas entram no estádio com o desejo de ver a equipa ganhar cada jogo que disputam. Também com naturalidade, Rúben Amorim vestiu o ADN sportinguista e colocou a formação do clube dentro de campo, respondendo ao seu desígnio, finalmente, como os adeptos ansiavam ver desde sempre. A sua experiência com Jorge Jesus, curiosamente, e o seu feitio, enquanto jogador, ajudá-lo-iam a encontrar o equilíbrio certo entre formação, protecção, e exigência, criando um grupo de trabalho onde a união, o esforço, e a fraternidade seriam elementos naturais entre o jogador mais novo, o mais experiente, o menos titulado, ou o mais velho.

Poucos treinadores parecem reflectir tão bem aquilo que o Sporting representa e deve representar, no desporto nacional, como o jovem treinador português, e se muitas críticas apontámos à primeira metade do mandato de Frederico Varandas (e como as suas declarações pareciam, em vez de unir, dividir ainda mais um universo já fracturado), devem-lhe ser dirigidas palavras de apreço por ousar trazer, num gesto de "loucura", quem lhe mostrava isso aos seus olhos e mais ninguém via. O espaço oferecido para que Amorim fizesse o seu trabalho e a interrupção que impôs às suas próprias comunicações pessoais foram outras decisões bem-vindas numa direcção que parece ter aprendido com os seus erros e que viu, em Amorim, alguém com quem finalmente poderia aplicar o que prometera aos sócios antes das eleições: a valorização da formação, um scouting competente, a aposta no mercado interno, e um perfil, em cada jogador, que respondesse à exigência competitiva do Sporting, dentro e fora de campo, e um potencial de valorização para vendas futuras. 

Ainda não saberemos o que o futuro nos irá trazer, nem mesmo se o jejum será mesmo interrompido apesar de finalmente sermos candidatos a vencer. Independentemente de tudo isso, Amorim trouxe uma mudança e uma lufada de ar fresco, ao futebol português, e um impacto estrutural e desportivo, ao Sporting, que lembra aquele que Jesus e Mourinho trouxeram a rivais: não em termos de títulos, para já, mas na transformação competitiva que trouxeram aos seus clubes e às formações tácticas que vieram a se disseminar por um campeonato. Independentemente do que amanhã e depois nos dirá, ficamos com a imagem de Dário Essugo que, aos dezasseis anos, se estreou em campo para segurar uma vitória do Sporting e que deitaria lágrimas de emoção por envergar o seu emblema e ajudá-lo a ser feliz. É a sua inocência, também, que fá-lo sentir essa paixão, na sua jovem idade, e que reflecte aquela que um adepto sente na bancada quando grita um golo dos seus jogadores. É essa inocência que devemos recuperar e acolher, enquanto sportinguistas, para que olhemos para essas lágrimas e aconteça Sporting, muitas mais vezes, tal o seu desígnio nos pede desde o dia em que os nossos sonhos nasceram.  

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Jackpot

No último texto, deixámos expresso o nosso desejo de dar tempo ao clube — jogadores, equipa técnica, e administração — para manter o novo caminho escolhido, com a chegada de Rúben Amorim, e oferecer as melhores condições possíveis para o Sporting chegar ao título no próximo mandato. Apenas quatro meses depois, o Sporting fecha metade do campeonato com a sua melhor primeira volta de sempre: 14 vitórias, 3 empates, 0 derrotas, 9 golos sofridos, e um primeiro lugar isolado, na tabela, com uma distância de 6 pontos para o segundo classificado e outra de 9 para o terceiro.

Não existe nenhum sportinguista, neste momento, que não esteja já a pensar mais alto. É esta a natureza do clube. A nossa satisfação, contudo, não se prende apenas com o actual primeiro lugar: prende-se com a maneira como lá chegámos. Depois de uma época a lembrar o pior de Godinho Lopes, Frederico Varandas colocou todas as fichas no novo treinador-sensação da liga e tornou-o num dos técnicos mais caros da história do futebol. Uma aposta de enorme risco — a maior de um mandato até aí errático e frustrante — e que ultrapassou, até agora, todas as previsões e expectivas. Rúben Amorim, com o seu perfil e as suas decisões, trouxe, à direcção, aquilo que ela tinha prometido antes das eleições: uma equipa que junta a qualidade da formação a contratações cirúrgicas (com correspondência a um modelo de jogo) e que personifica, dentro e fora de campo, o compromisso exigido pelos objectivos do Sporting. Depois de uma "pré-pré-época", o novo mercado de Verão traria alguns dos melhores jogadores do campeonato fora do trio dos clubes grandes e o mercado de Janeiro conseguiria preencher, também, as últimas peças do puzzle (sobretudo a mais flagrante: a do avançado), conseguindo-se estreitar nacionalidades, por fim, para potenciar uma melhor comunicação no grupo.

O carisma de Amorim é óbvio e a empatia que consegue com os jogadores é outra das razões para o seu sucesso. Antes disso, contudo, devolveu uma identidade ao nosso futebol, ensinou os jogadores a defender e a atacar em bloco (algo que já não acontecia desde... Jorge Jesus), e introduziu uma mobilidade, no trio da frente, que garante variabilidade e criatividade a uma estrutura bem definida. Independentemente do resultado final deste campeonato, o jackpot do Sporting é esse: onde o clube tremia, dentro e fora de campo, hoje parece sólido, confiante, e seguro, fruto da competência da sua equipa técnica e, também, de uma direcção que lhe deu espaço e tempo para trabalhar. Tão grande quanto o nosso desejo para o final desta maratona, em termos desportivos, é o desejo de que Amorim e a sua filosofia de trabalho deixem uma influência na profissionalização da estrutura do futebol do Sporting. Quando todos sabem o que querem e somos fiéis a uma identidade, dentro e fora de campo, os resultados acabam por aparecer. Para já, celebremos esta primeira vitória. O clube merece.

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Um mercado (quase) bom


As expectativas eram baixas, depois do desastroso planeamento da época anterior, em relação ao novo mercado de transferências: um conjunto de más decisões, entre contratações, empréstimos, e dispensas, para além de quatro treinadores, que fizeram da primeira época inteira da administração de Frederico Varandas uma das piores do currículo desportivo do clube (talvez apenas ultrapassada pelo famoso 7.º lugar de Godinho Lopes). Se uma das suas piores decisões conseguiu mesmo ser repetida (a indesculpável incapacidade em reforçar o plantel com um novo avançado, fazendo com se inicie a época sem um avançado-centro da confiança do treinador), é importante afirmar, ainda assim, que as restantes abordagens ao mercado foram positivas.

De todos os sectores, o meio-campo foi aquele que sofreu maiores transformações: Palhinha, Matheus Nunes, Daniel Bragança, Pedro Gonçalves e João Mário formam um interessantíssimo grupo de jogadores, sobretudo após a chegada deste último. Talvez uma das maiores cartadas deste defeso, o internacional português, formado em Alcochete, é um elemento que eleva o plantel do Sporting para um patamar superior e permite encarar a luta pelo terceiro lugar (que dá acesso, este ano, à pré-eliminatória da Champions) com outra estabilidade e confiança. Desejoso de participar no campeonato da Europa (a realizar-se no próximo ano), João Mário trará a determinação necessária para aumentar índices de competitividade e ajudar jovens jogadores, à sua volta, a ganharem experiência e conhecimento sobre o jogo. Nas alas, a dupla do meio-campo (que poderá variar consoante as necessidades defensivas ou ofensivas) será acompanhada por dois laterais que têm todas as capacidades para construir e fazer chegar a bola a zonas de finalização: Porro (jogador que, ainda assim, apresenta carências defensivas) e Nuno Mendes, um jovem de 18 anos que já espalha magia, nos relvados, e que poderá vir a ser um dos melhores laterais esquerdos do futebol internacional.

Com a inexistência de uma referência ofensiva indiscutível (a última peça que tornaria o plantel do Sporting numa equipa verdadeiramente competitiva), Rúben Amorim tem trabalhado uma grande variação posicional no trio da frente. Entre Pedro Gonçalves, Tiago Tomás, Tabata, Plata, Nuno Santos (mais adequado à ala), Vietto ou Jovane (estes dois frequentemente adaptados à posição de "falso nove"), o Sporting consegue dinâmicas ofensivas interessantes que dão a volta, de certo modo, à ausência de um avançado que seja o centro do seu jogo (alguém que se envolva na construção, que crie, e que finalize: um avançado completo que não é Sporar, ainda pouco agressivo e algo ausente, ou Luiz Phellype, mais focado no momento da finalização e menos no envolvimento com os colegas).

A baliza foi reforçada com Adán, alguém que, apesar da má exibição frente ao LASK, traz segurança à defesa e permitirá outra evolução a Luís Maximiano, guarda-redes jovem de enorme potencial. É na defesa, por fim, que se encontram os elos mais fracos: Feddal (bom no passe mas fraco nas abordagens defensivas e na decisão) e Neto (eficiente no compromisso defensivo, mas pouco mais). Talvez seja demasiado pedir a Amorim para rodear Coates com dois excelentes mas inexperientes defesas: Eduardo Quaresma e o esquerdino Gonçalo Inácio. Compreende-se a decisão de proteger a evolução de jogadores que, ainda no ano passado, jogavam na Liga Revelação e transitaram directamente para o futebol sénior. Mas é em ambos que existe maior qualidade para a linha defensiva e a sua capacidade de construção (essencial numa linha de três centrais). A eles pertencerá o futuro (próximo) da defesa do Sporting.

Uma nota final para as questões financeiras: conhecidas as dificuldades do clube, o Sporting optou pela compra de 50% do passe em várias das suas aquisições, um modelo de gestão que dificulta a rentabilização de activos no futuro. Com uma gestão cuidada, ao longo da época, e uma possível (mas difícil) qualificação para a Liga dos Campeões, talvez o Sporting consiga reforçar esses investimentos, manter a base do plantel, e trazer dois ou três jogadores que reforcem as carências ainda existentes. Esta parece ser, finalmente, a primeira época de transição para o Sporting do futuro. Resta à administração preservar o caminho traçado e oferecer, no próximo mandato, as melhores condições possíveis para termos uma equipa que permita lutar pelo título.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Desunir o Sporting


Frederico Varandas:

"Quem contesta o trabalho desta direcção ou não percebe nada de futebol ou é intelectualmente desonesto." Setembro de 2019

Sporting 2019/20:

Liga: 4.º lugar com 22 pontos de distância para o 1.º
Taça: Derrota por 2-0 (Alverca, Campeonato de Portugal - Série D)
Supertaça: Derrota por 5-0 (Benfica)
Liga Europa: Eliminado pelo İstanbul Başakşehir (3-1 em casa, 1-4 fora)

Porto: 2 jogos, 2 derrotas
Benfica: 3 jogos, 3 derrotas
Braga: 3 jogos, 2 derrotas
Rio Ave: 3 jogos, 2 derrotas
Famalicão: 2 jogos, 2 derrotas

As palavras do presidente do Sporting, proferidas no início desta longa época desportiva, revelaram um traço que deixou poucas saudades: uma reacção a críticas ao seu trabalho que prefere, em vez da auto-crítica humilde, insultar sócios e adeptos com o direito a exprimir a sua insatisfação quanto ao rumo do clube (tendo ou não razão para tal). Os sócios pagam quotas e gameboxes em condições económicas difíceis e merecem respostas à altura da instituição que o presidente dirige. Frederico Varandas não é a última Coca-Cola do deserto nem é, muito menos, a única pessoa no universo sportinguista com capacidades para gerir os destinos do Sporting de uma maneira que deixe os sócios satisfeitos. A sua posição traz responsabilidade e deveria trazer humildade perante um universo que junta mais de 100 mil sócios e 3 milhões de adeptos e simpatizantes.

A principal contestação ao seu trabalho tinha sido, precisamente, o facto de vencer eleições com um lema ("Unir o Sporting") que pretendia juntar um clube fracturado e de ter decidido ignorar essas intenções às primeiras críticas. Devido ao contexto em que anunciou a candidatura, já tínhamos aqui apontado que teria de escalar uma enorme montanha para conseguir responder à sua primeira missão. Depois da vitória eleitoral, a sua comunicação preferiu falar mais vezes do passado do que aquilo que implementou, estruturalmente, no presente do clube, justificando-se com o estado em que Bruno de Carvalho havia deixado o Sporting, na consequência dos incidentes de Alcochete, para explicar os seus insucessos. No entanto, se Frederico Varandas achava que comparar legados iria fazer unir o clube à volta da sua candidatura, cometeu aí o seu primeiro erro, pois se 71% dos sócios votaram na destituição do anterior presidente, nunca é demais relembrar que 90% da mesma massa associativa votou na mesma pessoa, um ano antes, para lhe entregar um novo mandato após uma extraordinária recuperação financeira, desportiva e patrimonial que enterrou um plano de falência já em curso.

O segundo erro, como também previmos no mesmo texto, seria acreditar que o Sporting precisava apenas de uma mudança de perfis, com a mesma estrutura, para se tornar num clube vitorioso no futebol. Um dos problemas da administração de Bruno de Carvalho foi, precisamente, depender demasiado de um "regime presidencialista": um modelo ultrapassado, no futebol moderno, que torna a gestão de um clube demasiado dependente dos temperamentos de uma pessoa. O Sporting, como qualquer clube com ambições, precisa de uma estrutura alargada e profissional com elementos capacitados para funções de gestão desportiva, algo que não se ganha pela obtenção de créditos por equivalência por se ter atravessado corredores de um clube que nunca teve, precisamente, a estrutura de que precisava. Ao mesmo tempo, Varandas deixou-se rodear de simpatizantes do seu trabalho que se vangloriam, em comunicações públicas, de terem tornado o Sporting num clube mais de acordo com a sua "elevação", algo que apenas reforçou a "luta de classes" e tensões num clube que, fundado com o dinheiro de um visconde e por iniciativa de atletas, se tornou num emblema de popularidade nacional e transversal a todas as classes. Decididamente, os complexos sociais destes adeptos "notáveis" ainda influenciam, e de que maneira, a vida do Sporting, algo que está na base de uma longa guerrilha interna que motiva adversários e que atira o Sporting para a irrelevância.

Em dois anos de mandato, Frederico Varandas trouxe 14 jogadores para a equipa principal: Idrissa Doumbia, Cristian Borja, Tiago Ilori, Luiz Phellype, Valentin Rosier, Rafael Camacho, Eduardo Henrique, Jesé, Bolasie, Luís Neto, Fernando, Luciano Vietto, Gonzalo Plata e Andraz Sporar. Destes, apenas dois (Plata e Sporar) entraram no onze inicial no último jogo do campeonato (Neto substituiu Coates após lesão no aquecimento). Está espalmada, aqui, todo o falhanço de uma gestão desportiva que recorreu ao promissor treinador do Sporting de Braga (o quarto na mesma época), a troco de 10 milhões de euros (!), para tentar ultrapassar esse clube e conseguir uma entrada directa na Liga Europa (não conseguiu). Rúben Amorim, por sua vez, tem feito os possíveis para preparar a próxima temporada. Não tendo qualidade individual para um modelo de jogo interessante mas também exigente, encontrou um contexto indesejado mas "perfeito" para apostar na nova geração a sair de Alcochete: jogadores com talento mas demasiado inexperientes para carregarem todas as nossas esperanças em conseguirmos, na próxima época, algo melhor do que um lugar que desonre o clube.

Saberão Frederico Varandas e Hugo Viana enriquecer o plantel com jogadores que façam a diferença? Braga, Rio Ave, e Famalicão, clubes que contribuíram para o recorde de derrotas do Sporting numa só época (17), já têm prospecções mais eficientes e projectos mais sólidos do que aquele que podemos oferecer (que o diga João Palhinha, jogador que se valorizou muito com os anos passados em Braga). Não bastam bons atletas: são necessários jogadores que o modelo do treinador consiga potenciar. Para já, a presidência de Varandas ainda nem mostrou ter capacidade para responder à primeira dessas exigências, fazendo com que a nossa maior esperança, depois do que mostrou na primeira época planeada por si, recaia em que eventuais candidatos às eleições de 2022 (e um em particular) estudem afincadamente os erros do seu mandato para apresentarem um projecto de profissionalização do clube que esteja à altura do Sporting que todos merecemos.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Futebol? Um desastre.

Frederico Varandas foi inteligente em ter sido o primeiro a apresentar a sua candidatura à presidência do Sporting. Mesmo que o momento não tenha sido o mais indicado (e numa altura em que não estavam marcadas eleições), acabou por se assumir como principal alternativa, num clube desgovernado, para um universo sportinguista desesperado por ver alguma estabilidade emocional e directiva à frente dos seus destinos. Fruto da boa imagem que manteve, junto dos adeptos, enquanto director clínico, Varandas apresentou-se, também, como alguém com o conhecimento necessário para dirigir os destinos do clube graças aos vários anos passados na estrutura. Alguém que, segundo a comunicação da sua campanha ("Unir o Sporting"), conhecia todos os defeitos da casa e sabia exactamente o que fazer para remendar um projecto que tinha entrado em auto-destruição.

Antes de ser eleito, apontámos os nossos receios em ver uma proposta de estrutura que se mantinha demasiado centrada nas disposições de uma única pessoa. Se Varandas delega decisões em vários departamentos, o futebol, apesar de assessorado por Hugo Viana, passa apenas por si. Mais ainda, após um contacto directo com candidatos em sessões de esclarecimento, notámos que Varandas apresentava uma enorme convicção quanto ao seu papel no clube mas um conhecimento pouco transversal e detalhado das diferentes complexidades da gestão desportiva (nomeadamente num clube com a dimensão do Sporting).

Hoje, passados quinze meses da sua eleição, esses receios confirmam-se. De um lado, vemos um presidente que demonstra tiques de arrogância, na comunicação, que lembram defeitos do seu antecessor, e uma estratégia que, em vez de unir um universo de sportinguistas dividido por uma destituição e um evento traumático (como ainda se nota, com grande evidência, nas últimas votações em Assembleia Geral), prefere ser o presidente da "maioria silenciosa" contra uma "minoria ruidosa", não lhe interessando, como havia prometido em campanha, unir os sportinguistas independentemente das suas votações (com todas as dificuldades que isso pode trazer -- no entanto, é esse o seu trabalho). A própria questão das claques (que repetiram actos violentos depois de um jogo no Pavilhão João Rocha) parece ainda longe de estar encerrada, não parecendo resolver-se, inabilmente, com seguranças à porta dos estádios a retirar cachecóis e despir roupa, em adeptos sportinguistas, com adereços e símbolos desses grupos.

Se o universo extra-futebol tem trazido troféus e reconhecimento internacional ao clube (na continuidade do trabalho da anterior direcção e com a construção do pavilhão), as decisões da sua responsabilidade quanto ao maior activo do clube (a gestão do plantel principal de futebol) tem sido desastrosa. Em pouco mais de um ano, o Sporting já conta com cinco treinadores diferentes, sendo que a principal escolha de Varandas (descontamos Peseiro e os transitórios Tiago Fernandes e Leonel Pontes) recaiu num treinador holandês que se revelou completamente desajustado às exigências de um futebol português bem mais evoluído, tacticamente, do que aquele que existe na Holanda. Se Marcel Keizer trouxe dois títulos saborosos, lembramos que estes foram ganhos à custa de um futebol pobre e sem identidade, que remetia a iniciativa do jogo para o adversário (independentemente do nome), e da intervenção quase exclusiva do seu melhor jogador. Jogando como equipa pequena, o Sporting, a curto prazo, conquistou dois troféus, perdendo, a médio prazo, toda e qualquer organização táctica (defender com muitos não é defender bem) e motivação para os jogadores acreditarem nas suas capacidades em jogar futebol e impor o seu jogo.

Se Keizer foi "o" treinador de Varandas, o actual plantel também é "dele": uma equipa que, depois de várias janelas de mercado, ganhou várias contratações sem valor para o clube, apenas conta com um avançado de raiz, viu dispensados os maiores talentos da sua formação (Matheus Pereira, Daniel Bragança), e onde se investiu, ao contrário do que fora anunciado em campanha, em empréstimos de jogadores caros, sem historial de compromisso, e sem rendimento. Hoje, o Sporting é uma equipa de remendos onde qualquer treinador (uns, como Silas, com melhores ideias do que outros) se vê atado às suas condicionantes, vendo, a partir do banco, como diferentes sectores não se juntam, não constroem, e não oferecem criatividade, tornando qualquer situação de desvantagem, fruto da ausência de opções, numa batalha psicológica dos jogadores contra os seus próprios defeitos.

O Sporting, hoje, é um clube, uma estrutura e um plantel dividido. Vitor Oliveira, treinador do Gil Vicente, disse, com frontalidade, depois da sua vitória por 3-1, que os incidentes de Alcochete vão fazer com que o Sporting demore alguns anos a ter plantéis com a qualidade dos seus maiores rivais. É verdade. O que os incidentes de Alcochete não podem justificar é a manutenção de um clima de enorme divisão dentro da instituição, sem perspectivas de mudança na comunicação e na sua gestão, e uma incapacidade que se pode tornar crónica, devido às suas decisões no presente, em conseguir vencer equipas que lutam apenas pela permanência na primeira liga. Com 13 pontos de atraso para a liderança a 1 de Dezembro, Frederico Varandas parece estar, afinal, em plena aprendizagem de um papel para o qual dizia estar pronto. Pior do que isso, já não lhe restam muitas cartas para convencer o universo sportinguista, em níveis perto de máximos de descrença, que vai conseguir fazer melhor do que isto. Janeiro será o momento para mostrá-las, caso contrário, já sabemos o que nos espera. 

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

"Um treino de captações com João Félix, Daniel Bragança e Fábio Silva"

"É preciso, de uma vez por todas, que se entenda que há uma diferença fundamental entre lançar jogadores e apostar neles. Em Portugal, todos os anos se lançam muitos jogadores formados nos clubes. Aposta-se em poucos, porém. Se o Fábio e o Tomás, aos 20, não forem unânimes, não será por falta de talento ou trabalho. Porque já mostraram com o seu trabalho que têm mais qualidade que os companheiros de equipa que jogam na mesma posição. Será por - assim como com Daniel Bragança - não lhes ter sido dada a possibilidade, a melhor possibilidade, de adquirirem a experiência necessária para vingarem ao mais alto nível."

Um texto de leitura obrigatória, de Blessing Lumueno, no Tribuna.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

"Keizerismo - Peseirismo"

"Contrariamente ao que afirmou Frederico Varandas, há razões para desconfiar da estrutura e do que anda a fazer. O resultado de ontem tem uma componente que pode ser explicada pelo acaso que um jogo sempre envolve. No entanto, nada do diagnóstico do jogo é, propriamente, novidade. A equipa e o seu modelo de jogo não dão sinais de melhoria. Os jogadores são sempre os mesmos. A aposta é nos jovens e no “scouting” e depois essa aposta não tem reflexos na equipa principal. O treinador foi escolhido porque dispunha de perfil necessário para dar resposta a estas apostas e melhorar o nosso jogo. Quem conhece o futebol português e os seus contornos, não espera títulos, a não ser muito esporádicos. O que legitimamente se espera é valorização de jovens jogadores e bom futebol. Se não se corresponde a essa expetativa, então o Peseiro servia, desde que devidamente equipado com uma pata de coelho."

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Thank u, next


Primeiro jogo oficial da época 2019/20 e o resultado mais avultado, no derby, desde os 7-1, em Alvalade, de 1986. Cinco golos sem resposta, para o Benfica, e o sétimo jogo consecutivo do Sporting sem ganhar desde o início da pré-época. Marcel Keizer começa com aquilo que não teve na temporada anterior -- um tempo de preparação com um grupo de trabalho escolhido por si -- e a equipa revela ainda menor capacidade em desenvolver um futebol com princípio, meio, e fim. Assustadora é a falta de capacidade, também, em resolver o grande problema que a equipa mostrava sob a sua alçada: uma dificuldade gritante no processo defensivo e uma enorme ausência de rotinas colectivas sem bola. Contra uma equipa de transições ofensivas letais, como é o Benfica de Lage, cada jogada do adversário é um potencial cheque-mate, vendo-se o Sporting a abrir espaços e crateras constantes, com avançados (Dost) e médios (Wendel) ora sem instruções ora sem cultura táctica defensiva, à frente de um conjunto de defesas que revelam enormes dificuldades de coordenação (perante o pânico, também, de ver meia-equipa adversária passear na sua grande área). O resultado, para quem acompanhou o futebol do Sporting na época anterior e nas últimas semanas (e já é a segunda goleada que Keizer sofre contra Lage), não é, por isso, completamente surpreendente. Por isso, Presidente, sim, estamos (muito) preocupados.

Keizer terá sido contratado, também, para seguir uma lógica de investimento mais próxima daquela que é (ou era) a matriz do clube: a formação de jovens talentos. Desde a sua chegada, o treinador holandês tem alimentado, também, preocupações compreensíveis por vermos as participações desses jogadores resumirem-se a escassos minutos nas fases finais de cada partida. Na presente pré-temporada, esses atletas, ao contrário de uma integração progressiva dentro de um onze consolidado, têm sido lançados em bloco para jogar, simultaneamente, os últimos dez minutos (se não menos) de cada jogo, dificultando a sua integração nas rotinas colectivas. Desde que abdicou da (melhor) identidade do seu jogo, com os primeiros desaires na época anterior, Keizer preferiu abdicar do elemento de risco no seu futebol para revelar uma faceta resultadista sem ter as melhores ferramentas, no entanto, para consegui-lo (apesar de ter oferecido, com isso, duas taças ao clube, vencidas nos penáltis, e depois de uma vitória, frente ao Benfica, que se revelou um excepcional momento de superação anímica liderado pelo talento individual de um enorme jogador). Com o decorrer da pré-época, o treinador holandês pareceu revelar que esse traço, afinal, não foi apenas circunstancial, mostrando ainda grandes dificuldades em responder a um futebol mais exigente, em termos tácticos e colectivos (sobretudo defensivos), do que aquele que conhecia no campeonato holandês.

Num clube onde cada derrota (sobretudo no presente) é um convite a gritos revolucionários, é da mais elementar necessidade que a actual administração reflicta sobre aquilo que se vê em campo e que não confunda a importância da estabilidade com uma teimosia contraproducente que, com o tempo, poderá revelar-se perigosa. O futebol não só é demasiadamente pobre, para as ambições do Sporting e as opções que existem no plantel (mesmo que inferiores às dos rivais), como a gestão dos seus jovens talentos, por parte do treinador (mesmo que a estrutura de formação e prospecção tenha sofrido mudanças importantes), revela-se difícil de entender (se Matheus Pereira, o melhor extremo do clube, parece ser "uma questão para a administração", como Keizer respondeu em conferência de imprensa, é difícil entender a ausência de minutos de talentos como Daniel Bragança e Gonzalo Plata ou o desaparecimento, ainda, de Miguel Luís, jogador cuja evolução positiva se viu subitamente interrompida). A identidade um clube vencedor é feita, também, com uma dose inteligente de risco: o factor decisivo que, no meio de uma estrutura organizada e de um colectivo eficiente, diferencia os campeões dos vice-campeões (e outros).

De que treinador precisa o Sporting? Um técnico com capacidades suficientes para colocar a equipa a jogar em todos os momentos do jogo (e não apenas um), que conheça o futebol português, que aposte nos jogadores vindos da formação com uma integração positiva (e não apenas utilitária) e que -- algo que um clube desunido agradeceria -- sinta a importância e uma proximidade com o símbolo que leva ao peito. Existe um treinador, justamente, que cumpre esses requisitos e que orienta um clube sem nome e sem símbolo para um estádio vazio na zona de Lisboa. Até à saída de Marcel Keizer, esperemos que nenhuma administração, a Norte ou a Sul do país, acabe por contratá-lo para solucionar os problemas do seu próprio projecto.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

A quadratura do círculo


Só para os mais desatentos é que o despedimento de José Peseiro constituiu uma surpresa: apesar dos acontecimentos do Verão de 2018, da pré-época atípica e da falta de qualidade de um plantel para as aspirações do Sporting, a equipa, colectivamente, apresentava um futebol terrível e cujos resultados negativos, já em sucessão perigosa, arriscavam alimentar uma bola de neve cada vez mais incontrolável para a estabilidade do clube. Frederico Varandas tomou uma decisão corajosa -- e certa -- de dispensar dos serviços do treinador português e, optando por um momento de paragem nas competições entre clubes, escolheu um treinador identificado, por si, como o homem certo para levar a cabo o seu projecto. O presidente surpreendeu e foi até aos Emirados Árabes Unidos buscar o antigo treinador da equipa júnior e sénior do Ajax (então treinador do Al Jazira): alguém que, no papel, adequa-se aos princípios de formação de jogadores jovens e que mostrou, na sua curta carreira, a preferência por um futebol de ataque com uma média muito elevada de golos marcados. Keizer chegou e, com apenas duas semanas de treino, mostrou esses princípios que tanto entusiasmam o adepto de uma equipa grande (ou de qualquer outra): um jogo pelo centro do terreno, a recusa das bolas longas e da insistência nos cruzamentos, a procura da posse de bola e uma pressão agressiva após a perda, e uma equipa que procura sempre o golo independentemente do resultado. Os jogadores do Sporting pareciam libertados: em quase uma dezena de jogos, a média de golos marcados era superior a quatro por jogo, os jogadores surgiam com outra confiança (e divertiam-se em campo), e alguns jovens começavam a ser introduzidos nas convocatórias e a ganhar minutos. 

Os adversários estudaram o sistema do Sporting e o clube sofreu, pouco depois, duas derrotas no campeonato (contra o Vitória de Guimarães e o Tondela, ambas fora). Keizer, em resposta ao momento da equipa, abdicou do futebol atacante de primeiro toque, conduzido pelo centro do terreno, e, no meio de um calendário fisicamente extenuante, pediu à equipa para jogar com menos risco na construção. O futebol da equipa regressou, então, ao trabalho que se viu no início à época: bolas longas dos centrais para o avançado ou para os extremos, no outro lado do campo, e cruzamentos, para a área, à espera de um bom destino, mantendo uma distância assinalável entre sectores e a entrega da iniciativa de jogo, muitas vezes, ao adversário. O Sporting abdicou de marcar muitos golos, colocou de lado os novos princípios com que a equipa trabalhava, e, pior do que isso, continuou a sofrer os mesmos golos (ou mais ainda), desenvolvendo, no meio de uma terrível quebra no rendimento físico da equipa, uma quebra na confiança entre os jogadores e o que lhe pedia a equipa técnica.

Se Marcel Keizer chegou num momento da época que nunca treinador deseja -- a meio dela, sem conhecer o grupo de trabalho -- e a sua gestão, por isso mesmo, ser discutível mas algo compreensível (o treinador fez pouca rotação, até ao fecho do mercado de Inverno, por estar preso à necessidade de criar rotinas), há sinais colectivos, no entanto, que são preocupantes para o futuro do Sporting. Se a gestão de expectativas sempre foi um problema do clube, fruto de lutar por um título com condições sempre inferiores às dos seus rivais no que toca à qualidade individual dos seus jogadores, importa olhar, contudo, para como a equipa joga dentro de campo em termos colectivos. E, neste momento, independentemente das aspirações (ocupar o primeiro, segundo ou até terceiro lugar), o Sporting não é uma equipa preparada para todos os momentos do jogo, característica essencial para qualquer equipa grande que procure a regularidade exibicional, uma dinâmica de vitórias e, consequente, a confiança dentro do grupo de trabalho. 

Entre os vários problemas, há um gritante que foi exposto, em toda a linha, contra a equipa que melhor constrói e ataca em Portugal (o Sport Lisboa e Benfica): o momento sem bola (como exposto, de forma muito clara, neste texto do Lateral Esquerdo). Com jogadores bem posicionados e princípios bem trabalhos, qualquer opositor consegue explorar, de maneira fácil e rápida, os espaços deixados em aberto pelo Sporting, chegando à baliza leonina numa questão de segundos. Contra o eterno rival, o desnorte colectivo de uma linha defensiva completamente descoordenada, deixada à mercê do opositor, também, pela falta de posicionamento do meio-campo e dos extremos, mostrou a diferença para um adversário que, apesar de ser superior individualmente, revela a sua maior força, tal como qualquer equipa dominadora e vencedora, nos seus princípios de jogo, em todos os seus momentos, e, acima de tudo, na qualidade do seu treino (onde estes são trabalhados). Neste ponto, o futebol de Keizer parece revelar as diferenças actuais entre o futebol holandês e português (algo que deveria ter sido levado em consideração na escolha e experiência do treinador): uma inferioridade, do primeiro para o segundo, em relação aos princípios de trabalho e de treino defensivo, e uma anarquia consequente nos tempos e termos da reacção, leitura e posicionamento do comportamento sem bola. Basta dizer que o Sporting, apesar de não ter a pior equipa (ou os piores defesas) do campeonato português, é das equipas que pior defende em Portugal (e poderíamos dar início, neste ponto, à actual crise do futebol holandês, mas deixamos o tópico para analistas de facto).

Não faz falta, ao Sporting, abdicar dos princípios de um futebol ofensivo, que busca a inteligência de um jogo no chão e pelo centro do terreno, para conseguir os resultados que deseja. Basta apenas treinar e jogar para que consiga responder a todos os momentos do jogo, sem ter que abdicar de um em vez de outro: não apenas com bola mas sem bola, não apenas em transição ofensiva mas em transição defensiva. Com os objectivos da época a estreitarem-se, Keizer encontra-se em estágio no futebol português até ao final da época. A dúvida já não parece ser se o treinador holandês conseguirá trazer o sucesso que o Sporting lhe pediu -- será, neste momento, se Keizer irá sair, do futebol português, melhor treinador do que quando cá chegou. De parte da direcção, a dúvida será se ainda deverá tomar, no final da época, outra decisão tão corajosa quanto tomou com José Peseiro (naquilo que seria o reconhecimento de um erro de casting que apenas o próprio treinador poderá contrariar até ao final da época). Existem em Portugal, neste momento, novos treinadores que, mesmo com expectativas realistas face às possibilidades do clube, conseguiriam desenvolver um futebol adequado a uma equipa grande -- trabalhando tanto princípios ofensivos como defensivos -- e formar jovens talentos, que esperam por uma oportunidade na Academia, para solidificar não apenas o futebol do Sporting mas, também, salvaguardar um projecto administrativo que merece tempo para cimentar as bases já implementadas na sua estrutura desportiva, de formação e de prospecção. Nenhum sportinguista pediu, este ano, a conquista do campeonato: apenas espera por sinais de competência, dentro e fora de campo, para recuperar o tempo perdido em relação aos rivais. Caberá à administração, no final da época, entender, tal como fez com José Peseiro, que essa avaliação deve ser feita não apenas pelos resultados mas, numa equipa com a dimensão do Sporting, pela preparação do grupo de trabalho face às exigências do futebol português dentro das quatro linhas.

domingo, 9 de setembro de 2018

O presente e o futuro do Sporting


Há duas leituras claras dos resultados das eleições do Sporting. A primeira é que João Benedito, tendo tido mais votantes do que número de votos (logo, os sócios mais jovens), conseguiu convencer aqueles que são o futuro do clube. A segunda é que, ainda assim, e olhando para a totalidade dos resultados, a maioria do universo sportinguista preferiu entregar as mãos do clube a alguém que conhecia a actual estrutura e que apresentou, mais do que uma filosofia ou uma mudança de paradigma no funcionamento no Sporting, medidas objectivas que apontam a um trabalho de continuidade e de melhoramento das lacunas que foram identificadas na actual realidade. Frederico Varandas ganharia, muito provavelmente, uma segunda volta nestas eleições, e a sua eleição sai, por isso, não com uma sensação de divisão mas de união à volta do seu projecto. 

O melhor desta noite de eleições foi isso mesmo: as excelentes declarações tanto de João Benedito, mostrando o seu apoio total à lista escolhida pelos sócios, como as de Frederico Varandas, que pediu a João Benedito para se manter próximo da vida do clube. Esse é o primeiro grande sinal de força do Sporting para o presente e futuro: um presidente eleito que, pelo seu conhecimento interno da estrutura e da realidade de trabalho que viveu nos últimos anos, pode oferecer (pelo menos) uma transição eficaz entre a administração destituída e a seguinte (seja quando for), reforçando os alicerces de um clube que sofreu um dos maiores terramotos da sua história. O apelo de Varandas a Benedito tem a sensibilidade e inteligência de perceber exactamente isso: que o futuro de um Sporting forte só existirá com essa atitude e abertura no presente, e que ele será a ponte, também, para quem irá sucedê-lo com um projecto que, podendo ser diferente, encontrará, provavelmente, uma fundação mais sólida para funcionar melhor.


O primeiro sinal, depois desta noite, não podia ter sido melhor. O sucesso da actual direcção será o de todos os sportinguistas, tal como João Benedito entendeu e soube dizê-lo nas suas palavras. É um ambiente de salutar e que nos dá esperanças quanto ao presente e futuro de um clube que sempre se pautou pela divisão. O séc. XXI sportinguista, para já, se se mantiver o espírito de colocar o clube à frente dos interesses pessoais, tem tudo para funcionar. Assim esperemos. De nossa parte, estaremos sempre na bancada para apoiar. Viva o Sporting!

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Unir o Sporting (e torná-lo profissional)


Parece haver um sentimento bastante comum entre os sportinguistas, nestas eleições, de não olhar para nenhuma candidatura como o projecto que irá descansá-los de todas as suas preocupações. Num dos momentos de maior desunião da nossa história, acaba por não ser uma grande surpresa, por isso, ver um número tão elevado de candidatos. Por um lado, se os projectos e as estruturas são muito importantes, é preciso ter em conta, por outro, uma das maiores verdades da performance desportiva: não há vitórias sem união de grupo, e a ausência de um palmarés, no futebol profissional, à altura da dimensão do Sporting também se explica pela turbulência e as intrigas permanentes de um clube que poucas vezes pensou nele próprio e muitas mais nas figuras e nos interesses pessoais que viviam nele. Divisões e gestos que, na catástrofe que se viveu recentemente, conseguem facilmente apagar os melhores momentos de uma direcção que começou a trabalhar para a sobrevivência de um clube e que acabou a trabalhar para a sobrevivência do seu dirigente máximo, ficando para a história como a primeira a ser destituída em mais de cem anos de existência.

De todas as candidaturas, duas delas têm projectos que parecem apontar para uma profissionalização da estrutura do Sporting na realidade desportiva do séc. XXI: a de Frederico Varandas ("Unir o Sporting") e João Benedito ("Raça e Futuro"). Num mundo ideal, uma candidatura única que reunisse estes dois projectos, que partilham alguns pontos em comum, seria, seguramente, aquilo de que o clube precisaria para conseguir essa união tão necessária ao sucesso -- suficientemente agregadora, portanto, para chamar a maioria dos sócios e poder juntar, à sua volta, ainda outras candidaturas. Alguns pontos são praticamente idênticos, como a criação de uma unidade de "performance" e de apoio ao atleta e a identificação de lacunas na mentalidade competitiva e de adesão ao clube por parte dos atletas da formação,  tal como o entendimento que a estabilidade financeira do clube só vem com o sucesso desportivo. Existem, no entanto, diferenças fundamentais que impedem que elas se juntem numa só: o tipo de estrutura pensada para o clube e a preparação dos seus elementos para a gestão desportiva.

Frederico Varandas, por conhecer a realidade do clube por dentro, opta por manter uma estrutura muito semelhante àquela que tem existido no Sporting: um regime mais "presidencialista", com intervenção directa no futebol, identificando as lacunas da estrutura na performance, filosofia de formação e método de captação de jogadores, corrigindo-as de acordo com a experiência adquirida em sete anos de direcção clínica no Sporting. Fruto da sua demissão depois de terminada a época desportiva, e, sobretudo, ainda antes das rescisões no plantel, o anúncio da sua candidatura acaba por ficar associado a um momento de enorme ruptura no Sporting. Independentemente da sua vontade em mudar o clube (e vemo-lo como um acto genuíno, contra quaisquer outras teorias), anunciar a sua candidatura em associação directa à demissão do departamento clínico, e numa altura em que ainda não estavam marcadas eleições, não terá sido, reconheçamo-lo, a forma ou o momento mais indicado perante a situação que o clube vivia (talvez o momento possível, no seu ponto de vista, mas não o ideal perante um grupo de trabalho que se viria a desmoronar). A sua candidatura, fruto das subsequentes rescisões, veio a suscitar, por isso, maior desunião do que união dentro do universo sportinguista (e não necessariamente por quem votou contra a destituição da anterior direcção), deixando dúvidas quanto aos sentimentos que o clube poderá reviver (com uma vitória que será sempre minoritária para qualquer candidato) em caso de maiores dificuldades.

Paradoxalmente, é o projecto de Frederico Varandas que acaba por oferecer uma maior continuidade em relação ao funcionamento actual do clube e da sua estrutura, apesar de não vir a recolher os votos dos sócios indefectíveis do último presidente. Trata-se, por isso, de uma candidatura que procura "remendar" o que está mal, a partir do conhecimento vivido no departamento de futebol, com ideias positivas no sentido de aproximá-lo da maneira como os rivais do Sporting já trabalham há vários anos. Se isso chega para fazer dele um bom presidente do Sporting, e apesar de apresentar boas ideias, já é uma questão que, durante a campanha, não ficou totalmente esclarecida pelo próprio, ficando claro que a sua candidatura não soube pacificar as dúvidas quanto às suas capacidades de agregação (de poder responder, portanto, ao seu lema), do próprio corresponder à exigência multifacetada do cargo de presidente e, da mesma maneira, da experiência ou competência de alguns membros da sua lista, independentemente do seu sportinguismo, no trabalho específico da gestão desportiva (tendo mesmo uma demissão na sua lista para o Conselho Directivo, devido a ameaças de violência, acabado por confirmar algumas dessas dúvidas e levantar, inclusivamente, indesejáveis fantasmas ou indesejáveis associações dentro da estrutura de decisão), nunca tendo sido capaz de se libertar, por essa razão, de um discurso ensaiado (por aquilo que será uma agência de comunicação) em vez de partir do foco que seria naturalmente suscitado pelo seu projecto.

Apesar de se focar, também, na performance desportiva como factor determinante para o sucesso global do clube, colocando o que acontece dentro das quatro linhas como o centro de gravidade de toda a gestão, João Benedito traz, com a sua equipa, um projecto assente numa outra filosofia: uma estrutura diferente daquela que existiu no clube nos últimos anos (e que existe agora) e que assenta na experiência de competição e na cultura de vitória de ex-atletas do universo Sporting que ganharam, entretanto, experiência profissional nas áreas de intervenção às quais se propõem candidatar. Em vez de recebermos pessoas de fora para dentro do clube (como tem sido apanágio, e como Varandas repete-o pelo menos em parte no seu projecto), esta é uma candidatura que, pelo contrário, recupera as pessoas que "nasceram" dentro dele para devolverem aquilo que o clube lhes deu: uma cultura desportiva e de gestão que aponta exclusivamente para a conquista de títulos. Se todos os candidatos se apresentam publicamente com esta mentalidade, a candidatura de João Benedito é a única que consegue trazê-la para dentro do clube por tê-la efectivamente vivido na gestão desportiva. Curiosamente, é uma candidatura compreensivelmente descrita como portadora do "ADN do clube" (recordando o exemplo fundador de Francisco Stromp, numa realidade desportiva diferente) apesar deste tipo de gestores (que conhecem e viveram, de facto, a performance e gestão desportiva) nunca ter vingado nas décadas recentes da estrutura do Sporting (um afastamento em trabalho e filosofia que poderá explicar, nem que seja por mera sugestão, a dificuldade em encontrarmos capitães e referências fortes dentro dos grupos de trabalho do Sporting, nomeadamente no futebol).

Se a intenção de profissionalização da estrutura é também um ponto assente da sua candidatura, João Benedito monta uma estrutura mais alargada para o funcionamento do clube. Apesar da importância e intervenção da figura do presidente, terá um vice-presidente exclusivamente para a área do futebol (Carlos Pereira, ex-atleta e treinador da casa que conhece o futebol português e a formação do Sporting) -- um cargo ausente na estrutura de Varandas --, ficando André Cruz mais próximo do balneário e dos jogadores. Por outro lado, Benedito traz ainda a figura de um CEO (chief executive officer), algo envolto em algum mistério, devido à impossibilidade de divulgar o seu nome, e que traz sempre alguns fantasmas de má-gestão na nossa história (devido à importação de agentes do sector bancário para o clube que foram gerindo o Sporting nas últimas décadas...). No entanto, esta decisão responde à necessidade de profissionalização empresarial e do sector corporate do clube, uma área onde os números e a estratégia de gestão estão a milhas dos nossos rivais, respondendo, por isso, a uma necessidade imperativa das estruturas dos grandes clubes desportivos no séc. XXI (não ficando essa necessidade estratégica apenas a cargo de um CFO -- chief financial officer -- como era Carlos Vieira, na direcção anterior, ou como existe na estrutura de Frederico Varandas: um "homem das finanças", logo, com menor visão estratégica em termos de gestão empresarial e desportiva). 

Se a consciência de que o Sporting não é ainda um clube totalmente profissional na sua gestão desportiva e empresarial, a candidatura de João Benedito parece responder de forma mais alargada a esta ideia, preferindo um modelo menos "presidencialista" (ou menos assente na personalidade de um presidente) e, por isso, mais estruturado a uma ideia de longo prazo, não dependendo inteiramente de personalidades e feitios, apesar de uma mentalidade bem vincada, e mais adequada, portanto, à execução de uma estratégia de gestão. Ao mesmo tempo, parece oferecer uma ruptura naquilo que tem sido a história do Sporting, que se tem pautado pela importação, para as suas listas, de pessoas de inegável sportinguismo, vindas de outras áreas da sociedade, mas que trazem desconhecimento quanto à realidade concreta da gestão desportiva. No conceito de Benedito, foi a própria experiência desportiva, dentro das várias áreas de competição do Sporting, que acabou por dar a formação necessária para a gestão executiva de um clube, complementada por uma experiência académica e profissional dos membros da sua equipa dentro e fora do Sporting. É um diagnóstico, a nosso ver, perfeitamente justo quanto aos resultados das sucessivas gestões danosas que o Sporting tem sofrido, e o primeiro a respirar, de forma mais veemente, aquilo que o Sporting acaba por contribuir para o próprio país. A consciência de que a área desportiva precisa de ser profissionalizada é complementada, em paralelo, com o crescimento da sua área empresarial pela presença de um administrador (CEO) que executa uma estratégia de gestão de maneira transversal às áreas não-desportivas, sendo a única candidatura que parece ter essa visão, no seu programa, para cimentar a sua presença no futebol dos grandes clubes (os que jogam na Champions League) e permitir, inclusivamente, que futuras administrações possam dar continuidade ao trabalho de gestão da equipa que vierem a substituir, tal como em qualquer grande empresa. 

Por fim, importa evocar questões de comunicação que foram reproduzidas nas intervenções dos candidatos nas suas aparições públicas, em debates e entrevistas, e nas suas presenças em sessões de esclarecimento nos núcleos. Se a candidatura de João Benedito foi a primeira (ou mesmo a única) a respeitar, e comunicando-o publicamente de forma clara, os interesses de comunicação do Sporting (não comparecendo em debates em canais de televisão -- e sensacionalistas, diga-se, que de muito se alimentaram dos acontecimentos de Alcochete para fazer subir as suas audiências -- antes de comparecer nos debates da Sporting TV), o candidato não assentou a comunicação do seu programa em soundbytes ou frases feitas, expondo-a, por outro lado, a partir da implementação das suas ideias, da sua filosofia, e do método de trabalho concreto de uma equipa unida, parecendo-nos claro, também, que essa mesma comunicação irá espelhar o espírito de execução que pretendem trazer para dentro do clube (não podendo o mesmo dizer-se da candidatura de Frederico Varandas, que não reproduz o mesmo foco nem um pensamento tão desenvolvido e estruturado nas suas comunicações). 

Ao ter presenciado sessões de esclarecimento dos dois candidatos num mesmo núcleo do Sporting, a disponibilidade de comunicação quanto à realidade de todas as áreas do clube e os seus projectos para estas últimas, a profundidade do seu conhecimento e detalhe, o foco e estrutura do discurso e a experiência prática da sua equipa na gestão desportiva deram a entender, de maneira extraordinariamente clara, que, ao contrário do que julgava no início da campanha, não é o candidato Frederico Varandas ou a sua equipa que têm melhor conhecimento sobre a realidade de trabalho do Sporting (e os conceitos de gestão desportiva) nem as propostas mais realistas e concretas para o clube mas sim o candidato João Benedito, o seu plano e a sua equipa (num brevíssimo apontamento, e que serve de mera ilustração, não basta o candidato Frederico Varandas dizer, em resposta aos seus planos para as modalidades, "continuar a vencer", antes de passar para outras questões, e, para estas últimas, "porque quero vencer", antes de ser vigorosamente aplaudido pela sua própria equipa, em vez de expor um método de trabalho com conhecimento de causa sobre as áreas em questão e os planos concretos que existem para cumprir determinados objectivos dentro delas, tal como não existir disponibilidade para uma apresentação oral completa e transversal do seu projecto, ao contrário do que sucedeu na sessão de esclarecimento com o candidato João Benedito, antes de lhe ser feita qualquer pergunta).  

Por todas estas razões, a candidatura "Raça e Futuro" (duas palavras que nos parecem falar para o que se procura tanto dentro do campo, a nível desportivo, como fora dele, a nível de gestão) é aquela que parece ter mais capacidades para, efectivamente, "unir o Sporting", pacificar o clube pelos seus interesses (e não pelas suas personalidades) e, sobretudo, conseguir governá-lo com uma estratégia de gestão desportiva que se encontra, olhando para as duas equipas, nas mãos de quem efectivamente a experienciou e deseja continuar a trabalhar nela ao longo da sua vida, mostrando uma ideia de desenvolvimento desportivo e estrutural com um conhecimento de causa verdadeiro e realista em todas as áreas do clube. Depositarei, por isso, os meus nove votos na lista A, candidatura de João Benedito, nas eleições do próximo dia 8 de Setembro.

domingo, 3 de junho de 2018

Crónica de (mais) uma crise anunciada

Já tínhamos referido, neste blogue, que o maior problema do actual presidente do Sporting era a sua gestão de expectativas. O que nunca tínhamos pensado era que chegássemos ao ponto do qual todos temos conhecimento: mensagens públicas, em redes sociais, a criticar jogadores (ao nível de treinador de bancada) e a anunciar a sua suspensão colectiva, mensagens privadas com ameaças e assédio moral, e, por fim, um acontecimento trágico na Academia de Alcochete, com agressões e ameaças de morte, ao qual a sua reacção pública se resumiu a um "foi chato", "o crime faz parte do dia-a-dia" e "amanhã é outro dia". Sejamos racionais: ao ler os detalhes que vieram a público (incluindo aqueles descritos nas cartas de rescisão já entregues), é fácil entender que nenhum destes jogadores sente condições para continuar a jogar no Sporting com uma administração que se recusa a reconhecer um gravíssimo problema de relacionamento profissional (algo que se alastrou, como se viu, a uma parte dos seus adeptos) e que desvaloriza um problema de segurança que compromete a sua integridade física e moral.

Bruno de Carvalho aprecia as guerras e sente-se cómodo em posição de confronto. Hoje, dividiu o clube ao meio e vemos uma boa parte da bancada solidária com os jogadores, reconhecendo o seu profissionalismo, e outra parte que os ataca por não lhes terem dado vitórias apesar dos seus salários milionários, justificando, com isso, as várias conquistas nas modalidades e a dedicação desses atletas ao clube. De um lado, a racionalidade, do outro, uma lógica de "presidente-adepto". Ao contrário do que o próprio referiu em entrevista ao Expresso, o "presidente-adepto", no futebol profissional, não é o futuro. O mundo do futebol, aliás, está cada vez mais longe do mundo dos adeptos, muito por culpa da enorme quantidade de dinheiro que nele circula. E a indústria do futebol português, em particular, encontra-se cada vez mais reduzida a uma "segunda liga europeia": ou seja, onde os futebolistas formados (e outros vindos de outros continentes) vêem as equipas portuguesas como o lugar adequado para crescer e jogar futebol, junto de adeptos que os adoram e num país com qualidade de vida, antes de uma eventual oportunidade numa das maiores ligas europeias com o contrato das suas vidas (Inglaterra, Espanha, Itália ou Alemanha). Esta é a realidade do mundo do futebol, e quem se recusar a gerir activos dentro dessa consciência de forma consciente, inteligente e equilibrada, está condenado ao insucesso. É também essa a razão pela qual não faz sentido comparar o universo do futebol com o de outras modalidades desportivas, pois são realidades financeiras e competitivas totalmente diferentes (onde o chamado "amor à camisola", num mercado bem menos atraente, consegue falar mais alto). 

Não dizemos, com isto, que o Sporting deve desbaratar os seus jogadores como fazia num passado recente, pois deverá sempre defender os seus interesses (algo que este presidente soube felizmente repôr no primeiro mandato). Mas é totalmente descabido insultar jogadores e acusá-los de falta de profissionalismo quando a causa pelo insucesso não passa, de todo, por aqui. Neste ponto, os sportinguistas lembram-se bem do primeiro ano de Jorge Jesus na equipa, o período de melhor futebol do Sporting em largos anos. A quebra da qualidade do jogo da equipa, para além de uma má estratégia administrativa na época subsequente (com contratações que deixaram muito a desejar), deve-se, em grande parte, à mudança de perfil dos jogadores que jogavam dentro de campo. Com a saída de João Mário, Teo Gutiérrez e Slimani, o Sporting perdeu mobilidade posicional e qualidade com bola (incluindo Slimani, que muito evolui com Jesus), trazendo Bas Dost como substituto: um grande goleador mas um jogador que obriga o grupo a jogar de forma totalmente diferente (um jogo mais directo, a servir um típico "jogador-alvo", e que implica menos circulação de bola, menos mobilidade, obrigando maior criatividade, nos jogadores com funções atacantes, para desbloquear uma marcação apertada e a rigidez posicional da equipa). Se a segunda época foi desastrosa, a terceira já conseguiu trazer outras garantias, sobretudo graças à utilização de jogadores com este perfil: Bruno Fernandes, em primeiro lugar, e Daniel Podence, cuja lesão acabou por coincidir com a queda da equipa no campeonato nacional (assim como a contratação falhada de um segundo avançado de características semelhantes ou, pelo menos, com golo). 

Para além disso, e mais ainda do que vermos uma administração a reagir ao insucesso segundo critérios não-racionais (tendo chegando, com as rescisões por justa causa, a gestão danosa), vemos, neste momento, uma direcção que começa a gerir o clube à revelia dos seus estatutos e, por consequência, de um estado democrático, substituindo, por iniciativa própria, outros órgãos sociais, sem qualquer intervenção dos sócios (um acto ilegal, portanto), para responder a iniciativas de destituição que respeitam, por outro lado, aquilo que está determinado nos estatutos do clube. Como já foi referido noutras plataformas, é o mesmo que o governo português substituir tribunais ou deputados por instâncias e pessoas da sua preferência para levar a cabo a sua agenda, sem interferências nem questionamento de acordo com aquilo que a lei determina e contrariando, assim, o princípio sagrado da separação de poderes. Se a perspectiva do Sporting ficar sem plantel de futebol profissional já era suficientemente grave (depois de ter visto chegar uma rescisão, por justa causa, da sua maior lenda actual), a realidade mostra-nos ainda que a actual direcção do clube está a tomar conta do Sporting de forma anti-democrática e contra os poderes dos sócios. Se os sportinguistas não tomarem conta do clube, não haverá razões para se continuar a gostar deste desporto que tanto amamos. E esse é o derradeiro limite da nossa paixão.

sábado, 20 de janeiro de 2018

19ª jornada: Vitória de Setúbal - Sporting (1-1)

Há uma grande diferença na sensação de ver um campeonato um pouco mais longe entre os adeptos dos três grandes, e a diferença é que, para um sportinguista, dois pontos desperdiçados num campeonato onde todos os pontos valem ouro trazem o peso de 16 anos sem se ver o título de campeão. Esta é, obviamente, uma reacção puramente emocional (não fosse o futebol assim). Mas é racionalmente que se devem fazer as análises aos jogos e à carreira desportiva de um clube (coisa que desaparece, precisamente, num período tão grande de jejum). A verdade é que o Sporting, talvez pela primeira vez em todos esses anos, começa a ter qualidade individual, em todos os sectores do seu plantel, e uma profissionalização da sua estrutura que pode rivalizar, de facto, com a dos seus maiores adversários. Do mesmo modo, começou a ter argumentos financeiros, a partir desta época (e numa altura em que o futebol se transformou quase exclusivamente num concurso de dinheiro), para competir no mercado com outros clubes da mesma ambição. Repito: em 16 anos, num período em que o futebol se profissionalizou e transformou radicalmente, e em que o Sporting não soube acompanhar essas mudanças, esta é provavelmente a primeira época em que todos os recursos da gestão financeira e desportiva do clube conseguem estar à altura das suas ambições. 

Sendo assim, o que correu mal em Setúbal? Em duas palavras: eficácia e desconcentração. O Sporting jogou o suficiente para sair de Setúbal com uma vantagem de dois ou três golos. A presença de Rúben Ribeiro, apesar de discreta na "nota artística", conferiu maior criatividade e uma maior ruptura das linhas defensivas do adversário no sector central do terreno (assim surgiu o primeiro golo). Até aos instantes finais da partida, a ausência de concretização de outras oportunidades levou a que chegássemos ao período de descontos com apenas um golo de vantagem, resultado sempre perigoso em jogos fora, e contra equipas trancadas, devido ao perigo das bolas longas e do contra-ataque de três toques. Falhou, por isso, a pressão no portador da bola do Setúbal, que lança passe longo para Edinho, e falhou, também, a atenção na linha de fora-de-jogo, por parte da linha defensiva, que resultou num controlo deficiente da profundidade. Questões mais do que treinadas nesta equipa e que não podem imputadas, de maneira nenhuma, ao treinador (e é também por estas questões, no ataque, que Jesus pediu um avançado para "casar" com Bas Dost, um extraordinário finalizador mas que tem muitas dificuldades em concretizar fora da área, em remate cruzado ou ainda em corrida, ficando a equipa mais dependente de si). 

Com todos os seus defeitos, Jorge Jesus tem feito tudo nas suas capacidades, com os jogadores que tem em mãos, para chegar ao título. Nos seus melhores momentos (e não são poucos, apesar da desilusão da época passada), o Sporting jogou o melhor futebol que se viu em largos anos em Alvalade. Estar a deitar-lhe culpas para cima ou criticar a ausência de substituições neste jogo (que nada mudariam) não faz sentido: é uma crítica emocional, não racional. O Sporting fica agora proibido de perder mais pontos até à deslocação ao Dragão e o seu resultado, nesse campo, ganha outra importância. É também disso que se fazem as equipas campeãs, as únicas que não desistem (sobretudo com uma distância de quatro pontos -- mais vale assumi-los -- com 15 jogos por disputar no calendário). Temos todos os recursos para isso, apesar dos grandes obstáculos que se apresentam, e quando assim é, os resultados vêm com frieza e trabalho. Por isso: keep calm and carry on.

domingo, 24 de setembro de 2017

7.ª jornada: Moreirense - Sporting (1-1)

A boa notícia que se retira deste empate é que os primeiros pontos perdidos, neste campeonato, foram apenas à sétima jornada (e num jogo fora), o que não deixa de ser um bom arranque. A má notícia é que ficam expostas algumas deficiências no plantel e, é preciso dizer, alguma má leitura na abordagem a este jogo. É preciso dizê-lo: os jogadores não são máquinas e, depois de um arranque de época intenso (bem mais do que os nossos rivais), Jorge Jesus tem de rodar a equipa para conseguir gerir a disponibilidade física dos seus jogadores, e antes de uma dupla jornada com Barcelona e Porto, o jogo fora com o Moreirense não podia apresentar o mesmo onze inicial que muitos dos jogos anteriores. No entanto, espera-se, também, que o treinador saiba tirar as devidas leituras deste jogo para o futuro.

Hoje percebe-se que o onze mais forte, do Sporting, é com William Carvalho e Battaglia nas zonas centrais do terreno e Bruno Fernandes mais próximo do ponta de lança. Quando o jogador argentino entrou em campo, o Sporting tornou-se uma equipa mais equilibrada e, também, mais perigosa. No entanto, a ausência de Fernandes (a exibição mais discreta da época), devido a substituição, fez com que o jogo se tornasse mais directo e menos esclarecido na recta final, não conseguindo o Sporting ganhar, também, por ter faltado a sorte que existiu nas últimas vitórias sofridas (e algumas arrancadas nos últimos momentos do jogo). Alan Ruiz continua a ser uma peça a menos na equipa, apesar da sua técnica, e Bruno César, na ala esquerda, traz um jogo mais previsível e menos criativo. Iuri Medeiros teve, infelizmente, uma exibição lamentável, daquelas em que os adeptos se perguntam onde é que anda a cabeça do jovem jogador. O jovem português tem um talento inegável com a bola nos pés, mas as suas primeiras exibições com a camisola do Sporting, e num contexto obrigatoriamente mais difícil do que nas equipas para onde foi emprestado, parecem mostrar que não se encontra ainda mentalmente focado. As suas perdas de bola nos últimos minutos do jogo, com tempo e espaço para assistir a equipa para um golo urgente, são difíceis de explicar para um jogador deste nível.

Esta é a primeira de duas peças que o Sporting precisa de encontrar no mercado de inverno: um extremo-esquerdo para lutar pelo lugar com Acuña. Mas já existe um jogador, no plantel, que traz o rasgo que a equipa necessita: Daniel Podence. O jovem português seria muito importante para tirar Alan Ruiz do onze titular, mas já o vimos jogar nas alas com perigo. Espera-se que Jesus voltar a apostar nele depois de ter recuperado da sua lesão: a equipa é mais perigosa com ele. Continuamos a depender de nós para cumprir os nossos objectivos, e é já na próxima jornada que poderemos ultrapassar o novo líder do campeonato.

Notas: Rui Patrício (7), Piccini (6), Coates (6), Mathieu (6), Coentrão (6), William (7), Bruno Fernandes (6), Bruno César (5), Gelson (6), Alan Ruiz (5), Bas Dost (5), Battaglia (6), Doumbia (5), Iuri Medeiros (4).

terça-feira, 19 de setembro de 2017

6.ª jornada: Sporting - Tondela (2-0)

(fotografia Lusa / Mário Cruz)

Uma equipa campeã é uma equipa que sabe aproveitar todos os momentos do jogo, incluíndo aqueles onde a qualidade individual ajuda a desbloquear resultados. E pela primeira vez em muitos anos, o Sporting conta com dois jogadores, na sua equipa titular, que são exímios nos livres directos à baliza: Mathieu e Bruno Fernandes. Acrescenta-se, também, o facto de cada um bater com um pé diferente: o central francês com o pé esquerdo e o jovem português com o pé direito (não esquecemos, também, que a equipa tem outro especialista no banco de suplentes: Iuri Medeiros). Desta vez, foi Mathieu a concretizar um livre directo de forma espectacular, e para além disso, Bruno Fernandes continua a resolver jogos com remates brilhantes de meia-distância. É também nestes "pormenores", essenciais em qualquer equipa vencedora, que o Sporting se mostra mais perigoso e com mais capacidade para atingir os seus objectivos do que nos anos recentes, o que nos faz pensar, apesar de ainda estarmos no início da época, de que este é o onze titular mais forte da era de Jesus.

O Tondela foi uma equipa pouco pressionante e cedo se viu em desvantagem, o que acabou por proporcionar um jogo tranquilo ao Sporting (com uma calma e um ritmo que a equipa já pedia há algum tempo, dado o pesadíssimo calendário de Agosto). A equipa ganha uma qualidade completamente diferente com Fábio Coentrão em campo, mesmo sem grande fulgor no ataque (Acuña também este discreto em tarefas ofensivas, mas foi imperioso na posse de bola, na salvaguarda do ritmo de jogo, e nas tarefas defensivas), e William Carvalho, apesar de um início um pouco tremido, voltou a impôr a sua autoridade no centro do terreno (e que bom que é ter um jogador desta qualidade, com bola, naquela zona do terreno). Para além do golo, Bruno Fernandes cumpriu dois lugares no terreno (ao lado de William e mais perto dos avançados) com criatividade e segurança, mas parece finalmente ser na posição de segundo avançado (ou terceiro médio) que se mostra mais decisivo e interventivo no jogo da equipa (tornando-a muito mais perigosa). Jesus já não deverá fugir do trio William-Battaglia-Fernandes para a maioria dos jogos.

Iuri Medeiros, no lado direito, teve a tarefa inglória de substituir Gelson Martins, mostrando dificuldades em dar sequência ao jogo mas com bons pormenores técnicos (tendo ficado a milímetros de um excelente golo). Gelson e Iuri são dois jogadores totalmente diferentes, trazendo com duas "propostas" de jogo opostas: o primeiro na ruptura e velocidade, o segundo na posse e visão de jogo. Podem ser utilizados para diferentes momentos do jogo (e Iuri não joga apenas na direita), mas este último precisa de mais minutos para sentir-se mais entrosado e confiante (seria vantajoso se jogasse na Taça da Liga).

O jogo tímido dos laterais e extremos, nas tarefas ofensivas, ajudou a que Bas Dost apenas tivesse uma oportunidade de golo. Mas quando antes estávamos dependentes de um homem na frente, agora temos um futebol colectivo muito mais coeso e, consequentemente, mais perigoso (e com três jogadores nos dez primeiros melhores marcadores do campeonato: Bruno Fernandes com 5, Bas Dost com 4 e Gelson Martins com 3 golos). E esse é um dado essencial para os objectivos de um campeonato: uma prova de regularidade onde ganham as equipas que têm mais soluções para os obstáculos diferentes que surgem ao longo da época.

Notas: Rui Patrício (7), Piccini (7), Coates (7), Mathieu (8), Coentrão (7), William (8), Bruno Fernandes (8), Iuri Medeiros (6), Acuña (7), Alan Ruiz (5), Bas Dost (6), Battaglia (6), Gelson Martins (6), Bruno César (6).   

sábado, 16 de setembro de 2017

#DiaDeSporting: Sporting - Tondela

Regresso do campeonato e contra uma das equipas que mais chatices nos têm dado recentemente: nas duas últimas visitas a Alvalade, o Tondela levou dois pontos de cada vez, e os sportinguistas ainda têm na memória o jogo de há dois anos que acabaria por ser decisivo na contagem final do campeonato. Duas vitórias contra Tondela e Moreirense (a jornada seguinte) são o objectivo que a equipa precisa de cumprir para receber o Porto, dentro de três jornadas, e roubar os primeiros pontos a um adversário directo (e com quem partilha actualmente a liderança). Está na hora de ajustar contas. Fábio Coentrão aparenta estar recuperado e Bas Dost deverá também regressar à titularidade num jogo onde será importante a equipa marcar cedo e saber gerir a vantagem (ao contrário do que tem acontecido). Este é o nosso onze:

Rui Patrício, Piccini, Coates, Mathieu, Fábio Coentrão, William, Battaglia, Bruno Fernandes, Gelson, Acuña, Bas Dost.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Comportamento táctico: a importância de Bruno Fernandes na organização defensiva e o jogo em bloco

Excelente post do Lateral Esquerdo sobre o jogo na Grécia (com texto e vídeo). Ler aqui.

Liga dos Campeões: Olympiakos - Sporting (2-3)

O Sporting fez aquilo que nenhuma equipa portuguesa fazia há mais de quarenta anos - vencer em casa do Olympiakos, um terreno tradicionalmente difícil -, sem fugir, contudo, à sua tradição sofredora (e quase deixando fugir uma vitória nos últimos momentos da partida, uma repetição daquilo que têm sido os últimos jogos). Jorge Jesus leu bem as deficiências defensivas do Olympiakos (enormes espaços vazios, no meio-campo defensivo, para poder explorar em contra-ataque) e lançou Doumbia (um golo e uma assistência) e Gelson (um golo), jogadores velozes e perigosos, como as principais referências da equipa. Bruno Fernandes, mais uma vez como elo criativo do meio-campo, deu muito a jogar à equipa, nas costas desses jogadores, e marcou pela quinta vez consecutiva (jogadores destes dão campeonatos), com William Carvalho a controlar e lançar operações com enorme autoridade e Battaglia, mais uma vez, a fazer uma pressão importante sobre o ataque adversário. 

Contra aquela que será uma das versões mais fracas da equipa grega nos últimos anos (o Feirense mostrou-se tacticamente mais culto e organizado do que a equipa grega, apesar de lhe ser inferior em qualidade individual), o Sporting só perdeu o controlo das operações à entrada dos descontos com dois golos do ex-bracarense Prado, muito por culpa (positiva) de Coates, que evitou males maiores em duas ocasiões anteriores na segunda parte (mais uma grande exibição e, desta vez, uma assistência, e que diferença faz, ao ataque da equipa, ter dois centrais que conseguem ser a primeira fase de construção), e, por razões opostas, de Jonathan Silva, que fez figura de fantasma perante o extremo da equipa grega (incompreensível a sua fraquíssima marcação, especialmente no último golo, onde recebeu valentes berros de Mathieu), e por uma das actuações mais fracas de Rui Patrício com a camisola do Sporting, mostrando uma insegurança (com bolas nos pés e entre postes) que já não lhe era conhecida. Críticas à parte, o Sporting fez uma exibição colectiva muito boa que lhe poderia ter dado, com um pouco mais de sorte, cerca de cinco ou seis golos de vantagem aos 90 minutos, o que demonstra a qualidade do seu jogo. Saímos da Grécia com uma demonstração clara de superioridade e de qualidade individual e com uma vitória que, em termos físicos, esperava-se bem mais desgastante. Mérito dos nossos jogadores e da estratégia montada pela equipa técnica.

Notas: Rui Patrício (5), Piccini (7), Coates (8), Mathieu (7), Jonathan Silva (4), William (8), Battaglia (7), Bruno Fernandes (8), Gelson (8), Acuña (7), Doumbia (7), Bas Dost (6), Bruno César (6), Ristovski (-).

terça-feira, 12 de setembro de 2017

#DiaDeSporting: Olympiakos - Sporting

Com Juventus e Barcelona como grandes favoritos, os dois jogos com o Olympiakos serão decisivos para o rumo do Sporting nas competições europeias: uma vantagem favorável nesses dois jogos pode garantir um acesso à Liga Europa, para além de que um bónus financeiro, por duas vitórias, ajuda sempre a tesouraria do clube (tendo duas casas cheias praticamente garantidas nos jogos em casa com os dois primeiros adversários). O campeão grego tem argumentos para vencer, mas o plantel do Sporting é superior e, jogando ao melhor nível, está em condições de garantir duas vitórias para o clube. Pensando nas debilidades defensivas da equipa grega, Jesus poderá apostar, mais uma vez, na titularidade de Doumbia, sendo que Piccini encontra-se também em dúvida, embora não nos pareça que o treinador abdique de Battaglia no meio-campo. Este é o nosso onze:

Rui Patrício, Ristovski, Coates, Mathieu, Jonathan Silva, William, Battaglia, Bruno Fernandes, Gelson, Acuña, Bas Dost.