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quinta-feira, 18 de maio de 2017

As três primeiras contratações para 2017/18

O Sporting já apresentou três jogadores para a próxima temporada, um sinal de que a época já começou a ser planeada há muito (surpreendente seria se não o fosse) e de que o clube não deseja passar mais uma pré-época com um lote reduzido de jogadores (e surpreendente seria, atendendo aos hábitos de presidente e treinador, se não viessem vários outros até ao final do mês de Agosto).

André Pinto, a primeira contratação a ser anunciada, é um bom central da Primeira Liga e um jogador que deverá lutar pela titularidade. Apesar de outras lacunas gritantes no onze inicial, a irregularidade e inexperiência de Rúben Semedo regressaram em força este ano, o que, apesar de outras características que fizeram dele um dos centrais mais interessantes do ano transacto (velocidade, poder físico e saída de bola), e graças às quais muitos reclamaram uma primeira convocatória para a Selecção Nacional (e bem precisa, a Selecção, de uma nova geração de centrais), vieram a criar novos problemas na defesa do Sporting. Aqui, usamos o mesmo argumento da formação: um jogador com talento só evolui se jogar. No entanto, a posição de defesa-central é das mais críticas no que toca a experiência e o rigor táctico, percebendo-se que o clube queira reforçar as suas opções nessa zona do campo. O que desejamos é que Rúben Semedo aumente os índices de competitividade e a sua luta pela titularidade venha a ajudar não só o clube como o próprio jogador. André Pinto é bem-vindo a essa luta.

Ainda na defesa, Cristiano Piccini vem fazer concorrência a Schelotto no lugar de lateral-direito. Esta será, provavelmente, a contratação que levanta mais cautelas. Ao contrário do que a maior parte dos críticos indica - e perguntamo-nos até que ponto será válido fazer uma crítica a um jogador que nunca vimos jogar -, não nos insurgimos contra um valor como este (3 milhões de euros) por um lateral, uma posição que, hoje em dia, tem uma importância tão decisiva, dentro do jogo, como qualquer outra que exija condução, técnica ou organização (e um bom lateral, no mercado internacional, pode custar pelo menos o dobro). Piccini aparenta ter características semelhantes às que foram associadas a Schelotto no momento da sua chegada. Resta saber se tem capacidades técnicas superiores às do seu compatriota e se irá oferecer um maior envolvimento nas manobras colectivas ofensivas, lacunas gritantes que fazem para já, de Schelotto, uma opção de recurso para a exigência competitiva do Sporting.

Resta-nos aquela que será a contratação mais interessante, não só pelas exibições apresentadas na Primeira Liga como, também, pela jovem idade e potencial que apresenta em termos desportivos (o que também significa, hoje em dia, um potencial financeiro). Mattheus destacou-se no Estoril como um dos seus jogadores de maior capacidade técnica e poder de remate (e marca bem livres, uma das lacunas principais do plantel do Sporting - o jogador com maior talento no campeonato para fazê-lo esteve emprestado ao Boavista: Iuri Medeiros...). À partida, irá concorrer para o lugar de segundo avançado (logo, com Alan Ruiz e Daniel Podence), de extremo (Bruno César ou Bryan Ruiz), ou, arriscamos nós (e conhecendo as experiências de Jesus), para a posição 8, embora tenhamos dúvidas sobre as actuais capacidades físicas e de intensidade de jogo para fazê-lo no imediato. A contratação de Mattheus poderá também indicar a saída de algum jogador do plantel, e não nos espantaria se isso acontecesse no lado esquerdo do ataque ou mesmo no meio-campo.

Por fim, e em comum a estas três contratações, nenhuma delas parece representar uma entrada óbvia no onze inicial (sendo a posição de lateral direito a mais urgente - e aguardamos ainda uma solução para o outro flanco). Tal como já escrevemos, acreditamos que o clube tem soluções, dentro de casa, para lugares no ataque e no meio-campo (faltando, a nosso ver, um outro avançado que acompanhe Bas Dost e que permita, a Gelson Dala, uma primeira época a titular na Primeira Liga). Mas com os números desastrosos da defesa nesta época, urge encontrar soluções de qualidade técnica para entender os processos exigentes do treinador e participar no jogo colectivo da equipa. Fica a dúvida se o clube fará as contratações cirúrgicas para tal, de forma a enquadrar os jogadores da formação, ou se irá optar pela mesma atitude do ano passado, no mercado, que implicará um muito maior atraso no reforço das rotinas de jogo (e que muito ajudou à queda da equipa).

terça-feira, 16 de maio de 2017

A quebra na qualidade de jogo na era de Jesus

Uma das questões pouco faladas quando se discute a quebra na qualidade de jogo do Sporting entre a época passada e a que agora termina está no desaparecimento do jogo interior. Mais ainda do que as contratações falhadas que pouco ou nada acrescentaram à equipa (com a excepção óbvia de Bas Dost), o Sporting passou a jogar com jogadores diferentes que trouxeram um jogo diferente. Há questões que saltam à vista: os jogadores jogam mais afastados uns dos outros, há menos entre-ajuda e solidariedade, e as decisões que cada um tomam, por consequência, parecem menos eficientes. 

No ano passado, o Sporting jogava com Slimani a primeiro avançado, jogador cuja palavra "solidariedade" estava escrita na alma, com Teo Gutiérrez a apoiar, e, como falsos extremos, João Mário e Bryan Ruiz. Até André Carrillo, nos poucos jogos que fez com a equipa, entrava constantemente da faixa para o centro do terreno, um movimento que fez explodir o jogo de João Mário e fazê-lo concentrar-se nos seus melhores atributos: a organização de jogo e o último passe (em vez de ser obrigado a finalizar como lhe era pedido no 4-3-3 de Marco Silva, algo que não está nas suas características). Nesta época, a saída de João Mário deu entrada a um endiabrado diamante: Gelson Martins. Com Gelson, um extremo de estonteante técnica e velocidade, o Sporting ganha muito na imprevisibilidade (algo que lhe faltava no ano anterior) mas perde na troca de bola, na tomada de decisão e no último passe (algo que só pode ser trabalhado com o tempo). Com a saída de Teo, um "patinho-feio" que pecou pela falta de golo na primeira volta do campeonato mas que era essencial nas manobras centrais e no posicionamento da equipa, entrou Alan Ruiz, jogador talentoso mas pouco adaptado ao ritmo de jogo do Sporting. Dost também precisou do seu tempo de adaptação e só agora aparece mais envolvido nas manobras ofensivas.

Dito isto, não há como negar: se a equipa apresentava um forte jogo colectivo no ano passado (como não se via em Alvalade há muitos anos), hoje, dez jogadores jogam para um jogador-alvo (Dost), que espera e desespera para que lhe cheguem bolas em condições, bolas essas que lhe são entregues com maior distância do que as que chegavam a Slimani (aumentando, assim, o risco de falhanço). Estas, ao contrário do ano anterior (e de um jogo apoiado pelo centro), chegam, portanto, com mais metros de distância, a partir das faixas, e sem jogo apoiado. Pior ainda, os dois laterais da equipa não parecem capazes de acompanhar o jogo ofensivo e arriscar movimentações com os respectivos extremos ou o meio-campo, preferindo correr até ao fim da linha, arriscar o um-para-um, e mandar para bola para a área à espera que calhe na cabeça de Dost. Schelotto, um jogador que repete constantemente esta decisão, alheia-se, assim, totalmente do jogo de que uma equipa como o Sporting precisaria. Surpreende, também, que este seja o jogo hoje adoptado por Jorge Jesus, alguém que sempre trabalhou outros princípios na sua carreira.

Há dois jogadores no plantel que poderiam "obrigar" o Sporting a jogar de maneira diferente. Francisco Geraldes tem as características que fez de João Mário um grande jogador: alguém que entende o jogo interior como poucos e que pode ser adaptado a uma das alas para aí fazer florescer as suas capacidades de passe, de organização, de posse de bola, e de decisão. Por fim, Daniel Podence, possivelmente um jogadores de maior talento e futuro em todo o plantel do Sporting, é um jogador que vive para rasgar linhas, assistir, e arriscar o remate ao mínimo espaço (e a sua estatura especial encontra-a). Não necessitam de adaptação, estão identificados com o clube, e já pertencem aos seus quadros. Vê-los jogar juntos, num meio-campo apoiado por William Carvalho e Adrien (que agradeceria uma colaboração em zonas do meio-campo onde Geraldes pode entrar), Gelson, Podence e Dost mudaria radicalmente o jogo da equipa, acrescentando-lhe canais de ataque, ruptura de linhas, criatividade e objectividade, e um crescimento que, através da aprendizagem, tocaria muitas mais vezes em altos do que baixos. Para isso, terá o treinador de correr esse risco. São momentos, mais ainda do que os seus planos tácticos, que também definem o seu trabalho.