terça-feira, 11 de maio de 2021
Da felicidade
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021
Jackpot
No último texto, deixámos expresso o nosso desejo de dar tempo ao clube — jogadores, equipa técnica, e administração — para manter o novo caminho escolhido, com a chegada de Rúben Amorim, e oferecer as melhores condições possíveis para o Sporting chegar ao título no próximo mandato. Apenas quatro meses depois, o Sporting fecha metade do campeonato com a sua melhor primeira volta de sempre: 14 vitórias, 3 empates, 0 derrotas, 9 golos sofridos, e um primeiro lugar isolado, na tabela, com uma distância de 6 pontos para o segundo classificado e outra de 9 para o terceiro.
Não existe nenhum sportinguista, neste momento, que não esteja já a pensar mais alto. É esta a natureza do clube. A nossa satisfação, contudo, não se prende apenas com o actual primeiro lugar: prende-se com a maneira como lá chegámos. Depois de uma época a lembrar o pior de Godinho Lopes, Frederico Varandas colocou todas as fichas no novo treinador-sensação da liga e tornou-o num dos técnicos mais caros da história do futebol. Uma aposta de enorme risco — a maior de um mandato até aí errático e frustrante — e que ultrapassou, até agora, todas as previsões e expectivas. Rúben Amorim, com o seu perfil e as suas decisões, trouxe, à direcção, aquilo que ela tinha prometido antes das eleições: uma equipa que junta a qualidade da formação a contratações cirúrgicas (com correspondência a um modelo de jogo) e que personifica, dentro e fora de campo, o compromisso exigido pelos objectivos do Sporting. Depois de uma "pré-pré-época", o novo mercado de Verão traria alguns dos melhores jogadores do campeonato fora do trio dos clubes grandes e o mercado de Janeiro conseguiria preencher, também, as últimas peças do puzzle (sobretudo a mais flagrante: a do avançado), conseguindo-se estreitar nacionalidades, por fim, para potenciar uma melhor comunicação no grupo.
O carisma de Amorim é óbvio e a empatia que consegue com os jogadores é outra das razões para o seu sucesso. Antes disso, contudo, devolveu uma identidade ao nosso futebol, ensinou os jogadores a defender e a atacar em bloco (algo que já não acontecia desde... Jorge Jesus), e introduziu uma mobilidade, no trio da frente, que garante variabilidade e criatividade a uma estrutura bem definida. Independentemente do resultado final deste campeonato, o jackpot do Sporting é esse: onde o clube tremia, dentro e fora de campo, hoje parece sólido, confiante, e seguro, fruto da competência da sua equipa técnica e, também, de uma direcção que lhe deu espaço e tempo para trabalhar. Tão grande quanto o nosso desejo para o final desta maratona, em termos desportivos, é o desejo de que Amorim e a sua filosofia de trabalho deixem uma influência na profissionalização da estrutura do futebol do Sporting. Quando todos sabem o que querem e somos fiéis a uma identidade, dentro e fora de campo, os resultados acabam por aparecer. Para já, celebremos esta primeira vitória. O clube merece.
quarta-feira, 7 de outubro de 2020
Um mercado (quase) bom
segunda-feira, 27 de julho de 2020
Desunir o Sporting
As palavras do presidente do Sporting, proferidas no início desta longa época desportiva, revelaram um traço que deixou poucas saudades: uma reacção a críticas ao seu trabalho que prefere, em vez da auto-crítica humilde, insultar sócios e adeptos com o direito a exprimir a sua insatisfação quanto ao rumo do clube (tendo ou não razão para tal). Os sócios pagam quotas e gameboxes em condições económicas difíceis e merecem respostas à altura da instituição que o presidente dirige. Frederico Varandas não é a última Coca-Cola do deserto nem é, muito menos, a única pessoa no universo sportinguista com capacidades para gerir os destinos do Sporting de uma maneira que deixe os sócios satisfeitos. A sua posição traz responsabilidade e deveria trazer humildade perante um universo que junta mais de 100 mil sócios e 3 milhões de adeptos e simpatizantes.
A principal contestação ao seu trabalho tinha sido, precisamente, o facto de vencer eleições com um lema ("Unir o Sporting") que pretendia juntar um clube fracturado e de ter decidido ignorar essas intenções às primeiras críticas. Devido ao contexto em que anunciou a candidatura, já tínhamos aqui apontado que teria de escalar uma enorme montanha para conseguir responder à sua primeira missão. Depois da vitória eleitoral, a sua comunicação preferiu falar mais vezes do passado do que aquilo que implementou, estruturalmente, no presente do clube, justificando-se com o estado em que Bruno de Carvalho havia deixado o Sporting, na consequência dos incidentes de Alcochete, para explicar os seus insucessos. No entanto, se Frederico Varandas achava que comparar legados iria fazer unir o clube à volta da sua candidatura, cometeu aí o seu primeiro erro, pois se 71% dos sócios votaram na destituição do anterior presidente, nunca é demais relembrar que 90% da mesma massa associativa votou na mesma pessoa, um ano antes, para lhe entregar um novo mandato após uma extraordinária recuperação financeira, desportiva e patrimonial que enterrou um plano de falência já em curso.
O segundo erro, como também previmos no mesmo texto, seria acreditar que o Sporting precisava apenas de uma mudança de perfis, com a mesma estrutura, para se tornar num clube vitorioso no futebol. Um dos problemas da administração de Bruno de Carvalho foi, precisamente, depender demasiado de um "regime presidencialista": um modelo ultrapassado, no futebol moderno, que torna a gestão de um clube demasiado dependente dos temperamentos de uma pessoa. O Sporting, como qualquer clube com ambições, precisa de uma estrutura alargada e profissional com elementos capacitados para funções de gestão desportiva, algo que não se ganha pela obtenção de créditos por equivalência por se ter atravessado corredores de um clube que nunca teve, precisamente, a estrutura de que precisava. Ao mesmo tempo, Varandas deixou-se rodear de simpatizantes do seu trabalho que se vangloriam, em comunicações públicas, de terem tornado o Sporting num clube mais de acordo com a sua "elevação", algo que apenas reforçou a "luta de classes" e tensões num clube que, fundado com o dinheiro de um visconde e por iniciativa de atletas, se tornou num emblema de popularidade nacional e transversal a todas as classes. Decididamente, os complexos sociais destes adeptos "notáveis" ainda influenciam, e de que maneira, a vida do Sporting, algo que está na base de uma longa guerrilha interna que motiva adversários e que atira o Sporting para a irrelevância.
Em dois anos de mandato, Frederico Varandas trouxe 14 jogadores para a equipa principal: Idrissa Doumbia, Cristian Borja, Tiago Ilori, Luiz Phellype, Valentin Rosier, Rafael Camacho, Eduardo Henrique, Jesé, Bolasie, Luís Neto, Fernando, Luciano Vietto, Gonzalo Plata e Andraz Sporar. Destes, apenas dois (Plata e Sporar) entraram no onze inicial no último jogo do campeonato (Neto substituiu Coates após lesão no aquecimento). Está espalmada, aqui, todo o falhanço de uma gestão desportiva que recorreu ao promissor treinador do Sporting de Braga (o quarto na mesma época), a troco de 10 milhões de euros (!), para tentar ultrapassar esse clube e conseguir uma entrada directa na Liga Europa (não conseguiu). Rúben Amorim, por sua vez, tem feito os possíveis para preparar a próxima temporada. Não tendo qualidade individual para um modelo de jogo interessante mas também exigente, encontrou um contexto indesejado mas "perfeito" para apostar na nova geração a sair de Alcochete: jogadores com talento mas demasiado inexperientes para carregarem todas as nossas esperanças em conseguirmos, na próxima época, algo melhor do que um lugar que desonre o clube.
Saberão Frederico Varandas e Hugo Viana enriquecer o plantel com jogadores que façam a diferença? Braga, Rio Ave, e Famalicão, clubes que contribuíram para o recorde de derrotas do Sporting numa só época (17), já têm prospecções mais eficientes e projectos mais sólidos do que aquele que podemos oferecer (que o diga João Palhinha, jogador que se valorizou muito com os anos passados em Braga). Não bastam bons atletas: são necessários jogadores que o modelo do treinador consiga potenciar. Para já, a presidência de Varandas ainda nem mostrou ter capacidade para responder à primeira dessas exigências, fazendo com que a nossa maior esperança, depois do que mostrou na primeira época planeada por si, recaia em que eventuais candidatos às eleições de 2022 (e um em particular) estudem afincadamente os erros do seu mandato para apresentarem um projecto de profissionalização do clube que esteja à altura do Sporting que todos merecemos.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2019
Futebol? Um desastre.
Antes de ser eleito, apontámos os nossos receios em ver uma proposta de estrutura que se mantinha demasiado centrada nas disposições de uma única pessoa. Se Varandas delega decisões em vários departamentos, o futebol, apesar de assessorado por Hugo Viana, passa apenas por si. Mais ainda, após um contacto directo com candidatos em sessões de esclarecimento, notámos que Varandas apresentava uma enorme convicção quanto ao seu papel no clube mas um conhecimento pouco transversal e detalhado das diferentes complexidades da gestão desportiva (nomeadamente num clube com a dimensão do Sporting).
Hoje, passados quinze meses da sua eleição, esses receios confirmam-se. De um lado, vemos um presidente que demonstra tiques de arrogância, na comunicação, que lembram defeitos do seu antecessor, e uma estratégia que, em vez de unir um universo de sportinguistas dividido por uma destituição e um evento traumático (como ainda se nota, com grande evidência, nas últimas votações em Assembleia Geral), prefere ser o presidente da "maioria silenciosa" contra uma "minoria ruidosa", não lhe interessando, como havia prometido em campanha, unir os sportinguistas independentemente das suas votações (com todas as dificuldades que isso pode trazer -- no entanto, é esse o seu trabalho). A própria questão das claques (que repetiram actos violentos depois de um jogo no Pavilhão João Rocha) parece ainda longe de estar encerrada, não parecendo resolver-se, inabilmente, com seguranças à porta dos estádios a retirar cachecóis e despir roupa, em adeptos sportinguistas, com adereços e símbolos desses grupos.
Se o universo extra-futebol tem trazido troféus e reconhecimento internacional ao clube (na continuidade do trabalho da anterior direcção e com a construção do pavilhão), as decisões da sua responsabilidade quanto ao maior activo do clube (a gestão do plantel principal de futebol) tem sido desastrosa. Em pouco mais de um ano, o Sporting já conta com cinco treinadores diferentes, sendo que a principal escolha de Varandas (descontamos Peseiro e os transitórios Tiago Fernandes e Leonel Pontes) recaiu num treinador holandês que se revelou completamente desajustado às exigências de um futebol português bem mais evoluído, tacticamente, do que aquele que existe na Holanda. Se Marcel Keizer trouxe dois títulos saborosos, lembramos que estes foram ganhos à custa de um futebol pobre e sem identidade, que remetia a iniciativa do jogo para o adversário (independentemente do nome), e da intervenção quase exclusiva do seu melhor jogador. Jogando como equipa pequena, o Sporting, a curto prazo, conquistou dois troféus, perdendo, a médio prazo, toda e qualquer organização táctica (defender com muitos não é defender bem) e motivação para os jogadores acreditarem nas suas capacidades em jogar futebol e impor o seu jogo.
Se Keizer foi "o" treinador de Varandas, o actual plantel também é "dele": uma equipa que, depois de várias janelas de mercado, ganhou várias contratações sem valor para o clube, apenas conta com um avançado de raiz, viu dispensados os maiores talentos da sua formação (Matheus Pereira, Daniel Bragança), e onde se investiu, ao contrário do que fora anunciado em campanha, em empréstimos de jogadores caros, sem historial de compromisso, e sem rendimento. Hoje, o Sporting é uma equipa de remendos onde qualquer treinador (uns, como Silas, com melhores ideias do que outros) se vê atado às suas condicionantes, vendo, a partir do banco, como diferentes sectores não se juntam, não constroem, e não oferecem criatividade, tornando qualquer situação de desvantagem, fruto da ausência de opções, numa batalha psicológica dos jogadores contra os seus próprios defeitos.
O Sporting, hoje, é um clube, uma estrutura e um plantel dividido. Vitor Oliveira, treinador do Gil Vicente, disse, com frontalidade, depois da sua vitória por 3-1, que os incidentes de Alcochete vão fazer com que o Sporting demore alguns anos a ter plantéis com a qualidade dos seus maiores rivais. É verdade. O que os incidentes de Alcochete não podem justificar é a manutenção de um clima de enorme divisão dentro da instituição, sem perspectivas de mudança na comunicação e na sua gestão, e uma incapacidade que se pode tornar crónica, devido às suas decisões no presente, em conseguir vencer equipas que lutam apenas pela permanência na primeira liga. Com 13 pontos de atraso para a liderança a 1 de Dezembro, Frederico Varandas parece estar, afinal, em plena aprendizagem de um papel para o qual dizia estar pronto. Pior do que isso, já não lhe restam muitas cartas para convencer o universo sportinguista, em níveis perto de máximos de descrença, que vai conseguir fazer melhor do que isto. Janeiro será o momento para mostrá-las, caso contrário, já sabemos o que nos espera.










