Mostrar mensagens com a etiqueta Iuri Medeiros. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Iuri Medeiros. Mostrar todas as mensagens

domingo, 24 de setembro de 2017

7.ª jornada: Moreirense - Sporting (1-1)

A boa notícia que se retira deste empate é que os primeiros pontos perdidos, neste campeonato, foram apenas à sétima jornada (e num jogo fora), o que não deixa de ser um bom arranque. A má notícia é que ficam expostas algumas deficiências no plantel e, é preciso dizer, alguma má leitura na abordagem a este jogo. É preciso dizê-lo: os jogadores não são máquinas e, depois de um arranque de época intenso (bem mais do que os nossos rivais), Jorge Jesus tem de rodar a equipa para conseguir gerir a disponibilidade física dos seus jogadores, e antes de uma dupla jornada com Barcelona e Porto, o jogo fora com o Moreirense não podia apresentar o mesmo onze inicial que muitos dos jogos anteriores. No entanto, espera-se, também, que o treinador saiba tirar as devidas leituras deste jogo para o futuro.

Hoje percebe-se que o onze mais forte, do Sporting, é com William Carvalho e Battaglia nas zonas centrais do terreno e Bruno Fernandes mais próximo do ponta de lança. Quando o jogador argentino entrou em campo, o Sporting tornou-se uma equipa mais equilibrada e, também, mais perigosa. No entanto, a ausência de Fernandes (a exibição mais discreta da época), devido a substituição, fez com que o jogo se tornasse mais directo e menos esclarecido na recta final, não conseguindo o Sporting ganhar, também, por ter faltado a sorte que existiu nas últimas vitórias sofridas (e algumas arrancadas nos últimos momentos do jogo). Alan Ruiz continua a ser uma peça a menos na equipa, apesar da sua técnica, e Bruno César, na ala esquerda, traz um jogo mais previsível e menos criativo. Iuri Medeiros teve, infelizmente, uma exibição lamentável, daquelas em que os adeptos se perguntam onde é que anda a cabeça do jovem jogador. O jovem português tem um talento inegável com a bola nos pés, mas as suas primeiras exibições com a camisola do Sporting, e num contexto obrigatoriamente mais difícil do que nas equipas para onde foi emprestado, parecem mostrar que não se encontra ainda mentalmente focado. As suas perdas de bola nos últimos minutos do jogo, com tempo e espaço para assistir a equipa para um golo urgente, são difíceis de explicar para um jogador deste nível.

Esta é a primeira de duas peças que o Sporting precisa de encontrar no mercado de inverno: um extremo-esquerdo para lutar pelo lugar com Acuña. Mas já existe um jogador, no plantel, que traz o rasgo que a equipa necessita: Daniel Podence. O jovem português seria muito importante para tirar Alan Ruiz do onze titular, mas já o vimos jogar nas alas com perigo. Espera-se que Jesus voltar a apostar nele depois de ter recuperado da sua lesão: a equipa é mais perigosa com ele. Continuamos a depender de nós para cumprir os nossos objectivos, e é já na próxima jornada que poderemos ultrapassar o novo líder do campeonato.

Notas: Rui Patrício (7), Piccini (6), Coates (6), Mathieu (6), Coentrão (6), William (7), Bruno Fernandes (6), Bruno César (5), Gelson (6), Alan Ruiz (5), Bas Dost (5), Battaglia (6), Doumbia (5), Iuri Medeiros (4).

terça-feira, 19 de setembro de 2017

6.ª jornada: Sporting - Tondela (2-0)

(fotografia Lusa / Mário Cruz)

Uma equipa campeã é uma equipa que sabe aproveitar todos os momentos do jogo, incluíndo aqueles onde a qualidade individual ajuda a desbloquear resultados. E pela primeira vez em muitos anos, o Sporting conta com dois jogadores, na sua equipa titular, que são exímios nos livres directos à baliza: Mathieu e Bruno Fernandes. Acrescenta-se, também, o facto de cada um bater com um pé diferente: o central francês com o pé esquerdo e o jovem português com o pé direito (não esquecemos, também, que a equipa tem outro especialista no banco de suplentes: Iuri Medeiros). Desta vez, foi Mathieu a concretizar um livre directo de forma espectacular, e para além disso, Bruno Fernandes continua a resolver jogos com remates brilhantes de meia-distância. É também nestes "pormenores", essenciais em qualquer equipa vencedora, que o Sporting se mostra mais perigoso e com mais capacidade para atingir os seus objectivos do que nos anos recentes, o que nos faz pensar, apesar de ainda estarmos no início da época, de que este é o onze titular mais forte da era de Jesus.

O Tondela foi uma equipa pouco pressionante e cedo se viu em desvantagem, o que acabou por proporcionar um jogo tranquilo ao Sporting (com uma calma e um ritmo que a equipa já pedia há algum tempo, dado o pesadíssimo calendário de Agosto). A equipa ganha uma qualidade completamente diferente com Fábio Coentrão em campo, mesmo sem grande fulgor no ataque (Acuña também este discreto em tarefas ofensivas, mas foi imperioso na posse de bola, na salvaguarda do ritmo de jogo, e nas tarefas defensivas), e William Carvalho, apesar de um início um pouco tremido, voltou a impôr a sua autoridade no centro do terreno (e que bom que é ter um jogador desta qualidade, com bola, naquela zona do terreno). Para além do golo, Bruno Fernandes cumpriu dois lugares no terreno (ao lado de William e mais perto dos avançados) com criatividade e segurança, mas parece finalmente ser na posição de segundo avançado (ou terceiro médio) que se mostra mais decisivo e interventivo no jogo da equipa (tornando-a muito mais perigosa). Jesus já não deverá fugir do trio William-Battaglia-Fernandes para a maioria dos jogos.

Iuri Medeiros, no lado direito, teve a tarefa inglória de substituir Gelson Martins, mostrando dificuldades em dar sequência ao jogo mas com bons pormenores técnicos (tendo ficado a milímetros de um excelente golo). Gelson e Iuri são dois jogadores totalmente diferentes, trazendo com duas "propostas" de jogo opostas: o primeiro na ruptura e velocidade, o segundo na posse e visão de jogo. Podem ser utilizados para diferentes momentos do jogo (e Iuri não joga apenas na direita), mas este último precisa de mais minutos para sentir-se mais entrosado e confiante (seria vantajoso se jogasse na Taça da Liga).

O jogo tímido dos laterais e extremos, nas tarefas ofensivas, ajudou a que Bas Dost apenas tivesse uma oportunidade de golo. Mas quando antes estávamos dependentes de um homem na frente, agora temos um futebol colectivo muito mais coeso e, consequentemente, mais perigoso (e com três jogadores nos dez primeiros melhores marcadores do campeonato: Bruno Fernandes com 5, Bas Dost com 4 e Gelson Martins com 3 golos). E esse é um dado essencial para os objectivos de um campeonato: uma prova de regularidade onde ganham as equipas que têm mais soluções para os obstáculos diferentes que surgem ao longo da época.

Notas: Rui Patrício (7), Piccini (7), Coates (7), Mathieu (8), Coentrão (7), William (8), Bruno Fernandes (8), Iuri Medeiros (6), Acuña (7), Alan Ruiz (5), Bas Dost (6), Battaglia (6), Gelson Martins (6), Bruno César (6).   

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Um primeiro balanço ao plantel e à pré-época

1. O sistema de três centrais está para ficar. No entanto, sem rotinas e sem jogadores com qualidade para cumprir as exigentes funções deste modelo (nomeadamente os laterais), nunca este modelo estará suficientemente preparado para se impôr como a primeira opção no jogo do Sporting.

2. Os "maus resultados", tendo em conta a experiência do ano passado (que parece em tudo igual à desta época, com ligeiras melhorias este ano) não são nenhuma surpresa (vários jogos com equipas de nível igual ou superior num curto espaço de tempo). Fez bem Jorge Jesus em preparar, sobretudo, um onze que estará o mais próximo possível daquele que teremos no início da época (que está, devido à pré-eliminatória para a Liga dos Campeões, bem mais próxima para o Sporting do que para qualquer outro clube nacional).

3. O mais preocupante está na insistência em jogadores que estão em campo unicamente por cumprirem, à risca, a rotina que é treinada durante a semana. Isto não é, em si, um problema para a equipa (caso contrário estaríamos a contrariar toda a lógica do futebol), mas torna-se nisso mesmo quando os jogadores escolhidos são os menos imprevisíveis e criativos do plantel. Olha-se para o jogo da equipa e vemos isso: trocas de bola com base no treino e pouca consequência na decisão. O insucesso do Sporting, tanto quanto os seus problemas defensivos, deveu-se na aposta recorrente em jogadores que pouca criatividade traziam do meio-campo para a frente, e nestes jogos de pré-época (sobretudo contra o Marselha), foi nítida a diferença entre ter Bruno César e Alan Ruiz em campo, atrás de Bas Dost, ou uma dupla como Matheus Pereira e Podence (ou ainda, pela sua capacidade em colocar a bola na área em excelentes condições de finalização, alguém como Iuri Medeiros). A chave do Sporting está, precisamente, em saber cumprir o modelo do treinador e oferecer-lhe, depois, visão e criatividade, algo que só poderá vir pelas características dos jogadores. E é neste último ponto que Jorge Jesus, por querer o controlo dos acontecimentos do jogo, parece ainda não ceder totalmente (apesar da sua aposta em Gelson, para quem deixa sozinho essa liberdade). Há que arriscar!

*

Piccini: Apesar de melhorar jogo a jogo, parecem faltar características, ao jogador, que tornem o jogo do Sporting mais eficiente em todos os seus momentos (como é exigido a um candidato ao título). Mais perpicaz que Schelotto (prefere envolver-se com a equipa em vez de iniciar cavalgadas rumo à linha de fundo), falta-lhe técnica no momento de segurar a bola, no um para um, e no cruzamento para a área.

André Geraldes: Um jogador de Primeira Liga mas sem lugar no plantel do Sporting.

Mathieu: Já demonstrámos a nossa oposição a este tipo de contratações. A chegada de Mathieu seria muito positiva se trouxesse consigo a experiência de quem entende, no imediato, os princípios com que uma equipa deste nível precisa de jogar (princípios tão básicos como o controlo da profundidade e a marcação à zona). Mas o que se viu, em todos os jogos da pré-época, foi uma incompreensão destes mesmos, no momento do jogo, e que serviu para comprometer a equipa em pelo menos metade dos golos sofridos. Mais um problema para Jesus, quando deveria ser o contrário.

André Pinto e Tobias Figueiredo: Pouco vimos, mas um deles deverá lutar pela posição de terceiro central antes da chegada de mais um jogador para esta zona do terreno (apostamos num novo empréstimo de Tobias). Paulo Oliveira saiu do Sporting por não querer renovar o seu contrato e André Pinto parece ser um jogador que oferece o mesmo tipo de garantias (não são suficientes para o onze titular). 

Fábio Coentrão: Um claro upgrade na ala esquerda, deverá ser um merecido dono do lugar se não sofrer nenhuma lesão durante a época (algo que, pelo historial recente, não parece garantido).

Jonathan Silva: Mostra os típicos defeitos de um jovem defesa da liga argentina, ou seja, demasiada agressividade e pouco envolvimento nos processos globais da equipa. Não é solução para o onze titular.

Petrovic: Uma das boas surpresas da pré-época, embora deixe ainda a desejar nos momentos sem bola. Boas iniciativas de construção, embora esteja bem mais confortável em jogos com espaço, sem ter um opositor a fazer pressão (o que será fatal nos jogos de maior exigência).

Battaglia: Uma presença defensiva que será muito útil ao longo da época (e que faz muito falta ao Sporting), mas poucas garantias em termos de construção.

Palhinha: Bem defensivamente, precisa de um jogador ao seu lado, no meio-campo, que se encarregue da construção da equipa (um perfil diferente, portanto, de William Carvalho, a quem se espere que não saia do plantel).

Bruno Fernandes: A melhor contratação do Sporting neste defeso e um jogador preparado para entrar no onze inicial no lugar de Adrien (cuja eventual saída vemos menorizada no plantel).

Mattheus Oliveira: Parece render mais na zona central do terreno. Ainda pouco adaptado ao jogo da equipa, mostra técnica mas pouco risco para posições mais adiantadas. Uma opção para o banco, mas ainda atrás dos nossos jovens da formação.

Iuri Medeiros: Um jogador que, mesmo que não sendo titular, parece essencial, pelo seu perfil, ao plantel principal do Sporting. Talvez o primeiro jogador do clube, em muitos anos, que nunca falha uma bola para a área (e numa equipa que sofre muitas faltas, há muitos jogos difíceis que acabam por se ganhar com livres aparentemente inofensivos). Talento no controlo de bola, em espaço curto, e paciência para a construção, assim como grande capacidade para colocar a bola em momentos de finalização.

Francisco Geraldes: Um jogador que não parece contar para Jorge Jesus mas cuja inteligência e compreensão do jogo é indesmentível. Merece um lugar no plantel pelo seu talento e a objectividade que o seu jogo traz na construção.

Ryan Gauld: Zero minutos na pré-época, parece bem fora das contas de Jorge Jesus.

Matheus Pereira: A criatividade deste jogador não encontra paralelos no plantel. O seu efeito no ataque, consequentemente, é imediato. Seria a nossa aposta pessoal para o onze inicial.

Podence: Titular, já!

Doumbia: Parece concorrer, neste momento, para ser a sombra de Bas Dost, mas as suas características são muito importantes para romper as muitas defesas que vamos encontrar enfiadas dentro da área.

Gelson Dala e Leonardo Ruiz: O primeiro merece um lugar no plantel, o segundo deverá regressar à equipa B ou ser emprestado.

*

Aqui está o plantel, tal como o idealizamos (26/27 jogadores):

Guarda-redes: Rui Patrício, Beto, Pedro Silva.

Defesas: Novo lateral-direito, Piccini; Coates, Mathieu, André Pinto, novo central; Fábio Coentrão, novo lateral-esquerdo.

Meio-campo: William Carvalho, Palhinha, Battaglia; Bruno Fernandes, Mattheus Oliveira, Francisco Geraldes.

Extremos: Gelson Martins, Iuri Medeiros; Matheus Pereira, Acuña.

Avançados: Podence, Alan Ruiz, Bruno César; Bas Dost, Doumbia, Gelson Dala.

E um onze titular:

Rui Patrício; Novo lateral/Piccini, Coates, Novo central; Fábio Coentrão; William Carvalho, Bruno Fernandes, Gelson Martins, Matheus Pereira; Podence, Bas Dost.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

A saída de Rúben Semedo e a revolução na defesa do Sporting (ou no plantel)

Terminou ontem a primeira temporada de entrevistas do Sporting160, um podcast onde se discute não apenas a vida do clube mas, também, o futebol e a sua paixão de uma forma diametralmente oposta àquela que vinga nas televisões e que tanto mal faz ao desporto e aos seus adeptos. Depois de uma conversa já muito interessante com Rui Miguel Tovar, foi a vez de Rui Malheiro falar sobre futebol e, em particular, sobre a época do Sporting, os seus jogadores, e as contratações já confirmadas (ou faladas). Aproveitamos parte dessa análise (que poderão ouvir aqui) para falarmos sobre o sector que mais mexeu, até agora, no mercado de transferências do Sporting — a defesa — e como isso poderá implicar, também, outras mudanças noutros sectores do plantel.

Rúben Semedo saiu para o Villarreal (uma das melhores defesas da liga espanhola e uma equipa que ficou no top-6 nas últimas quatro épocas) a troco de 14 milhões de euros por 80% do passe. Em termos desportivos, é razoável para um jogador que tinha mostrado potencial para mais, mas em termos financeiros, é um bom negócio para um central que, até agora, ainda não mostrou ter todas as capacidades para ser titular num candidato ao título. Para o Sporting, é uma jogada que poderá envolver algum risco, tanto pela idade do jogador (23 anos), como pelo seu potencial e aquilo que mostrou na sua primeira época como titular no clube. Semedo tem lacunas importantes (o controlo da profundidade, a leitura de jogo, a concentração no passe) e — talvez a verdadeira razão para a sua saída —, terá participado em mais um episódio de "indisciplina", no final da época, que lembra outros da sua curta carreira (desta vez num conflito com adeptos). Parece-nos, assim, um bom negócio para um jogador colocado no mercado, ficando a dúvida sobre aquilo que poderá valer amanhã (estando o clube salvaguardado, apesar de tudo, com 20% do passe numa futura venda). Com a defesa reduzida, neste momento, a Coates, André Pinto e Paulo Oliveira, e pelas dúvidas que temos sobre estes dois últimos em cumprir uma época a titulares, acreditamos que o Sporting procure, neste momento, um central mais experiente para o lugar esquerdo da defesa (e fá-lo bem). Não nos espantaria que Oliveira saísse para que Domingos Duarte, que esteve emprestado ao Belenenses, ocupasse o lugar de quarto central (e assim o desejaríamos como política para a formação). Mas caso não existam outras saídas no sector, não vemos outra hipótese para além de um novo empréstimo para o jovem defesa.

No entanto, a revolução que Jorge Jesus procura fazer num sector que decresceu brutalmente em eficácia (de 21 golos sofridos, em 2015/16, passámos a 36 em 2016/17) poderá passar, também, por outras mudanças. Como apontava Rui Malheiro no Sporting160, a defesa, no ano transacto, começava no último terço do terreno, com a dupla de avançados e os (falsos) extremos a reagirem agressivamente à perda de bola. Este ano, com a saída de Slimani, Teo Gutiérrez e João Mário, o Sporting perdeu essa capacidade e viu o adversário chegar às zonas centrais do terreno com capacidade para jogar, romper linhas e finalizar. Os defeitos da linha defensiva, agora mais sozinha, saltaram à vista, e o Sporting acabou por sofrer golos em praticamente todos os jogos do campeonato. 

Piccini terá de levar uma masterclass defensiva de Jesus. Coentrão, por outro lado (ainda não confirmado), já conhece o guião do treinador e, existindo apenas dúvidas sobre a sua condição física (não joga há um ano), por 10% do salário, e numa época em que quererá reentrar nas contas da selecção nacional para o Mundial de 2018, parece um negócio difícil de recusar. No entanto, tal não deveria impedir o clube de procurar, ao mesmo tempo, outro lateral-esquerdo que consiga potenciar ainda esta época. Os números defensivos deverão, por outro lado, tapar o lugar aos regressados. Francisco Geraldes poderia oferecer as mesmas garantias de João Mário, mas está tapado por Gelson, Alan Ruiz, Podence e uma futura contratação para extremo-esquerdo. O mesmo para Iuri Medeiros. Pelo perfil dos jogadores que têm aparecido no radar do clube, vemos a procura do jogador típico de Jesus: alto e forte em termos físicos ou, também, jogadores já habituados às suas exigências tácticas. Na época que poderá definir o seu futuro, não acreditamos que Jesus venha a abrir espaço a quem não der lhe garantias no imediato. No entanto, o pior que o Sporting poderia fazer seria encher o plantel de jogadores caros, em fim de carreira, que nenhum retorno poderiam dar ao clube ou que pouco mais acrescentem ao valor que já existe em casa. O afastamento de jogadores como Mathieu, ou semelhantes, do nosso radar parece, por isso, uma boa notícia. Mas não deverá ser esta época que Alvalade irá ver um ataque composto por Bas Dost, Gelson/Geraldes, Podence e Iuri Medeiros... E faltam 84 dias até Setembro.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

As três primeiras contratações para 2017/18

O Sporting já apresentou três jogadores para a próxima temporada, um sinal de que a época já começou a ser planeada há muito (surpreendente seria se não o fosse) e de que o clube não deseja passar mais uma pré-época com um lote reduzido de jogadores (e surpreendente seria, atendendo aos hábitos de presidente e treinador, se não viessem vários outros até ao final do mês de Agosto).

André Pinto, a primeira contratação a ser anunciada, é um bom central da Primeira Liga e um jogador que deverá lutar pela titularidade. Apesar de outras lacunas gritantes no onze inicial, a irregularidade e inexperiência de Rúben Semedo regressaram em força este ano, o que, apesar de outras características que fizeram dele um dos centrais mais interessantes do ano transacto (velocidade, poder físico e saída de bola), e graças às quais muitos reclamaram uma primeira convocatória para a Selecção Nacional (e bem precisa, a Selecção, de uma nova geração de centrais), vieram a criar novos problemas na defesa do Sporting. Aqui, usamos o mesmo argumento da formação: um jogador com talento só evolui se jogar. No entanto, a posição de defesa-central é das mais críticas no que toca a experiência e o rigor táctico, percebendo-se que o clube queira reforçar as suas opções nessa zona do campo. O que desejamos é que Rúben Semedo aumente os índices de competitividade e a sua luta pela titularidade venha a ajudar não só o clube como o próprio jogador. André Pinto é bem-vindo a essa luta.

Ainda na defesa, Cristiano Piccini vem fazer concorrência a Schelotto no lugar de lateral-direito. Esta será, provavelmente, a contratação que levanta mais cautelas. Ao contrário do que a maior parte dos críticos indica - e perguntamo-nos até que ponto será válido fazer uma crítica a um jogador que nunca vimos jogar -, não nos insurgimos contra um valor como este (3 milhões de euros) por um lateral, uma posição que, hoje em dia, tem uma importância tão decisiva, dentro do jogo, como qualquer outra que exija condução, técnica ou organização (e um bom lateral, no mercado internacional, pode custar pelo menos o dobro). Piccini aparenta ter características semelhantes às que foram associadas a Schelotto no momento da sua chegada. Resta saber se tem capacidades técnicas superiores às do seu compatriota e se irá oferecer um maior envolvimento nas manobras colectivas ofensivas, lacunas gritantes que fazem para já, de Schelotto, uma opção de recurso para a exigência competitiva do Sporting.

Resta-nos aquela que será a contratação mais interessante, não só pelas exibições apresentadas na Primeira Liga como, também, pela jovem idade e potencial que apresenta em termos desportivos (o que também significa, hoje em dia, um potencial financeiro). Mattheus destacou-se no Estoril como um dos seus jogadores de maior capacidade técnica e poder de remate (e marca bem livres, uma das lacunas principais do plantel do Sporting - o jogador com maior talento no campeonato para fazê-lo esteve emprestado ao Boavista: Iuri Medeiros...). À partida, irá concorrer para o lugar de segundo avançado (logo, com Alan Ruiz e Daniel Podence), de extremo (Bruno César ou Bryan Ruiz), ou, arriscamos nós (e conhecendo as experiências de Jesus), para a posição 8, embora tenhamos dúvidas sobre as actuais capacidades físicas e de intensidade de jogo para fazê-lo no imediato. A contratação de Mattheus poderá também indicar a saída de algum jogador do plantel, e não nos espantaria se isso acontecesse no lado esquerdo do ataque ou mesmo no meio-campo.

Por fim, e em comum a estas três contratações, nenhuma delas parece representar uma entrada óbvia no onze inicial (sendo a posição de lateral direito a mais urgente - e aguardamos ainda uma solução para o outro flanco). Tal como já escrevemos, acreditamos que o clube tem soluções, dentro de casa, para lugares no ataque e no meio-campo (faltando, a nosso ver, um outro avançado que acompanhe Bas Dost e que permita, a Gelson Dala, uma primeira época a titular na Primeira Liga). Mas com os números desastrosos da defesa nesta época, urge encontrar soluções de qualidade técnica para entender os processos exigentes do treinador e participar no jogo colectivo da equipa. Fica a dúvida se o clube fará as contratações cirúrgicas para tal, de forma a enquadrar os jogadores da formação, ou se irá optar pela mesma atitude do ano passado, no mercado, que implicará um muito maior atraso no reforço das rotinas de jogo (e que muito ajudou à queda da equipa).

segunda-feira, 15 de maio de 2017

A(s) época(s) seguinte(s)

Pela primeira vez desde que o clube elegeu Bruno de Carvalho a presidente, os adeptos sentem a enorme frustração de uma época perdida em que não se conquistou nenhum título. Se essa frustração acaba por ser, por um lado, muito bem-vinda, pois tal sentimento era, em anos muitos recentes ainda, um conformado encolher de ombros, os sportinguistas sentem que o clube parece, de novo, de rumo indefinido, correndo o perigo de se encerrar em mais um longo ciclo sem glória. Na verdade, a transição desta época para a seguinte bem pode ser o momento mais importante dos próximos quatro anos da vida do clube. 

Bruno de Carvalho ficará como um dos presidentes mais importantes na história do Sporting pelo "simples" facto de ter evitado a sua falência e devolvido, em tempo recorde, os níveis de competitividade que lhe eram exigidos (e depois de uma época em que se chegou a temer a descida de divisão). Por outro lado, se a sua enorme força de vencer, e depressa, funcionou como um impulso tremendo para recuperar uma auto-estima que andava pelas ruas da amargura, algo que levaria o Sporting a cumprir feitos internos tremendos (a entrada no top 5 do ranking mundial de sócios, tendo já ultrapassado os 150 mil, lotações perto de esgotadas em todos os jogos, ou a construção de um pavilhão para as modalidades e responder, assim, ao seu espírito de formação desportiva nacional), essa mesma rapidez, hoje, acaba por ter um efeito perverso nas esperanças dos adeptos face à realidade em que o clube ainda se encontra. Não queremos dizer, com isto, que o Sporting deve pôr de lado o seu desejo de vencer (os clubes grandes não vivem assim). Mas se antes se viu uma enorme recuperação, hoje, já sofremos com a desvirtuação daquela que é uma das principais questões de toda e qualquer liderança política ou desportiva e da sua relação com quem a apoia: a gestão das expectativas. E perante a evidência do falhanço estratégico da época que agora termina, os sportinguistas sentem que foram iludidos perante aquilo que viveram na época passada.  

1.

Nunca ninguém poderá criticar a aposta desportiva em Jorge Jesus e o sentido de oportunidade que o presidente revelou em contratá-lo. Mas tornou-se evidente que a pressa de vencer (e que quase nos deu um título no primeiro ano do treinador), já nos mostra, num prazo temporal mais alargado, as carências estruturais de um clube que deseja manter uma regularidade de vitórias. Curiosamente, carências que também impediram o Sporting (na altura, talvez mais graves ainda) de manter uma regularidade de campeonatos depois de conquistar, no início do milénio, dois em três anos, algo que veio de um momentum anual e não de uma estratégia a médio-longo prazo. Hoje, numa altura em que o futebol está cada vez mais profissionalizado (e em que o sucesso desportivo passa, também, por uma cultura de comunicação, de prospecção, de marcas e de gestão), será necessário ao presidente rodear-se de pessoas cada vez mais profissionais, perspicazes, e exigentes para tomar decisões cada vez menos isoladamente. E se muito se discutiu, no momento da contratação de Jorge Jesus, se o sucesso do Sport Lisboa e Benfica se devia, em primeiro lugar, ao treinador ou à estrutura profissional que o rodeava, hoje já sabemos a resposta: nenhum dos dois venceria sozinho, mas era esta última que dava todas as condições, ao primeiro, para conseguir vencer com regularidade, algo que ainda está por provar na experiência e nas condições actuais do Sporting.

2.

Se as grandes decisões do clube, na transição para a época seguinte, terão de recair a nível da estrutura, é necessária uma comunicação, em todos os departamentos do clube, que se baseie exclusivamente numa cultura e identidade sportinguista sem dependências e colagens a outros. Uma das grandes razões para o insucesso do Sporting nas últimas décadas deve-se, também, à resposta que o clube deu ao sucesso que outros tinham. Ou seja, decisões desportivas e estruturais que vieram em resposta a decisões dos rivais e não na sequência de uma crítica interna, e permanente, ao sucesso interno do Sporting (ou à falta dele). O sucesso de um clube passa, em primeiro lugar, por olhar para dentro e ver aquilo que tem de mais fraco e aquilo que tem de mais forte. Só assim poderá resolver com eficiência, estrutura, e regularidade o que tem de pior para apostar naquilo que tem de melhor (e assim crescer). E perante o sucesso do seu maior rival, o Sporting já não pode responder como fez nas últimas décadas: com um pânico estrutural, e uma obsessão pelos outros, que leve o clube repetidamente ao conflito interno ou à beira da auto-destruição.

3.

Por fim, se a análise da direcção quanto ao desenvolvimento técnico da equipa, nas mãos de Jorge Jesus, terá também de passar por questões estruturais (construindo uma equipa e uma cultura de comunicação que favoreça o seu sucesso), o Sporting terá também de apostar na vantagem que tem em relação a todos os seus adversários: a formação de jogadores. A (talvez) última frustração dos sportinguistas prende-se, precisamente, com este último ponto: não só a mais-valia técnica do seu treinador não se fez sentir este ano, mas as suas decisões técnicas, do início até ao fim da temporada, vão contra a grande vantagem e matriz do clube. Se Jorge Jesus lançou Gelson Martins e Rúben Semedo (nenhum treinador no mundo não apostaria, em todos os jogos, no primeiro a titular), vimos o clube lançar inúmeros e careiros falhanços, sem influência no futuro do clube a não ser o prejuízo financeiro, em vez de jogadores como Daniel Podence (que joga a titular em caso de lesão), Francisco Geraldes, Matheus Pereira, Iuri Medeiros, Ryan Gauld ou Ricardo Esgaio. Apesar da ausência de títulos, o Sporting foi sempre o principal formador de talento do futebol português e o grande responsável pela formação da selecção nacional que conseguiu o primeiro título, a nível sénior, na sua história. Esse sucesso desportivo e humano passa por formar, e para formar talento, é preciso que ele jogue (com todas as suas imperfeições). Se, com o campeonato já resolvido, e com vários jogadores sem motivação (outro motivo de discussão), o treinador acredita que este ainda não é o momento para lhes dar espaço, resta saber quando e se esse quando passará pelo Sporting (ou pela selecção nacional). 

4.

A nova época, com ou sem Jorge Jesus (o Verão futebolístico é longo e dado a paixões da estação), irá começar, mais uma vez, de maneira ingrata para o clube. A tremenda alegria de vencer o Campeonato da Europa trouxe fadiga e férias atrasadas aos principais jogadores do clube e ao nosso meio-campo (o principal motor do jogo). Com uma (seguramente muito difícil) pré-eliminatória da Champions a antecipar a época desportiva e uma Taça das Confederações, com a selecção, a acontecer pelo meio, o Sporting arrisca-se a mais um início de época atribulado e a uma afinação atrasada das várias peças do seu jogo. O clube e a estrutura, mais uma vez, deverão estar à altura de uma gestão exigida a uma equipa grande. E colocar o pé no acelerador sem ter todas as peças afinadas poderá provocar novos acidentes de percurso. Resta saber se os sportinguistas terão paciência para sofrer outras voltas de avanço e, também, para entender as suas razões, pois nem sempre a direcção tem sabido transmiti-lo ou apostar nesse discurso. Uma coisa é certa: lá estaremos para a viagem, e para apoiar o Sporting, com lealdade, visão e inteligência.