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quarta-feira, 7 de agosto de 2019

"Um treino de captações com João Félix, Daniel Bragança e Fábio Silva"

"É preciso, de uma vez por todas, que se entenda que há uma diferença fundamental entre lançar jogadores e apostar neles. Em Portugal, todos os anos se lançam muitos jogadores formados nos clubes. Aposta-se em poucos, porém. Se o Fábio e o Tomás, aos 20, não forem unânimes, não será por falta de talento ou trabalho. Porque já mostraram com o seu trabalho que têm mais qualidade que os companheiros de equipa que jogam na mesma posição. Será por - assim como com Daniel Bragança - não lhes ter sido dada a possibilidade, a melhor possibilidade, de adquirirem a experiência necessária para vingarem ao mais alto nível."

Um texto de leitura obrigatória, de Blessing Lumueno, no Tribuna.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Thank u, next


Primeiro jogo oficial da época 2019/20 e o resultado mais avultado, no derby, desde os 7-1, em Alvalade, de 1986. Cinco golos sem resposta, para o Benfica, e o sétimo jogo consecutivo do Sporting sem ganhar desde o início da pré-época. Marcel Keizer começa com aquilo que não teve na temporada anterior -- um tempo de preparação com um grupo de trabalho escolhido por si -- e a equipa revela ainda menor capacidade em desenvolver um futebol com princípio, meio, e fim. Assustadora é a falta de capacidade, também, em resolver o grande problema que a equipa mostrava sob a sua alçada: uma dificuldade gritante no processo defensivo e uma enorme ausência de rotinas colectivas sem bola. Contra uma equipa de transições ofensivas letais, como é o Benfica de Lage, cada jogada do adversário é um potencial cheque-mate, vendo-se o Sporting a abrir espaços e crateras constantes, com avançados (Dost) e médios (Wendel) ora sem instruções ora sem cultura táctica defensiva, à frente de um conjunto de defesas que revelam enormes dificuldades de coordenação (perante o pânico, também, de ver meia-equipa adversária passear na sua grande área). O resultado, para quem acompanhou o futebol do Sporting na época anterior e nas últimas semanas (e já é a segunda goleada que Keizer sofre contra Lage), não é, por isso, completamente surpreendente. Por isso, Presidente, sim, estamos (muito) preocupados.

Keizer terá sido contratado, também, para seguir uma lógica de investimento mais próxima daquela que é (ou era) a matriz do clube: a formação de jovens talentos. Desde a sua chegada, o treinador holandês tem alimentado, também, preocupações compreensíveis por vermos as participações desses jogadores resumirem-se a escassos minutos nas fases finais de cada partida. Na presente pré-temporada, esses atletas, ao contrário de uma integração progressiva dentro de um onze consolidado, têm sido lançados em bloco para jogar, simultaneamente, os últimos dez minutos (se não menos) de cada jogo, dificultando a sua integração nas rotinas colectivas. Desde que abdicou da (melhor) identidade do seu jogo, com os primeiros desaires na época anterior, Keizer preferiu abdicar do elemento de risco no seu futebol para revelar uma faceta resultadista sem ter as melhores ferramentas, no entanto, para consegui-lo (apesar de ter oferecido, com isso, duas taças ao clube, vencidas nos penáltis, e depois de uma vitória, frente ao Benfica, que se revelou um excepcional momento de superação anímica liderado pelo talento individual de um enorme jogador). Com o decorrer da pré-época, o treinador holandês pareceu revelar que esse traço, afinal, não foi apenas circunstancial, mostrando ainda grandes dificuldades em responder a um futebol mais exigente, em termos tácticos e colectivos (sobretudo defensivos), do que aquele que conhecia no campeonato holandês.

Num clube onde cada derrota (sobretudo no presente) é um convite a gritos revolucionários, é da mais elementar necessidade que a actual administração reflicta sobre aquilo que se vê em campo e que não confunda a importância da estabilidade com uma teimosia contraproducente que, com o tempo, poderá revelar-se perigosa. O futebol não só é demasiadamente pobre, para as ambições do Sporting e as opções que existem no plantel (mesmo que inferiores às dos rivais), como a gestão dos seus jovens talentos, por parte do treinador (mesmo que a estrutura de formação e prospecção tenha sofrido mudanças importantes), revela-se difícil de entender (se Matheus Pereira, o melhor extremo do clube, parece ser "uma questão para a administração", como Keizer respondeu em conferência de imprensa, é difícil entender a ausência de minutos de talentos como Daniel Bragança e Gonzalo Plata ou o desaparecimento, ainda, de Miguel Luís, jogador cuja evolução positiva se viu subitamente interrompida). A identidade um clube vencedor é feita, também, com uma dose inteligente de risco: o factor decisivo que, no meio de uma estrutura organizada e de um colectivo eficiente, diferencia os campeões dos vice-campeões (e outros).

De que treinador precisa o Sporting? Um técnico com capacidades suficientes para colocar a equipa a jogar em todos os momentos do jogo (e não apenas um), que conheça o futebol português, que aposte nos jogadores vindos da formação com uma integração positiva (e não apenas utilitária) e que -- algo que um clube desunido agradeceria -- sinta a importância e uma proximidade com o símbolo que leva ao peito. Existe um treinador, justamente, que cumpre esses requisitos e que orienta um clube sem nome e sem símbolo para um estádio vazio na zona de Lisboa. Até à saída de Marcel Keizer, esperemos que nenhuma administração, a Norte ou a Sul do país, acabe por contratá-lo para solucionar os problemas do seu próprio projecto.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

The rise and fall of...

A revista Panenka é uma lufada de ar fresco no jornalismo desportivo. Com mais de 60 números na sua ainda curta existência, a publicação espanhola escreve, acima de tudo, para os adeptos e todos aqueles que se deliciam com histórias em que vida e desporto, nessa fronteira onde nascem os mitos e as lendas, se confundem e perduram na memória de todos. O número 62 é um deleite para todos os que nasceram na década de 80 e começaram a ver futebol com um mítico Milan: o da linha defensiva de Tassotti, Baresi, Costacurta, Maldini, o meio-campo de Albertini e Donadoni, e um ataque composto por Gullit, Rijkaard e van Basten (numa equipa onde também jogava Carlo Ancelotti), todos eles treinados pelo revolucionário Arrigo Sacchi. Nos últimos anos, o Milan foi uma sombra da sua história, e a revista não esquece ninguém nem põe nenhuma pergunta de lado para entender qual será, hoje, o melhor caminho para voltar às vitórias. A resposta, apesar de complexa (e cara para os objectivos do Milan), nunca esquece, também, um dos aspectos mais importantes do futebol e um dos mais discutidos neste blogue... Digamos que a leitura é também recomendada a toda a estrutura do Sporting.

terça-feira, 23 de maio de 2017

Balanço da época 2016/17

A figura: Bas Dost. O holandês não precisou de adaptação para fazer aquilo para o qual foi contratado: marcar golos (e foram 34 no campeonato). Se a equipa se adaptou a ele, já é outra questão. Raras são as que perdem um campeonato com um melhor marcador deste nível (segundo a ajuda preciosa de Rui Miguel Tovar, umas quatro). Este é o tipo de contratação de que o Sporting precisa para enriquecer a sua base: jogadores de qualidade indiscutível e cujo mercado raramente deixa escapar por menos de 8-10 milhões. Faltam três ou quatro (laterais, central, meio-campo).

A confirmação: Gelson Martins. À semelhança de Bas Dost, Gelson exibiu-se a um nível técnico estrondoso. A manter esta evolução, seguramente estará no topo do mundo quando atingir a maturidade necessária no momento da decisão e na participação do jogo colectivo (onde já se mostrou mais objectivo do que no ano anterior). A sua exibição no Santiago Bernabéu lembrou a exibição de Cristiano Ronaldo no jogo inaugural do novo Estádio de Alvalade, em 2003, contra o Manchester United. Gelson será certamente aliciado para outros vôos, mas o clube já tem as suas pérolas protegidas por cláusulas de grande valor (outros tempos).

A esperança: Daniel Podence. Muita qualidade técnica no último passe, no remate, na ruptura de linhas e no envolvimento no jogo colectivo. Um jogador ainda jovem mas que traz algo que muito faltou ao Sporting nesta época: o risco, a procura da baliza, uma bola entregue em condições a quem finaliza. Jesus irá provavelmente voltar a apostar em Alan Ruiz no próximo ano (um jogador talentoso e com futuro), mas é o miúdo que nos faz levar ao estádio para vê-lo jogar, surpreender-nos e sentir o clube.

A desilusão: Por onde começar? Direcção e treinador partilham responsabilidades. No entanto, Jesus pecou nos jogadores pedidos, na gestão da equipa entre jogos domésticos e europeus, nas declarações a chamar valor a si quando a equipa brilhava. Bruno de Carvalho pecou por entregar carta branca ao treinador, crendo que este lhe daria, sozinho (e já), um sucesso tão esperado. Ambos terão de aprender com os erros e olhar para as suas decisões técnicas e para a sua estrutura competitiva (um com mais experiência, outro menos). A chave do sucesso do Sporting, no próximo ano, começa aí.

Positivo: Os sportinguistas. Sempre presentes em todos os momentos: em todos os jogos, em qualquer dia e em qualquer hora, na adesão às eleições, no entusiasmo com o talento que vêem à sua frente, apesar da falta de sucesso. Não há adeptos como estes -- adeptos que fazem um clube crescer desta maneira perante tantas desilusões no currículo. Por fim, a cantera. Os miúdos levantaram o clube na segunda volta e trouxeram alguma estabilidade ao "caos organizado" em que se tinha tornado o balneário.

Negativo: Uma pré-época desastrosa que foi apenas um anúncio para o que vinha mais tarde. O despesismo, na hora de contratar, em valores pouco seguros (o meio-campo), e a ausência de reforços em sectores importantes (as laterais). A transição entre o jogo colectivo do ano anterior e as suas mudanças para este ano (sobretudo com a saída de João Mário). As poucas oportunidades e o discurso hesitante perante o talento da casa. Começamos do zero na próxima época. Tudo pode acontecer até Agosto: assim é o futebol nos dias de hoje. Cá estaremos para outra volta. 

segunda-feira, 15 de maio de 2017

A(s) época(s) seguinte(s)

Pela primeira vez desde que o clube elegeu Bruno de Carvalho a presidente, os adeptos sentem a enorme frustração de uma época perdida em que não se conquistou nenhum título. Se essa frustração acaba por ser, por um lado, muito bem-vinda, pois tal sentimento era, em anos muitos recentes ainda, um conformado encolher de ombros, os sportinguistas sentem que o clube parece, de novo, de rumo indefinido, correndo o perigo de se encerrar em mais um longo ciclo sem glória. Na verdade, a transição desta época para a seguinte bem pode ser o momento mais importante dos próximos quatro anos da vida do clube. 

Bruno de Carvalho ficará como um dos presidentes mais importantes na história do Sporting pelo "simples" facto de ter evitado a sua falência e devolvido, em tempo recorde, os níveis de competitividade que lhe eram exigidos (e depois de uma época em que se chegou a temer a descida de divisão). Por outro lado, se a sua enorme força de vencer, e depressa, funcionou como um impulso tremendo para recuperar uma auto-estima que andava pelas ruas da amargura, algo que levaria o Sporting a cumprir feitos internos tremendos (a entrada no top 5 do ranking mundial de sócios, tendo já ultrapassado os 150 mil, lotações perto de esgotadas em todos os jogos, ou a construção de um pavilhão para as modalidades e responder, assim, ao seu espírito de formação desportiva nacional), essa mesma rapidez, hoje, acaba por ter um efeito perverso nas esperanças dos adeptos face à realidade em que o clube ainda se encontra. Não queremos dizer, com isto, que o Sporting deve pôr de lado o seu desejo de vencer (os clubes grandes não vivem assim). Mas se antes se viu uma enorme recuperação, hoje, já sofremos com a desvirtuação daquela que é uma das principais questões de toda e qualquer liderança política ou desportiva e da sua relação com quem a apoia: a gestão das expectativas. E perante a evidência do falhanço estratégico da época que agora termina, os sportinguistas sentem que foram iludidos perante aquilo que viveram na época passada.  

1.

Nunca ninguém poderá criticar a aposta desportiva em Jorge Jesus e o sentido de oportunidade que o presidente revelou em contratá-lo. Mas tornou-se evidente que a pressa de vencer (e que quase nos deu um título no primeiro ano do treinador), já nos mostra, num prazo temporal mais alargado, as carências estruturais de um clube que deseja manter uma regularidade de vitórias. Curiosamente, carências que também impediram o Sporting (na altura, talvez mais graves ainda) de manter uma regularidade de campeonatos depois de conquistar, no início do milénio, dois em três anos, algo que veio de um momentum anual e não de uma estratégia a médio-longo prazo. Hoje, numa altura em que o futebol está cada vez mais profissionalizado (e em que o sucesso desportivo passa, também, por uma cultura de comunicação, de prospecção, de marcas e de gestão), será necessário ao presidente rodear-se de pessoas cada vez mais profissionais, perspicazes, e exigentes para tomar decisões cada vez menos isoladamente. E se muito se discutiu, no momento da contratação de Jorge Jesus, se o sucesso do Sport Lisboa e Benfica se devia, em primeiro lugar, ao treinador ou à estrutura profissional que o rodeava, hoje já sabemos a resposta: nenhum dos dois venceria sozinho, mas era esta última que dava todas as condições, ao primeiro, para conseguir vencer com regularidade, algo que ainda está por provar na experiência e nas condições actuais do Sporting.

2.

Se as grandes decisões do clube, na transição para a época seguinte, terão de recair a nível da estrutura, é necessária uma comunicação, em todos os departamentos do clube, que se baseie exclusivamente numa cultura e identidade sportinguista sem dependências e colagens a outros. Uma das grandes razões para o insucesso do Sporting nas últimas décadas deve-se, também, à resposta que o clube deu ao sucesso que outros tinham. Ou seja, decisões desportivas e estruturais que vieram em resposta a decisões dos rivais e não na sequência de uma crítica interna, e permanente, ao sucesso interno do Sporting (ou à falta dele). O sucesso de um clube passa, em primeiro lugar, por olhar para dentro e ver aquilo que tem de mais fraco e aquilo que tem de mais forte. Só assim poderá resolver com eficiência, estrutura, e regularidade o que tem de pior para apostar naquilo que tem de melhor (e assim crescer). E perante o sucesso do seu maior rival, o Sporting já não pode responder como fez nas últimas décadas: com um pânico estrutural, e uma obsessão pelos outros, que leve o clube repetidamente ao conflito interno ou à beira da auto-destruição.

3.

Por fim, se a análise da direcção quanto ao desenvolvimento técnico da equipa, nas mãos de Jorge Jesus, terá também de passar por questões estruturais (construindo uma equipa e uma cultura de comunicação que favoreça o seu sucesso), o Sporting terá também de apostar na vantagem que tem em relação a todos os seus adversários: a formação de jogadores. A (talvez) última frustração dos sportinguistas prende-se, precisamente, com este último ponto: não só a mais-valia técnica do seu treinador não se fez sentir este ano, mas as suas decisões técnicas, do início até ao fim da temporada, vão contra a grande vantagem e matriz do clube. Se Jorge Jesus lançou Gelson Martins e Rúben Semedo (nenhum treinador no mundo não apostaria, em todos os jogos, no primeiro a titular), vimos o clube lançar inúmeros e careiros falhanços, sem influência no futuro do clube a não ser o prejuízo financeiro, em vez de jogadores como Daniel Podence (que joga a titular em caso de lesão), Francisco Geraldes, Matheus Pereira, Iuri Medeiros, Ryan Gauld ou Ricardo Esgaio. Apesar da ausência de títulos, o Sporting foi sempre o principal formador de talento do futebol português e o grande responsável pela formação da selecção nacional que conseguiu o primeiro título, a nível sénior, na sua história. Esse sucesso desportivo e humano passa por formar, e para formar talento, é preciso que ele jogue (com todas as suas imperfeições). Se, com o campeonato já resolvido, e com vários jogadores sem motivação (outro motivo de discussão), o treinador acredita que este ainda não é o momento para lhes dar espaço, resta saber quando e se esse quando passará pelo Sporting (ou pela selecção nacional). 

4.

A nova época, com ou sem Jorge Jesus (o Verão futebolístico é longo e dado a paixões da estação), irá começar, mais uma vez, de maneira ingrata para o clube. A tremenda alegria de vencer o Campeonato da Europa trouxe fadiga e férias atrasadas aos principais jogadores do clube e ao nosso meio-campo (o principal motor do jogo). Com uma (seguramente muito difícil) pré-eliminatória da Champions a antecipar a época desportiva e uma Taça das Confederações, com a selecção, a acontecer pelo meio, o Sporting arrisca-se a mais um início de época atribulado e a uma afinação atrasada das várias peças do seu jogo. O clube e a estrutura, mais uma vez, deverão estar à altura de uma gestão exigida a uma equipa grande. E colocar o pé no acelerador sem ter todas as peças afinadas poderá provocar novos acidentes de percurso. Resta saber se os sportinguistas terão paciência para sofrer outras voltas de avanço e, também, para entender as suas razões, pois nem sempre a direcção tem sabido transmiti-lo ou apostar nesse discurso. Uma coisa é certa: lá estaremos para a viagem, e para apoiar o Sporting, com lealdade, visão e inteligência.