As expectativas eram baixas, depois do desastroso planeamento da época anterior, em relação ao novo mercado de transferências: um conjunto de más decisões, entre contratações, empréstimos, e dispensas, para além de quatro treinadores, que fizeram da primeira época inteira da administração de Frederico Varandas uma das piores do currículo desportivo do clube (talvez apenas ultrapassada pelo famoso 7.º lugar de Godinho Lopes). Se uma das suas piores decisões conseguiu mesmo ser repetida (a indesculpável incapacidade em reforçar o plantel com um novo avançado, fazendo com se inicie a época sem um avançado-centro da confiança do treinador), é importante afirmar, ainda assim, que as restantes abordagens ao mercado foram positivas.
De todos os sectores, o meio-campo foi aquele que sofreu maiores transformações: Palhinha, Matheus Nunes, Daniel Bragança, Pedro Gonçalves e João Mário formam um interessantíssimo grupo de jogadores, sobretudo após a chegada deste último. Talvez uma das maiores cartadas deste defeso, o internacional português, formado em Alcochete, é um elemento que eleva o plantel do Sporting para um patamar superior e permite encarar a luta pelo terceiro lugar (que dá acesso, este ano, à pré-eliminatória da Champions) com outra estabilidade e confiança. Desejoso de participar no campeonato da Europa (a realizar-se no próximo ano), João Mário trará a determinação necessária para aumentar índices de competitividade e ajudar jovens jogadores, à sua volta, a ganharem experiência e conhecimento sobre o jogo. Nas alas, a dupla do meio-campo (que poderá variar consoante as necessidades defensivas ou ofensivas) será acompanhada por dois laterais que têm todas as capacidades para construir e fazer chegar a bola a zonas de finalização: Porro (jogador que, ainda assim, apresenta carências defensivas) e Nuno Mendes, um jovem de 18 anos que já espalha magia, nos relvados, e que poderá vir a ser um dos melhores laterais esquerdos do futebol internacional.
Com a inexistência de uma referência ofensiva indiscutível (a última peça que tornaria o plantel do Sporting numa equipa verdadeiramente competitiva), Rúben Amorim tem trabalhado uma grande variação posicional no trio da frente. Entre Pedro Gonçalves, Tiago Tomás, Tabata, Plata, Nuno Santos (mais adequado à ala), Vietto ou Jovane (estes dois frequentemente adaptados à posição de "falso nove"), o Sporting consegue dinâmicas ofensivas interessantes que dão a volta, de certo modo, à ausência de um avançado que seja o centro do seu jogo (alguém que se envolva na construção, que crie, e que finalize: um avançado completo que não é Sporar, ainda pouco agressivo e algo ausente, ou Luiz Phellype, mais focado no momento da finalização e menos no envolvimento com os colegas).
A baliza foi reforçada com Adán, alguém que, apesar da má exibição frente ao LASK, traz segurança à defesa e permitirá outra evolução a Luís Maximiano, guarda-redes jovem de enorme potencial. É na defesa, por fim, que se encontram os elos mais fracos: Feddal (bom no passe mas fraco nas abordagens defensivas e na decisão) e Neto (eficiente no compromisso defensivo, mas pouco mais). Talvez seja demasiado pedir a Amorim para rodear Coates com dois excelentes mas inexperientes defesas: Eduardo Quaresma e o esquerdino Gonçalo Inácio. Compreende-se a decisão de proteger a evolução de jogadores que, ainda no ano passado, jogavam na Liga Revelação e transitaram directamente para o futebol sénior. Mas é em ambos que existe maior qualidade para a linha defensiva e a sua capacidade de construção (essencial numa linha de três centrais). A eles pertencerá o futuro (próximo) da defesa do Sporting.
Uma nota final para as questões financeiras: conhecidas as dificuldades do clube, o Sporting optou pela compra de 50% do passe em várias das suas aquisições, um modelo de gestão que dificulta a rentabilização de activos no futuro. Com uma gestão cuidada, ao longo da época, e uma possível (mas difícil) qualificação para a Liga dos Campeões, talvez o Sporting consiga reforçar esses investimentos, manter a base do plantel, e trazer dois ou três jogadores que reforcem as carências ainda existentes. Esta parece ser, finalmente, a primeira época de transição para o Sporting do futuro. Resta à administração preservar o caminho traçado e oferecer, no próximo mandato, as melhores condições possíveis para termos uma equipa que permita lutar pelo título.
