Mostrar mensagens com a etiqueta Gelson Martins. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Gelson Martins. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 19 de setembro de 2017

6.ª jornada: Sporting - Tondela (2-0)

(fotografia Lusa / Mário Cruz)

Uma equipa campeã é uma equipa que sabe aproveitar todos os momentos do jogo, incluíndo aqueles onde a qualidade individual ajuda a desbloquear resultados. E pela primeira vez em muitos anos, o Sporting conta com dois jogadores, na sua equipa titular, que são exímios nos livres directos à baliza: Mathieu e Bruno Fernandes. Acrescenta-se, também, o facto de cada um bater com um pé diferente: o central francês com o pé esquerdo e o jovem português com o pé direito (não esquecemos, também, que a equipa tem outro especialista no banco de suplentes: Iuri Medeiros). Desta vez, foi Mathieu a concretizar um livre directo de forma espectacular, e para além disso, Bruno Fernandes continua a resolver jogos com remates brilhantes de meia-distância. É também nestes "pormenores", essenciais em qualquer equipa vencedora, que o Sporting se mostra mais perigoso e com mais capacidade para atingir os seus objectivos do que nos anos recentes, o que nos faz pensar, apesar de ainda estarmos no início da época, de que este é o onze titular mais forte da era de Jesus.

O Tondela foi uma equipa pouco pressionante e cedo se viu em desvantagem, o que acabou por proporcionar um jogo tranquilo ao Sporting (com uma calma e um ritmo que a equipa já pedia há algum tempo, dado o pesadíssimo calendário de Agosto). A equipa ganha uma qualidade completamente diferente com Fábio Coentrão em campo, mesmo sem grande fulgor no ataque (Acuña também este discreto em tarefas ofensivas, mas foi imperioso na posse de bola, na salvaguarda do ritmo de jogo, e nas tarefas defensivas), e William Carvalho, apesar de um início um pouco tremido, voltou a impôr a sua autoridade no centro do terreno (e que bom que é ter um jogador desta qualidade, com bola, naquela zona do terreno). Para além do golo, Bruno Fernandes cumpriu dois lugares no terreno (ao lado de William e mais perto dos avançados) com criatividade e segurança, mas parece finalmente ser na posição de segundo avançado (ou terceiro médio) que se mostra mais decisivo e interventivo no jogo da equipa (tornando-a muito mais perigosa). Jesus já não deverá fugir do trio William-Battaglia-Fernandes para a maioria dos jogos.

Iuri Medeiros, no lado direito, teve a tarefa inglória de substituir Gelson Martins, mostrando dificuldades em dar sequência ao jogo mas com bons pormenores técnicos (tendo ficado a milímetros de um excelente golo). Gelson e Iuri são dois jogadores totalmente diferentes, trazendo com duas "propostas" de jogo opostas: o primeiro na ruptura e velocidade, o segundo na posse e visão de jogo. Podem ser utilizados para diferentes momentos do jogo (e Iuri não joga apenas na direita), mas este último precisa de mais minutos para sentir-se mais entrosado e confiante (seria vantajoso se jogasse na Taça da Liga).

O jogo tímido dos laterais e extremos, nas tarefas ofensivas, ajudou a que Bas Dost apenas tivesse uma oportunidade de golo. Mas quando antes estávamos dependentes de um homem na frente, agora temos um futebol colectivo muito mais coeso e, consequentemente, mais perigoso (e com três jogadores nos dez primeiros melhores marcadores do campeonato: Bruno Fernandes com 5, Bas Dost com 4 e Gelson Martins com 3 golos). E esse é um dado essencial para os objectivos de um campeonato: uma prova de regularidade onde ganham as equipas que têm mais soluções para os obstáculos diferentes que surgem ao longo da época.

Notas: Rui Patrício (7), Piccini (7), Coates (7), Mathieu (8), Coentrão (7), William (8), Bruno Fernandes (8), Iuri Medeiros (6), Acuña (7), Alan Ruiz (5), Bas Dost (6), Battaglia (6), Gelson Martins (6), Bruno César (6).   

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

4.ª jornada: Sporting - Estoril (2-1)

Nenhuma pessoa que tenha ido a Alvalade irá esquecer este jogo: em pouco menos de dez minutos, e numa altura em que a vitória já parecia mais do que garantida, o Estoril reduz o jogo para um golo de diferença, é anulado o terceiro golo ao Sporting e, imediatamente a seguir, o Estoril faz a festa do empate pouco antes do video-árbitro anular, mais uma vez, esse golo por fora-de-jogo. Uma montanha-russa de emoções, imprópria para cardíacos, mas que trouxe, com enorme euforia, um sentimento de verdade desportiva que tantas vezes parecia contrariado neste estádio. Estamos, sem dúvida, perante uma nova era no futebol, e o Sporting, com toda a justiça nas suas prestações, é líder no campeonato, à quarta jornada, com quatro vitórias em quatro jogos.

O jogo com o Estoril, em casa, era o último de um mês de ritmo infernal para os jogadores (seis jogos, dois deles decisivos para o resto da época, em três semanas). Jesus percebeu que os melhores tinham de jogar sempre, e ao contrário de épocas anteriores, cedeu menos à rotação que, na teoria, poderia funcionar mas que, na prática, implicaria uma equipa menos perigosa e de rotinas menos bem trabalhadas. Era determinante, por isso, conseguir marcar ainda na primeira parte para não correr atrás do prejuízo, mais tarde, com uma equipa em total quebra física. O ritmo baixo da segunda parte, com o Estoril a arriscar mais e a jogar bem (obrigado a contrariar aquele que seria o seu plano de jogo inicial), deveu-se, precisamente, ao nosso desgaste físico e mental, e os jogadores foram heróis na maneira como conseguiram, apesar de tudo, dar tudo o que tinham e não tinham para sair do campo com mais uma vitória no bolso.

Ainda não entrámos em Setembro e já nos arriscamos a dizer que há um antes e depois, no Sporting, com Bruno Fernandes. O jovem jogador marcou mais um golo fabuloso (um tremendo livre directo a 30 metros da baliza), esteve sempre presente tanto no ataque como na defesa, e parece ser o elemento que faltava, no jogo da equipa, a uma dupla (William e Adrien) que já vinha acusando algum desgaste (e pouca criatividade) no cumprimento das suas tarefas ofensivas. Curiosamente, o Sporting jogou sem os seus dois capitães, e Jesus encontrou, em Battaglia, um médio-defensivo à altura do seu "antigo" modelo de 6: uma muralha que sabota todas as linhas e toda a construção do adversário e que apresenta, de forma decisiva, um acrescento ao jogo aéreo da equipa (defensiva e ofensivamente, tendo ficado à beira de marcar o terceiro golo da equipa).

Sem ser tão vistoso como Fernandes ou Gelson Martins, outro jogador em claro crescendo na inteligência do jogo (a determinar o tempo de jogo, a assistir e a finalizar, e, também, a defender, tal como fez nesta jornada), Acuña já tem estatísticas importantes para quem acabou de chegar ao clube: quatro assistências e um golo (decisivo) que o tornam num jogador essencial na equipa (com muita presença, também, no jogo interior e nas manobras defensivas, embora tenha caído, fisicamente, na recta final da partida). Sobretudo, Acuña entende o jogo, sabe colocar a bola para o último remate, e não deixa, simplesmente, que a roubem dos pés em momentos de pressão, algo que não se pode dizer, da mesma maneira, de Alan Ruiz, um jogador inteligente e tecnicamente dotado mas que ainda apresenta lacunas importantes para o jogo do Sporting (fraca velocidade de execução, inexistência de pé direito para quem ocupa zonas centrais, e muitas perdas de bola sob pressão).

Na defesa, Piccini fez, finalmente, um bom jogo tanto a defender como a atacar, mostrando ser opção válida (nem que seja de recurso) para o resto da época. Mas os verdadeiros reforços, e que fazem com que o jogo do Sporting possa finalmente ser construído, com todas as condições, a partir da defesa, são Mathieu e Coentrão. Apresentámos reservas no momento da contratação do primeiro (devido a não corresponder ao perfil de jogadores que, acreditamos, possam render mais ao clube), mas não há como negá-lo: o jogador é, possivelmente, o melhor defesa-central a jogar em Portugal (ou, no mínimo, o mais completo), mostrando uma energia, visão e liderança, com e sem bola, que poderá elevar a equipa a um patamar mais alto. Coentrão vem ocupar, com experiência e talento, aquele que era um buraco negro na equipa do Sporting, formando uma dupla, nessa ala, que poderá tornar-se temível com o extremo argentino (onde ambos se complementam nas suas características - em teoria, até poderiam trocar de posição...).

Notas: Rui Patrício (6), Piccini (7), Coates (7), Mathieu (8), Coentrão (7), Battaglia (7), Bruno Fernandes (8), Gelson (7), Acuña (7), Alan Ruiz (5), Bas Dost (6), Petrovic (6), Bruno César (6), Iuri Medeiros (-).

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Liga dos Campeões (2.ª mão): FCSB - Sporting (1-5)

Jesus ainda assustou quando decidiu sentar no banco aquele que já é um dos melhores avançados na história do clube, ainda para mais num jogo em que o Sporting deveria marcar, no mínimo, tantos golos quanto o adversário para conseguir passar a eliminatória. Mas a estratégia do treinador funcionou: Doumbia foi eficaz e causou perigo na defesa (fraca) do FCSB, e o Sporting, mais uma vez apoiado pela visão de jogo e pelo último passe de Bruno Fernandes (sem dúvida, a peça-chave desta equipa, com Fábio Coentrão a começar a marcar a diferença e o diamante Gelson Martins, também ele, a crescer no último momento), marcou cinco golos pela segunda vez consecutiva. Uma defesa um pouco mais nervosa (e cansada fisicamente) acabou por deixar entrar, numa jogada onde quase todos erraram, o primeiro golo oficial desta época, mas o Sporting controlou sempre o jogo (com excepção da entrada do Steaua na segunda parte, que procurava, com motivação, o seu segundo golo), mostrando, mais uma vez, que é uma equipa experiente, organizada, e que sabe usar o jogo interior para ferir o adversário (importante, também, nas bolas paradas e no recurso aos lançamentos longos, de onde sai o primeiro golo). Num jogo onde o FCSB estava obrigado a abrir-se, as suas lacunas tornaram-se evidentes para um jogo deste nível. Venha um sorteio que, por estarmos no último pote, será sempre complicadíssimo. Como disse Jesus, e bem, é preciso desfrutar o que vier a seguir: o primeiro objectivo da época está cumprido e o Sporting está, pelo segundo ano consecutivo, na liga dos melhores da Europa. Duas vitórias em dois jogos essenciais poderão ser um embalo que faltou, nos últimos anos, para enfrentar uma época longa com confiança.

Notas: Rui Patrício (7), Piccini (6), Coates (5), Mathieu (6), Coentrão (7), Battaglia (6), Adrien (6), Bruno Fernandes (8), Gelson (8), Acuña (7), Doumbia (7), Bas Dost (7), Petrovic (6), Bruno César (6).

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Liga dos Campeões (1.ª mão da eliminatória): Sporting - FCSB (0-0)

"Jogámos contra uma equipa ao nosso nível." (Jorge Jesus)

Confrangedora a qualidade do futebol do Sporting no terceiro ano de Jorge Jesus. Com um plantel suficiente para jogar um futebol eficaz e interessante, e com a obrigação de se impor a uma equipa nitidamente inferior neste acesso privilegiado à Liga dos Campeões (há equipas, neste momento, que não passam do meio da tabela, em Portugal, e que são mais perigosas do que esta equipa romena), o Sporting é incapaz de apresentar jogo interior (não há qualquer ligação, entre sectores, no momento da construção, excepto para atirar bolas para as faixas laterais) e de entregar bolas em condições ao seu ponta-de-lança. No entanto, e relendo as palavras do treinador depois do jogo (será que o presidente concorda?), tudo parece estar bem.

Jesus insistiu na inoperante dupla Battaglia/Adrien, entregando 67 minutos de avanço ao adversário (construção: zero). Com a permanência de Adrien em Alvalade, o Sporting arrisca-se a criar um problema no seu jogo por uma questão de balneário, pois é claro, para todos, que Fernandes é tecnicamente superior ao capitão da equipa. Com um primeiro médio mais fraco, com bola, do que William Carvalho, o Sporting precisa da técnica e criatividade de Fernandes, a segundo médio, como de pão para a boca. Não assumi-lo é o primeiro passo para uma época perdida.

Piccini revelou as suas limitações: uma perda de bola comprometedora (estamos com uma média de uma por jogo) e uma técnica de cruzamento que, com todo o espaço do mundo, consiste em fazer um chapéu para a área. No entanto, é justo dizer que Coentrão fez pior exibição, com momentos de desconcentração e perdas de bola que só se justificam por uma péssima forma física. Vamos ver Jonathan Silva ainda muitas vezes esta época. Mathieu, na defesa, foi o melhor elemento (apesar de uma última perda de bola no fim do jogo), mostrando muita velocidade, muita coesão com bola, e liderança dentro de campo (fazendo uma dupla forte com Coates). A Gelson, não se pode pedir mais (vai carregando a equipa às costas), e Podence, apesar de discreto, ofereceu a melhor oportunidade de jogo a Acuña, que só não concretizou por azar (o remate saiu muito forte e colocado, embatendo no poste antes de sair pela linha). Doumbia pouco trouxe em vez do jovem português: mais presença na área, mas sem definição.

Jesus pede aos seus jogadores para repetirem movimentos e passes vezes sem conta, e sem criatividade (excepto nas alas), sem fazer com que a bola chegue aos momentos de finalização, no centro do campo, em boas condições. É difícil entender como é que um treinador conhecido por essas características de jogo venha a oferecer, pela segunda época consecutiva, um tipo de jogo que em tudo contraria aquilo que o Sporting precisa de criar para concretizar os seus objectivos. A época promete ser longa, e o Sporting prepara-se para defrontar 60 mil adeptos romenos, em Bucareste, que tudo farão para fazer tremer a equipa. Quanto ao seu adversário, não precisa de maior motivação.

Notas: Rui Patrício (8), Piccini (5), Coates (7), Mathieu (7), Coentrão (4), Battaglia (5), Adrien (4), Gelson (6), Acuña (6), Podence (5), Bas Dost (4), Doumbia (4), Bruno Fernandes (6), Iuri Medeiros (5).

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

1.ª jornada: Aves - Sporting (0-2)

Num jogo ainda a ritmo de pré-época (lento e conservador no ritmo), o recém-promovido Desportivo das Aves acabou por ser o arranque ideal para cimentar rotinas no grupo, exibir maior segurança a defender e maior coesão entre sectores, e poder voltar a casa com uma vitória motivadora, no arranque do campeonato, com zero golos sofridos (quantas vezes conseguimos essa estatística na época passada?). O Sporting manteve sempre o controlo da operações da partida, com excepção de um par de erros defensivos de Piccini na faixa direita (que se mostrou seguro, no entanto, no trabalho com Gelson) e nos últimos minutos da primeira parte, quando inexplicavelmente deu a bola ao Aves numa altura em que o seu guarda-redes se encontrava lesionado em campo, à espera que a bola não lhe chegasse à baliza (e já depois de ter sido assistido pela equipa médica).

Apesar do pouco ritmo competitivo, Jesus deu os lugares centrais do meio-campo à dupla William/Adrien, puxando Bruno Fernandes para um lugar menos confortável de segundo avançado (deixando Podence no banco). Como esperado, a exibição tanto de Adrien e Fernandes foi intermitente, com o primeiro a resguardar-se para tarefas mais defensivas (com vários passes errados e perdas de bola na construção atacante) e o segundo sem grande entrosamento com os jogadores à sua volta (mas, ainda assim, bastante envolvido no ataque da equipa, com um bom remate que quase inaugurou o marcador).

Embora os dois golos tenham vindo de Gelson Martins, a grande figura da equipa foi Acuña: muita solidariedade e força a defender, muita inteligência e talento a atacar (uma boa assistência, em esforço, para o primeiro golo, e alguns remates muito perigosos a meia-distância), e muita presença no jogo interior da equipa. O extremo argentino promete ser, sem dúvida, um reforço essencial para o resto do campeonato. Podence, a entrar na segunda parte, mexeu com o jogo numa altura em que o Aves já sentia uma maior quebra física, e ofereceu um passe a rasgar a defesa (como vem sendo hábito quando participa no jogo) que Bas Dost (incrivelmente) não soube aproveitar. Com Podence em campo, o jogo do Sporting muda muito e aceita o elemento de risco que, muitas vezes, não está disposto a correr na maior parte do tempo. Destaque ainda para a boa entrada de Battaglia, um jogador que oferece músculo e uma segurança defensiva que muita falta nos fez na época passada.

A próxima jornada é já na sexta-feira, em casa, contra o Vitória de Setúbal (às 20h30), poucos dias antes da primeira mão de um playoff de acesso à Liga dos Campeões que, contra todas as expectativas, se tornou favorável às nossas aspirações. Todas as condições estão reunidas para termos um início de época que pode engatar a equipa para uma boa série de resultados.

Notas: Rui Patrício (7), Piccini (6), Coates (8), Mathieu (7), Coentrão (7), William (8), Adrien (6), Gelson (7), Acuña (8), Bruno Fernandes (6), Bas Dost (6), Podence (7), Battaglia (7).

domingo, 23 de julho de 2017

New kids on the block


1. Muito do jogo do Sporting, na nova época, vai passar por este trio: a direcção, classe e presença de Bruno Fernandes, a velocidade e brilhantismo de Gelson Martins, na ala direita, e Daniel Podence no jogo interior. Fernandes não tem a (extraordinária) disponibilidade física de Adrien, e talvez se sinta mais protegido com alguém como Battaglia do que William ao seu lado (algo que Jesus terá de trabalhar), mas supera o (ainda) capitão do Sporting em clarividência e técnica. Ao mesmo tempo, o Sporting torna-se muito mais perigoso com a velocidade, irreverência e criatividade de Gelson e Podence, apesar da técnica e visão de Alan Ruiz (que torna o jogo do Sporting mais lento na sua execução) ou a segurança de Bruno César.

2. "Cruzamento de Acuña, golo de Bas Dost", palavras que iremos ouvir mais vezes durante o campeonato. O extremo argentino, muito dado ao jogo colectivo e interior da equipa, vem preencher uma lacuna dramática no onze inicial: alguém que cruze a bola directamente para a cabeça do ponta-de-lança. Não é tão bonito como trocar a bola dezenas de vezes antes de metê-la na baliza, mas é uma eficiência que muito iremos agradecer nos jogos mais complicados ou contra equipas enfiadas dentro da grande área.

3. O Sporting apresenta uma equipa preparada para o início da época e com soluções para várias posições. Falta ainda um segundo lateral-direito que lute, com Piccini, pela titularidade na posição (o italiano parece um jogador competente, mas é também o elo mais fraco dos onze titulares, não se envolvendo tanto na construção como Fábio Coentrão, que se encontra a outro nível), assim como um defesa-central que seja, no mínimo, uma opção de recurso que dê segurança e estabilidade ao sector. Mathieu esteve melhor do que na Suíça, e só esperemos que ganhe mais concentração e confiança depois de mais algum treino (e lembrar-se de que Rui Patrício é canhoto). 

4. Falta Jesus decidir as últimas dispensas no plantel. Gauld, Francisco Geraldes, Matheus Pereira e Tobias Figueiredo deverão rodar noutros clubes (esperando-se que Matheus, pelo menos, jogue num clube com ambições maiores do que a manutenção), ficando a incógnita se o treinador prefere Petrovic ou Palhinha para a posição 6. Neste último ponto, espera-se também a permanência de William, algo que poderá ser determinante para manter um onze de grande qualidade e conseguir o título em Maio. André Geraldes, Schelotto, Marvin, Douglas e Castaignos não têm lugar na equipa.

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Doumbia: o segundo...

O Sporting conhece muito bem Doumbia: em dois jogos de eliminatória para a fase de grupo da Liga dos Campeões, em 2015, o avançado costa-marfinense marcou três vezes pelo CSKA, mostrando-se decisivo para a qualificação da equipa russa. A partir da próxima época, fará companhia a Bas Dost, e torna-se na segunda contratação, neste defeso, com qualidade e estatuto para entrar de caras no onze inicial da equipa.

Doumbia tem características diferentes de Bas Dost, logo, traz um perfil que parece ter o suficiente para formar uma excelente dupla com o holandês: rápido, móvel, importante nas transições, é um tipo de segundo avançado a que Jesus se habituou nas suas épocas no Benfica e que, acima de tudo, marcou sempre muitos golos pelos clubes onde passou. Com os dois avançados ao melhor nível, Dost e Doumbia poderão trazer 50 golos à equipa numa só época: é essa a expectativa que o clube coloca nos jogadores e uma estatística que poderá aproximar o Sporting, de forma decisiva, da conquista do título.

A contratação de Doumbia traz outro sinal muito positivo da direcção: ao contrário dos últimos anos, o Sporting conseguiu bater a (forte) concorrência que existia pelo jogador, mostrando um nível de prospecção e, sobretudo, de capacidade financeira que é decisiva para um clube que deseja ser campeão (a mesma que faltou para trazer Mitroglou, por exemplo, para os lados de Alvalade). Em termos desportivos, cresce a concorrência para a frente de ataque, sobretudo quanto ao estatuto de Daniel Podence, que deverá surgir mais vezes nas alas. Com a chegada de (pelo menos) mais um extremo, reduz-se o espaço para Francisco Geraldes e Iuri Medeiros continuarem no clube, embora seja crível que Adrien, William ou Gelson possam não continuar em Portugal no próximo ano. Adivinham-se mais mexidas num mercado, como já dissemos, que poderá revolucionar o onze de Alvalade.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Bruno Fernandes: o primeiro

O jovem internacional e capitão da selecção sub-21 é o primeiro reforço do Sporting, para a nova época, com qualidade para entrar directamente no onze titular. Em termos técnicos, vem colmatar uma das maiores lacunas do plantel: alguém que consiga substituir Adrien no meio-campo e que, para além de unir as peças da equipa, traga golo nos pés e poder de remate fora da área. No perfil, é algo que mostra uma estratégia acertada por parte do scouting do clube (o que não deixa de ser refrescante): português, jovem, com enorme potencial, e com quatro épocas de experiência numa das ligas de maior exigência táctica no mundo (a Serie A). Fernandes é uma boa contratação e alguém com potencial para se tornar num símbolo do clube e numa futura grande venda (veremos se chegará a tal ponto, mas é essa a expectativa que o clube lhe coloca em cima, tal como se vê pela cláusula de 100 milhões). Por fim, a contratação mostra também que o Sporting está a entrar, finalmente, no campeonato financeiro dos seus concorrentes. Depois de Dost, Bruno Fernandes é a segunda contratação mais cara do clube, tendo ambos custado entre os 8 e 10 milhões de euros, valores normais para um candidato ao título. Pelos rumores do mercado, o Sporting não deve ficar por aqui, e parece procurar fechar jogadores que poderiam facilmente jogar nos seus rivais directos e estrangeiros, algo que poderá também indicar que Semedo não será a única venda do clube antes do início da época (e pela quantidade de extremos que vêm surgindo no radar, não nos surpreenderia uma saída de Gelson Martins). One down, more to go.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

A saída de Rúben Semedo e a revolução na defesa do Sporting (ou no plantel)

Terminou ontem a primeira temporada de entrevistas do Sporting160, um podcast onde se discute não apenas a vida do clube mas, também, o futebol e a sua paixão de uma forma diametralmente oposta àquela que vinga nas televisões e que tanto mal faz ao desporto e aos seus adeptos. Depois de uma conversa já muito interessante com Rui Miguel Tovar, foi a vez de Rui Malheiro falar sobre futebol e, em particular, sobre a época do Sporting, os seus jogadores, e as contratações já confirmadas (ou faladas). Aproveitamos parte dessa análise (que poderão ouvir aqui) para falarmos sobre o sector que mais mexeu, até agora, no mercado de transferências do Sporting — a defesa — e como isso poderá implicar, também, outras mudanças noutros sectores do plantel.

Rúben Semedo saiu para o Villarreal (uma das melhores defesas da liga espanhola e uma equipa que ficou no top-6 nas últimas quatro épocas) a troco de 14 milhões de euros por 80% do passe. Em termos desportivos, é razoável para um jogador que tinha mostrado potencial para mais, mas em termos financeiros, é um bom negócio para um central que, até agora, ainda não mostrou ter todas as capacidades para ser titular num candidato ao título. Para o Sporting, é uma jogada que poderá envolver algum risco, tanto pela idade do jogador (23 anos), como pelo seu potencial e aquilo que mostrou na sua primeira época como titular no clube. Semedo tem lacunas importantes (o controlo da profundidade, a leitura de jogo, a concentração no passe) e — talvez a verdadeira razão para a sua saída —, terá participado em mais um episódio de "indisciplina", no final da época, que lembra outros da sua curta carreira (desta vez num conflito com adeptos). Parece-nos, assim, um bom negócio para um jogador colocado no mercado, ficando a dúvida sobre aquilo que poderá valer amanhã (estando o clube salvaguardado, apesar de tudo, com 20% do passe numa futura venda). Com a defesa reduzida, neste momento, a Coates, André Pinto e Paulo Oliveira, e pelas dúvidas que temos sobre estes dois últimos em cumprir uma época a titulares, acreditamos que o Sporting procure, neste momento, um central mais experiente para o lugar esquerdo da defesa (e fá-lo bem). Não nos espantaria que Oliveira saísse para que Domingos Duarte, que esteve emprestado ao Belenenses, ocupasse o lugar de quarto central (e assim o desejaríamos como política para a formação). Mas caso não existam outras saídas no sector, não vemos outra hipótese para além de um novo empréstimo para o jovem defesa.

No entanto, a revolução que Jorge Jesus procura fazer num sector que decresceu brutalmente em eficácia (de 21 golos sofridos, em 2015/16, passámos a 36 em 2016/17) poderá passar, também, por outras mudanças. Como apontava Rui Malheiro no Sporting160, a defesa, no ano transacto, começava no último terço do terreno, com a dupla de avançados e os (falsos) extremos a reagirem agressivamente à perda de bola. Este ano, com a saída de Slimani, Teo Gutiérrez e João Mário, o Sporting perdeu essa capacidade e viu o adversário chegar às zonas centrais do terreno com capacidade para jogar, romper linhas e finalizar. Os defeitos da linha defensiva, agora mais sozinha, saltaram à vista, e o Sporting acabou por sofrer golos em praticamente todos os jogos do campeonato. 

Piccini terá de levar uma masterclass defensiva de Jesus. Coentrão, por outro lado (ainda não confirmado), já conhece o guião do treinador e, existindo apenas dúvidas sobre a sua condição física (não joga há um ano), por 10% do salário, e numa época em que quererá reentrar nas contas da selecção nacional para o Mundial de 2018, parece um negócio difícil de recusar. No entanto, tal não deveria impedir o clube de procurar, ao mesmo tempo, outro lateral-esquerdo que consiga potenciar ainda esta época. Os números defensivos deverão, por outro lado, tapar o lugar aos regressados. Francisco Geraldes poderia oferecer as mesmas garantias de João Mário, mas está tapado por Gelson, Alan Ruiz, Podence e uma futura contratação para extremo-esquerdo. O mesmo para Iuri Medeiros. Pelo perfil dos jogadores que têm aparecido no radar do clube, vemos a procura do jogador típico de Jesus: alto e forte em termos físicos ou, também, jogadores já habituados às suas exigências tácticas. Na época que poderá definir o seu futuro, não acreditamos que Jesus venha a abrir espaço a quem não der lhe garantias no imediato. No entanto, o pior que o Sporting poderia fazer seria encher o plantel de jogadores caros, em fim de carreira, que nenhum retorno poderiam dar ao clube ou que pouco mais acrescentem ao valor que já existe em casa. O afastamento de jogadores como Mathieu, ou semelhantes, do nosso radar parece, por isso, uma boa notícia. Mas não deverá ser esta época que Alvalade irá ver um ataque composto por Bas Dost, Gelson/Geraldes, Podence e Iuri Medeiros... E faltam 84 dias até Setembro.

terça-feira, 23 de maio de 2017

Balanço da época 2016/17

A figura: Bas Dost. O holandês não precisou de adaptação para fazer aquilo para o qual foi contratado: marcar golos (e foram 34 no campeonato). Se a equipa se adaptou a ele, já é outra questão. Raras são as que perdem um campeonato com um melhor marcador deste nível (segundo a ajuda preciosa de Rui Miguel Tovar, umas quatro). Este é o tipo de contratação de que o Sporting precisa para enriquecer a sua base: jogadores de qualidade indiscutível e cujo mercado raramente deixa escapar por menos de 8-10 milhões. Faltam três ou quatro (laterais, central, meio-campo).

A confirmação: Gelson Martins. À semelhança de Bas Dost, Gelson exibiu-se a um nível técnico estrondoso. A manter esta evolução, seguramente estará no topo do mundo quando atingir a maturidade necessária no momento da decisão e na participação do jogo colectivo (onde já se mostrou mais objectivo do que no ano anterior). A sua exibição no Santiago Bernabéu lembrou a exibição de Cristiano Ronaldo no jogo inaugural do novo Estádio de Alvalade, em 2003, contra o Manchester United. Gelson será certamente aliciado para outros vôos, mas o clube já tem as suas pérolas protegidas por cláusulas de grande valor (outros tempos).

A esperança: Daniel Podence. Muita qualidade técnica no último passe, no remate, na ruptura de linhas e no envolvimento no jogo colectivo. Um jogador ainda jovem mas que traz algo que muito faltou ao Sporting nesta época: o risco, a procura da baliza, uma bola entregue em condições a quem finaliza. Jesus irá provavelmente voltar a apostar em Alan Ruiz no próximo ano (um jogador talentoso e com futuro), mas é o miúdo que nos faz levar ao estádio para vê-lo jogar, surpreender-nos e sentir o clube.

A desilusão: Por onde começar? Direcção e treinador partilham responsabilidades. No entanto, Jesus pecou nos jogadores pedidos, na gestão da equipa entre jogos domésticos e europeus, nas declarações a chamar valor a si quando a equipa brilhava. Bruno de Carvalho pecou por entregar carta branca ao treinador, crendo que este lhe daria, sozinho (e já), um sucesso tão esperado. Ambos terão de aprender com os erros e olhar para as suas decisões técnicas e para a sua estrutura competitiva (um com mais experiência, outro menos). A chave do sucesso do Sporting, no próximo ano, começa aí.

Positivo: Os sportinguistas. Sempre presentes em todos os momentos: em todos os jogos, em qualquer dia e em qualquer hora, na adesão às eleições, no entusiasmo com o talento que vêem à sua frente, apesar da falta de sucesso. Não há adeptos como estes -- adeptos que fazem um clube crescer desta maneira perante tantas desilusões no currículo. Por fim, a cantera. Os miúdos levantaram o clube na segunda volta e trouxeram alguma estabilidade ao "caos organizado" em que se tinha tornado o balneário.

Negativo: Uma pré-época desastrosa que foi apenas um anúncio para o que vinha mais tarde. O despesismo, na hora de contratar, em valores pouco seguros (o meio-campo), e a ausência de reforços em sectores importantes (as laterais). A transição entre o jogo colectivo do ano anterior e as suas mudanças para este ano (sobretudo com a saída de João Mário). As poucas oportunidades e o discurso hesitante perante o talento da casa. Começamos do zero na próxima época. Tudo pode acontecer até Agosto: assim é o futebol nos dias de hoje. Cá estaremos para outra volta. 

terça-feira, 16 de maio de 2017

A quebra na qualidade de jogo na era de Jesus

Uma das questões pouco faladas quando se discute a quebra na qualidade de jogo do Sporting entre a época passada e a que agora termina está no desaparecimento do jogo interior. Mais ainda do que as contratações falhadas que pouco ou nada acrescentaram à equipa (com a excepção óbvia de Bas Dost), o Sporting passou a jogar com jogadores diferentes que trouxeram um jogo diferente. Há questões que saltam à vista: os jogadores jogam mais afastados uns dos outros, há menos entre-ajuda e solidariedade, e as decisões que cada um tomam, por consequência, parecem menos eficientes. 

No ano passado, o Sporting jogava com Slimani a primeiro avançado, jogador cuja palavra "solidariedade" estava escrita na alma, com Teo Gutiérrez a apoiar, e, como falsos extremos, João Mário e Bryan Ruiz. Até André Carrillo, nos poucos jogos que fez com a equipa, entrava constantemente da faixa para o centro do terreno, um movimento que fez explodir o jogo de João Mário e fazê-lo concentrar-se nos seus melhores atributos: a organização de jogo e o último passe (em vez de ser obrigado a finalizar como lhe era pedido no 4-3-3 de Marco Silva, algo que não está nas suas características). Nesta época, a saída de João Mário deu entrada a um endiabrado diamante: Gelson Martins. Com Gelson, um extremo de estonteante técnica e velocidade, o Sporting ganha muito na imprevisibilidade (algo que lhe faltava no ano anterior) mas perde na troca de bola, na tomada de decisão e no último passe (algo que só pode ser trabalhado com o tempo). Com a saída de Teo, um "patinho-feio" que pecou pela falta de golo na primeira volta do campeonato mas que era essencial nas manobras centrais e no posicionamento da equipa, entrou Alan Ruiz, jogador talentoso mas pouco adaptado ao ritmo de jogo do Sporting. Dost também precisou do seu tempo de adaptação e só agora aparece mais envolvido nas manobras ofensivas.

Dito isto, não há como negar: se a equipa apresentava um forte jogo colectivo no ano passado (como não se via em Alvalade há muitos anos), hoje, dez jogadores jogam para um jogador-alvo (Dost), que espera e desespera para que lhe cheguem bolas em condições, bolas essas que lhe são entregues com maior distância do que as que chegavam a Slimani (aumentando, assim, o risco de falhanço). Estas, ao contrário do ano anterior (e de um jogo apoiado pelo centro), chegam, portanto, com mais metros de distância, a partir das faixas, e sem jogo apoiado. Pior ainda, os dois laterais da equipa não parecem capazes de acompanhar o jogo ofensivo e arriscar movimentações com os respectivos extremos ou o meio-campo, preferindo correr até ao fim da linha, arriscar o um-para-um, e mandar para bola para a área à espera que calhe na cabeça de Dost. Schelotto, um jogador que repete constantemente esta decisão, alheia-se, assim, totalmente do jogo de que uma equipa como o Sporting precisaria. Surpreende, também, que este seja o jogo hoje adoptado por Jorge Jesus, alguém que sempre trabalhou outros princípios na sua carreira.

Há dois jogadores no plantel que poderiam "obrigar" o Sporting a jogar de maneira diferente. Francisco Geraldes tem as características que fez de João Mário um grande jogador: alguém que entende o jogo interior como poucos e que pode ser adaptado a uma das alas para aí fazer florescer as suas capacidades de passe, de organização, de posse de bola, e de decisão. Por fim, Daniel Podence, possivelmente um jogadores de maior talento e futuro em todo o plantel do Sporting, é um jogador que vive para rasgar linhas, assistir, e arriscar o remate ao mínimo espaço (e a sua estatura especial encontra-a). Não necessitam de adaptação, estão identificados com o clube, e já pertencem aos seus quadros. Vê-los jogar juntos, num meio-campo apoiado por William Carvalho e Adrien (que agradeceria uma colaboração em zonas do meio-campo onde Geraldes pode entrar), Gelson, Podence e Dost mudaria radicalmente o jogo da equipa, acrescentando-lhe canais de ataque, ruptura de linhas, criatividade e objectividade, e um crescimento que, através da aprendizagem, tocaria muitas mais vezes em altos do que baixos. Para isso, terá o treinador de correr esse risco. São momentos, mais ainda do que os seus planos tácticos, que também definem o seu trabalho.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

A(s) época(s) seguinte(s)

Pela primeira vez desde que o clube elegeu Bruno de Carvalho a presidente, os adeptos sentem a enorme frustração de uma época perdida em que não se conquistou nenhum título. Se essa frustração acaba por ser, por um lado, muito bem-vinda, pois tal sentimento era, em anos muitos recentes ainda, um conformado encolher de ombros, os sportinguistas sentem que o clube parece, de novo, de rumo indefinido, correndo o perigo de se encerrar em mais um longo ciclo sem glória. Na verdade, a transição desta época para a seguinte bem pode ser o momento mais importante dos próximos quatro anos da vida do clube. 

Bruno de Carvalho ficará como um dos presidentes mais importantes na história do Sporting pelo "simples" facto de ter evitado a sua falência e devolvido, em tempo recorde, os níveis de competitividade que lhe eram exigidos (e depois de uma época em que se chegou a temer a descida de divisão). Por outro lado, se a sua enorme força de vencer, e depressa, funcionou como um impulso tremendo para recuperar uma auto-estima que andava pelas ruas da amargura, algo que levaria o Sporting a cumprir feitos internos tremendos (a entrada no top 5 do ranking mundial de sócios, tendo já ultrapassado os 150 mil, lotações perto de esgotadas em todos os jogos, ou a construção de um pavilhão para as modalidades e responder, assim, ao seu espírito de formação desportiva nacional), essa mesma rapidez, hoje, acaba por ter um efeito perverso nas esperanças dos adeptos face à realidade em que o clube ainda se encontra. Não queremos dizer, com isto, que o Sporting deve pôr de lado o seu desejo de vencer (os clubes grandes não vivem assim). Mas se antes se viu uma enorme recuperação, hoje, já sofremos com a desvirtuação daquela que é uma das principais questões de toda e qualquer liderança política ou desportiva e da sua relação com quem a apoia: a gestão das expectativas. E perante a evidência do falhanço estratégico da época que agora termina, os sportinguistas sentem que foram iludidos perante aquilo que viveram na época passada.  

1.

Nunca ninguém poderá criticar a aposta desportiva em Jorge Jesus e o sentido de oportunidade que o presidente revelou em contratá-lo. Mas tornou-se evidente que a pressa de vencer (e que quase nos deu um título no primeiro ano do treinador), já nos mostra, num prazo temporal mais alargado, as carências estruturais de um clube que deseja manter uma regularidade de vitórias. Curiosamente, carências que também impediram o Sporting (na altura, talvez mais graves ainda) de manter uma regularidade de campeonatos depois de conquistar, no início do milénio, dois em três anos, algo que veio de um momentum anual e não de uma estratégia a médio-longo prazo. Hoje, numa altura em que o futebol está cada vez mais profissionalizado (e em que o sucesso desportivo passa, também, por uma cultura de comunicação, de prospecção, de marcas e de gestão), será necessário ao presidente rodear-se de pessoas cada vez mais profissionais, perspicazes, e exigentes para tomar decisões cada vez menos isoladamente. E se muito se discutiu, no momento da contratação de Jorge Jesus, se o sucesso do Sport Lisboa e Benfica se devia, em primeiro lugar, ao treinador ou à estrutura profissional que o rodeava, hoje já sabemos a resposta: nenhum dos dois venceria sozinho, mas era esta última que dava todas as condições, ao primeiro, para conseguir vencer com regularidade, algo que ainda está por provar na experiência e nas condições actuais do Sporting.

2.

Se as grandes decisões do clube, na transição para a época seguinte, terão de recair a nível da estrutura, é necessária uma comunicação, em todos os departamentos do clube, que se baseie exclusivamente numa cultura e identidade sportinguista sem dependências e colagens a outros. Uma das grandes razões para o insucesso do Sporting nas últimas décadas deve-se, também, à resposta que o clube deu ao sucesso que outros tinham. Ou seja, decisões desportivas e estruturais que vieram em resposta a decisões dos rivais e não na sequência de uma crítica interna, e permanente, ao sucesso interno do Sporting (ou à falta dele). O sucesso de um clube passa, em primeiro lugar, por olhar para dentro e ver aquilo que tem de mais fraco e aquilo que tem de mais forte. Só assim poderá resolver com eficiência, estrutura, e regularidade o que tem de pior para apostar naquilo que tem de melhor (e assim crescer). E perante o sucesso do seu maior rival, o Sporting já não pode responder como fez nas últimas décadas: com um pânico estrutural, e uma obsessão pelos outros, que leve o clube repetidamente ao conflito interno ou à beira da auto-destruição.

3.

Por fim, se a análise da direcção quanto ao desenvolvimento técnico da equipa, nas mãos de Jorge Jesus, terá também de passar por questões estruturais (construindo uma equipa e uma cultura de comunicação que favoreça o seu sucesso), o Sporting terá também de apostar na vantagem que tem em relação a todos os seus adversários: a formação de jogadores. A (talvez) última frustração dos sportinguistas prende-se, precisamente, com este último ponto: não só a mais-valia técnica do seu treinador não se fez sentir este ano, mas as suas decisões técnicas, do início até ao fim da temporada, vão contra a grande vantagem e matriz do clube. Se Jorge Jesus lançou Gelson Martins e Rúben Semedo (nenhum treinador no mundo não apostaria, em todos os jogos, no primeiro a titular), vimos o clube lançar inúmeros e careiros falhanços, sem influência no futuro do clube a não ser o prejuízo financeiro, em vez de jogadores como Daniel Podence (que joga a titular em caso de lesão), Francisco Geraldes, Matheus Pereira, Iuri Medeiros, Ryan Gauld ou Ricardo Esgaio. Apesar da ausência de títulos, o Sporting foi sempre o principal formador de talento do futebol português e o grande responsável pela formação da selecção nacional que conseguiu o primeiro título, a nível sénior, na sua história. Esse sucesso desportivo e humano passa por formar, e para formar talento, é preciso que ele jogue (com todas as suas imperfeições). Se, com o campeonato já resolvido, e com vários jogadores sem motivação (outro motivo de discussão), o treinador acredita que este ainda não é o momento para lhes dar espaço, resta saber quando e se esse quando passará pelo Sporting (ou pela selecção nacional). 

4.

A nova época, com ou sem Jorge Jesus (o Verão futebolístico é longo e dado a paixões da estação), irá começar, mais uma vez, de maneira ingrata para o clube. A tremenda alegria de vencer o Campeonato da Europa trouxe fadiga e férias atrasadas aos principais jogadores do clube e ao nosso meio-campo (o principal motor do jogo). Com uma (seguramente muito difícil) pré-eliminatória da Champions a antecipar a época desportiva e uma Taça das Confederações, com a selecção, a acontecer pelo meio, o Sporting arrisca-se a mais um início de época atribulado e a uma afinação atrasada das várias peças do seu jogo. O clube e a estrutura, mais uma vez, deverão estar à altura de uma gestão exigida a uma equipa grande. E colocar o pé no acelerador sem ter todas as peças afinadas poderá provocar novos acidentes de percurso. Resta saber se os sportinguistas terão paciência para sofrer outras voltas de avanço e, também, para entender as suas razões, pois nem sempre a direcção tem sabido transmiti-lo ou apostar nesse discurso. Uma coisa é certa: lá estaremos para a viagem, e para apoiar o Sporting, com lealdade, visão e inteligência.