Nenhuma pessoa que tenha ido a Alvalade irá esquecer este jogo: em pouco menos de dez minutos, e numa altura em que a vitória já parecia mais do que garantida, o Estoril reduz o jogo para um golo de diferença, é anulado o terceiro golo ao Sporting e, imediatamente a seguir, o Estoril faz a festa do empate pouco antes do video-árbitro anular, mais uma vez, esse golo por fora-de-jogo. Uma montanha-russa de emoções, imprópria para cardíacos, mas que trouxe, com enorme euforia, um sentimento de verdade desportiva que tantas vezes parecia contrariado neste estádio. Estamos, sem dúvida, perante uma nova era no futebol, e o Sporting, com toda a justiça nas suas prestações, é líder no campeonato, à quarta jornada, com quatro vitórias em quatro jogos.
O jogo com o Estoril, em casa, era o último de um mês de ritmo infernal para os jogadores (seis jogos, dois deles decisivos para o resto da época, em três semanas). Jesus percebeu que os melhores tinham de jogar sempre, e ao contrário de épocas anteriores, cedeu menos à rotação que, na teoria, poderia funcionar mas que, na prática, implicaria uma equipa menos perigosa e de rotinas menos bem trabalhadas. Era determinante, por isso, conseguir marcar ainda na primeira parte para não correr atrás do prejuízo, mais tarde, com uma equipa em total quebra física. O ritmo baixo da segunda parte, com o Estoril a arriscar mais e a jogar bem (obrigado a contrariar aquele que seria o seu plano de jogo inicial), deveu-se, precisamente, ao nosso desgaste físico e mental, e os jogadores foram heróis na maneira como conseguiram, apesar de tudo, dar tudo o que tinham e não tinham para sair do campo com mais uma vitória no bolso.
Ainda não entrámos em Setembro e já nos arriscamos a dizer que há um antes e depois, no Sporting, com Bruno Fernandes. O jovem jogador marcou mais um golo fabuloso (um tremendo livre directo a 30 metros da baliza), esteve sempre presente tanto no ataque como na defesa, e parece ser o elemento que faltava, no jogo da equipa, a uma dupla (William e Adrien) que já vinha acusando algum desgaste (e pouca criatividade) no cumprimento das suas tarefas ofensivas. Curiosamente, o Sporting jogou sem os seus dois capitães, e Jesus encontrou, em Battaglia, um médio-defensivo à altura do seu "antigo" modelo de 6: uma muralha que sabota todas as linhas e toda a construção do adversário e que apresenta, de forma decisiva, um acrescento ao jogo aéreo da equipa (defensiva e ofensivamente, tendo ficado à beira de marcar o terceiro golo da equipa).
Sem ser tão vistoso como Fernandes ou Gelson Martins, outro jogador em claro crescendo na inteligência do jogo (a determinar o tempo de jogo, a assistir e a finalizar, e, também, a defender, tal como fez nesta jornada), Acuña já tem estatísticas importantes para quem acabou de chegar ao clube: quatro assistências e um golo (decisivo) que o tornam num jogador essencial na equipa (com muita presença, também, no jogo interior e nas manobras defensivas, embora tenha caído, fisicamente, na recta final da partida). Sobretudo, Acuña entende o jogo, sabe colocar a bola para o último remate, e não deixa, simplesmente, que a roubem dos pés em momentos de pressão, algo que não se pode dizer, da mesma maneira, de Alan Ruiz, um jogador inteligente e tecnicamente dotado mas que ainda apresenta lacunas importantes para o jogo do Sporting (fraca velocidade de execução, inexistência de pé direito para quem ocupa zonas centrais, e muitas perdas de bola sob pressão).
Na defesa, Piccini fez, finalmente, um bom jogo tanto a defender como a atacar, mostrando ser opção válida (nem que seja de recurso) para o resto da época. Mas os verdadeiros reforços, e que fazem com que o jogo do Sporting possa finalmente ser construído, com todas as condições, a partir da defesa, são Mathieu e Coentrão. Apresentámos reservas no momento da contratação do primeiro (devido a não corresponder ao perfil de jogadores que, acreditamos, possam render mais ao clube), mas não há como negá-lo: o jogador é, possivelmente, o melhor defesa-central a jogar em Portugal (ou, no mínimo, o mais completo), mostrando uma energia, visão e liderança, com e sem bola, que poderá elevar a equipa a um patamar mais alto. Coentrão vem ocupar, com experiência e talento, aquele que era um buraco negro na equipa do Sporting, formando uma dupla, nessa ala, que poderá tornar-se temível com o extremo argentino (onde ambos se complementam nas suas características - em teoria, até poderiam trocar de posição...).
Notas: Rui Patrício (6), Piccini (7), Coates (7), Mathieu (8), Coentrão (7), Battaglia (7), Bruno Fernandes (8), Gelson (7), Acuña (7), Alan Ruiz (5), Bas Dost (6), Petrovic (6), Bruno César (6), Iuri Medeiros (-).