sábado, 20 de janeiro de 2018

19ª jornada: Vitória de Setúbal - Sporting (1-1)

Há uma grande diferença na sensação de ver um campeonato um pouco mais longe entre os adeptos dos três grandes, e a diferença é que, para um sportinguista, dois pontos desperdiçados num campeonato onde todos os pontos valem ouro trazem o peso de 16 anos sem se ver o título de campeão. Esta é, obviamente, uma reacção puramente emocional (não fosse o futebol assim). Mas é racionalmente que se devem fazer as análises aos jogos e à carreira desportiva de um clube (coisa que desaparece, precisamente, num período tão grande de jejum). A verdade é que o Sporting, talvez pela primeira vez em todos esses anos, começa a ter qualidade individual, em todos os sectores do seu plantel, e uma profissionalização da sua estrutura que pode rivalizar, de facto, com a dos seus maiores adversários. Do mesmo modo, começou a ter argumentos financeiros, a partir desta época (e numa altura em que o futebol se transformou quase exclusivamente num concurso de dinheiro), para competir no mercado com outros clubes da mesma ambição. Repito: em 16 anos, num período em que o futebol se profissionalizou e transformou radicalmente, e em que o Sporting não soube acompanhar essas mudanças, esta é provavelmente a primeira época em que todos os recursos da gestão financeira e desportiva do clube conseguem estar à altura das suas ambições. 

Sendo assim, o que correu mal em Setúbal? Em duas palavras: eficácia e desconcentração. O Sporting jogou o suficiente para sair de Setúbal com uma vantagem de dois ou três golos. A presença de Rúben Ribeiro, apesar de discreta na "nota artística", conferiu maior criatividade e uma maior ruptura das linhas defensivas do adversário no sector central do terreno (assim surgiu o primeiro golo). Até aos instantes finais da partida, a ausência de concretização de outras oportunidades levou a que chegássemos ao período de descontos com apenas um golo de vantagem, resultado sempre perigoso em jogos fora, e contra equipas trancadas, devido ao perigo das bolas longas e do contra-ataque de três toques. Falhou, por isso, a pressão no portador da bola do Setúbal, que lança passe longo para Edinho, e falhou, também, a atenção na linha de fora-de-jogo, por parte da linha defensiva, que resultou num controlo deficiente da profundidade. Questões mais do que treinadas nesta equipa e que não podem imputadas, de maneira nenhuma, ao treinador (e é também por estas questões, no ataque, que Jesus pediu um avançado para "casar" com Bas Dost, um extraordinário finalizador mas que tem muitas dificuldades em concretizar fora da área, em remate cruzado ou ainda em corrida, ficando a equipa mais dependente de si). 

Com todos os seus defeitos, Jorge Jesus tem feito tudo nas suas capacidades, com os jogadores que tem em mãos, para chegar ao título. Nos seus melhores momentos (e não são poucos, apesar da desilusão da época passada), o Sporting jogou o melhor futebol que se viu em largos anos em Alvalade. Estar a deitar-lhe culpas para cima ou criticar a ausência de substituições neste jogo (que nada mudariam) não faz sentido: é uma crítica emocional, não racional. O Sporting fica agora proibido de perder mais pontos até à deslocação ao Dragão e o seu resultado, nesse campo, ganha outra importância. É também disso que se fazem as equipas campeãs, as únicas que não desistem (sobretudo com uma distância de quatro pontos -- mais vale assumi-los -- com 15 jogos por disputar no calendário). Temos todos os recursos para isso, apesar dos grandes obstáculos que se apresentam, e quando assim é, os resultados vêm com frieza e trabalho. Por isso: keep calm and carry on.