No último texto, deixámos expresso o nosso desejo de dar tempo ao clube — jogadores, equipa técnica, e administração — para manter o novo caminho escolhido, com a chegada de Rúben Amorim, e oferecer as melhores condições possíveis para o Sporting chegar ao título no próximo mandato. Apenas quatro meses depois, o Sporting fecha metade do campeonato com a sua melhor primeira volta de sempre: 14 vitórias, 3 empates, 0 derrotas, 9 golos sofridos, e um primeiro lugar isolado, na tabela, com uma distância de 6 pontos para o segundo classificado e outra de 9 para o terceiro.
Não existe nenhum sportinguista, neste momento, que não esteja já a pensar mais alto. É esta a natureza do clube. A nossa satisfação, contudo, não se prende apenas com o actual primeiro lugar: prende-se com a maneira como lá chegámos. Depois de uma época a lembrar o pior de Godinho Lopes, Frederico Varandas colocou todas as fichas no novo treinador-sensação da liga e tornou-o num dos técnicos mais caros da história do futebol. Uma aposta de enorme risco — a maior de um mandato até aí errático e frustrante — e que ultrapassou, até agora, todas as previsões e expectivas. Rúben Amorim, com o seu perfil e as suas decisões, trouxe, à direcção, aquilo que ela tinha prometido antes das eleições: uma equipa que junta a qualidade da formação a contratações cirúrgicas (com correspondência a um modelo de jogo) e que personifica, dentro e fora de campo, o compromisso exigido pelos objectivos do Sporting. Depois de uma "pré-pré-época", o novo mercado de Verão traria alguns dos melhores jogadores do campeonato fora do trio dos clubes grandes e o mercado de Janeiro conseguiria preencher, também, as últimas peças do puzzle (sobretudo a mais flagrante: a do avançado), conseguindo-se estreitar nacionalidades, por fim, para potenciar uma melhor comunicação no grupo.
O carisma de Amorim é óbvio e a empatia que consegue com os jogadores é outra das razões para o seu sucesso. Antes disso, contudo, devolveu uma identidade ao nosso futebol, ensinou os jogadores a defender e a atacar em bloco (algo que já não acontecia desde... Jorge Jesus), e introduziu uma mobilidade, no trio da frente, que garante variabilidade e criatividade a uma estrutura bem definida. Independentemente do resultado final deste campeonato, o jackpot do Sporting é esse: onde o clube tremia, dentro e fora de campo, hoje parece sólido, confiante, e seguro, fruto da competência da sua equipa técnica e, também, de uma direcção que lhe deu espaço e tempo para trabalhar. Tão grande quanto o nosso desejo para o final desta maratona, em termos desportivos, é o desejo de que Amorim e a sua filosofia de trabalho deixem uma influência na profissionalização da estrutura do futebol do Sporting. Quando todos sabem o que querem e somos fiéis a uma identidade, dentro e fora de campo, os resultados acabam por aparecer. Para já, celebremos esta primeira vitória. O clube merece.
