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sábado, 20 de janeiro de 2018

19ª jornada: Vitória de Setúbal - Sporting (1-1)

Há uma grande diferença na sensação de ver um campeonato um pouco mais longe entre os adeptos dos três grandes, e a diferença é que, para um sportinguista, dois pontos desperdiçados num campeonato onde todos os pontos valem ouro trazem o peso de 16 anos sem se ver o título de campeão. Esta é, obviamente, uma reacção puramente emocional (não fosse o futebol assim). Mas é racionalmente que se devem fazer as análises aos jogos e à carreira desportiva de um clube (coisa que desaparece, precisamente, num período tão grande de jejum). A verdade é que o Sporting, talvez pela primeira vez em todos esses anos, começa a ter qualidade individual, em todos os sectores do seu plantel, e uma profissionalização da sua estrutura que pode rivalizar, de facto, com a dos seus maiores adversários. Do mesmo modo, começou a ter argumentos financeiros, a partir desta época (e numa altura em que o futebol se transformou quase exclusivamente num concurso de dinheiro), para competir no mercado com outros clubes da mesma ambição. Repito: em 16 anos, num período em que o futebol se profissionalizou e transformou radicalmente, e em que o Sporting não soube acompanhar essas mudanças, esta é provavelmente a primeira época em que todos os recursos da gestão financeira e desportiva do clube conseguem estar à altura das suas ambições. 

Sendo assim, o que correu mal em Setúbal? Em duas palavras: eficácia e desconcentração. O Sporting jogou o suficiente para sair de Setúbal com uma vantagem de dois ou três golos. A presença de Rúben Ribeiro, apesar de discreta na "nota artística", conferiu maior criatividade e uma maior ruptura das linhas defensivas do adversário no sector central do terreno (assim surgiu o primeiro golo). Até aos instantes finais da partida, a ausência de concretização de outras oportunidades levou a que chegássemos ao período de descontos com apenas um golo de vantagem, resultado sempre perigoso em jogos fora, e contra equipas trancadas, devido ao perigo das bolas longas e do contra-ataque de três toques. Falhou, por isso, a pressão no portador da bola do Setúbal, que lança passe longo para Edinho, e falhou, também, a atenção na linha de fora-de-jogo, por parte da linha defensiva, que resultou num controlo deficiente da profundidade. Questões mais do que treinadas nesta equipa e que não podem imputadas, de maneira nenhuma, ao treinador (e é também por estas questões, no ataque, que Jesus pediu um avançado para "casar" com Bas Dost, um extraordinário finalizador mas que tem muitas dificuldades em concretizar fora da área, em remate cruzado ou ainda em corrida, ficando a equipa mais dependente de si). 

Com todos os seus defeitos, Jorge Jesus tem feito tudo nas suas capacidades, com os jogadores que tem em mãos, para chegar ao título. Nos seus melhores momentos (e não são poucos, apesar da desilusão da época passada), o Sporting jogou o melhor futebol que se viu em largos anos em Alvalade. Estar a deitar-lhe culpas para cima ou criticar a ausência de substituições neste jogo (que nada mudariam) não faz sentido: é uma crítica emocional, não racional. O Sporting fica agora proibido de perder mais pontos até à deslocação ao Dragão e o seu resultado, nesse campo, ganha outra importância. É também disso que se fazem as equipas campeãs, as únicas que não desistem (sobretudo com uma distância de quatro pontos -- mais vale assumi-los -- com 15 jogos por disputar no calendário). Temos todos os recursos para isso, apesar dos grandes obstáculos que se apresentam, e quando assim é, os resultados vêm com frieza e trabalho. Por isso: keep calm and carry on.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Liga dos Campeões (2.ª mão): FCSB - Sporting (1-5)

Jesus ainda assustou quando decidiu sentar no banco aquele que já é um dos melhores avançados na história do clube, ainda para mais num jogo em que o Sporting deveria marcar, no mínimo, tantos golos quanto o adversário para conseguir passar a eliminatória. Mas a estratégia do treinador funcionou: Doumbia foi eficaz e causou perigo na defesa (fraca) do FCSB, e o Sporting, mais uma vez apoiado pela visão de jogo e pelo último passe de Bruno Fernandes (sem dúvida, a peça-chave desta equipa, com Fábio Coentrão a começar a marcar a diferença e o diamante Gelson Martins, também ele, a crescer no último momento), marcou cinco golos pela segunda vez consecutiva. Uma defesa um pouco mais nervosa (e cansada fisicamente) acabou por deixar entrar, numa jogada onde quase todos erraram, o primeiro golo oficial desta época, mas o Sporting controlou sempre o jogo (com excepção da entrada do Steaua na segunda parte, que procurava, com motivação, o seu segundo golo), mostrando, mais uma vez, que é uma equipa experiente, organizada, e que sabe usar o jogo interior para ferir o adversário (importante, também, nas bolas paradas e no recurso aos lançamentos longos, de onde sai o primeiro golo). Num jogo onde o FCSB estava obrigado a abrir-se, as suas lacunas tornaram-se evidentes para um jogo deste nível. Venha um sorteio que, por estarmos no último pote, será sempre complicadíssimo. Como disse Jesus, e bem, é preciso desfrutar o que vier a seguir: o primeiro objectivo da época está cumprido e o Sporting está, pelo segundo ano consecutivo, na liga dos melhores da Europa. Duas vitórias em dois jogos essenciais poderão ser um embalo que faltou, nos últimos anos, para enfrentar uma época longa com confiança.

Notas: Rui Patrício (7), Piccini (6), Coates (5), Mathieu (6), Coentrão (7), Battaglia (6), Adrien (6), Bruno Fernandes (8), Gelson (8), Acuña (7), Doumbia (7), Bas Dost (7), Petrovic (6), Bruno César (6).

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

O controlo (e a decadência de um estilo)

"O estilo padronizado de Jesus vai perdendo o seu impacto de ano para ano, com o crescimento de todos os treinadores ao seu redor, e que tanto têm para lhe “agradecer” pelas ideias, sobretudo defensivas, que tantos foram adaptando para as suas equipas, mas também porque com a sua obsessão pelo controlo de um jogo que quer sempre igual, não tem deixado espaço para haver criatividade. À data o Sporting tem sido uma equipa de meros trabalhadores. Fazem, repetem, repetem. Se não está a resultar, faz-se o mesmo, mas tentando mais rápido."

Liga dos Campeões (1.ª mão da eliminatória): Sporting - FCSB (0-0)

"Jogámos contra uma equipa ao nosso nível." (Jorge Jesus)

Confrangedora a qualidade do futebol do Sporting no terceiro ano de Jorge Jesus. Com um plantel suficiente para jogar um futebol eficaz e interessante, e com a obrigação de se impor a uma equipa nitidamente inferior neste acesso privilegiado à Liga dos Campeões (há equipas, neste momento, que não passam do meio da tabela, em Portugal, e que são mais perigosas do que esta equipa romena), o Sporting é incapaz de apresentar jogo interior (não há qualquer ligação, entre sectores, no momento da construção, excepto para atirar bolas para as faixas laterais) e de entregar bolas em condições ao seu ponta-de-lança. No entanto, e relendo as palavras do treinador depois do jogo (será que o presidente concorda?), tudo parece estar bem.

Jesus insistiu na inoperante dupla Battaglia/Adrien, entregando 67 minutos de avanço ao adversário (construção: zero). Com a permanência de Adrien em Alvalade, o Sporting arrisca-se a criar um problema no seu jogo por uma questão de balneário, pois é claro, para todos, que Fernandes é tecnicamente superior ao capitão da equipa. Com um primeiro médio mais fraco, com bola, do que William Carvalho, o Sporting precisa da técnica e criatividade de Fernandes, a segundo médio, como de pão para a boca. Não assumi-lo é o primeiro passo para uma época perdida.

Piccini revelou as suas limitações: uma perda de bola comprometedora (estamos com uma média de uma por jogo) e uma técnica de cruzamento que, com todo o espaço do mundo, consiste em fazer um chapéu para a área. No entanto, é justo dizer que Coentrão fez pior exibição, com momentos de desconcentração e perdas de bola que só se justificam por uma péssima forma física. Vamos ver Jonathan Silva ainda muitas vezes esta época. Mathieu, na defesa, foi o melhor elemento (apesar de uma última perda de bola no fim do jogo), mostrando muita velocidade, muita coesão com bola, e liderança dentro de campo (fazendo uma dupla forte com Coates). A Gelson, não se pode pedir mais (vai carregando a equipa às costas), e Podence, apesar de discreto, ofereceu a melhor oportunidade de jogo a Acuña, que só não concretizou por azar (o remate saiu muito forte e colocado, embatendo no poste antes de sair pela linha). Doumbia pouco trouxe em vez do jovem português: mais presença na área, mas sem definição.

Jesus pede aos seus jogadores para repetirem movimentos e passes vezes sem conta, e sem criatividade (excepto nas alas), sem fazer com que a bola chegue aos momentos de finalização, no centro do campo, em boas condições. É difícil entender como é que um treinador conhecido por essas características de jogo venha a oferecer, pela segunda época consecutiva, um tipo de jogo que em tudo contraria aquilo que o Sporting precisa de criar para concretizar os seus objectivos. A época promete ser longa, e o Sporting prepara-se para defrontar 60 mil adeptos romenos, em Bucareste, que tudo farão para fazer tremer a equipa. Quanto ao seu adversário, não precisa de maior motivação.

Notas: Rui Patrício (8), Piccini (5), Coates (7), Mathieu (7), Coentrão (4), Battaglia (5), Adrien (4), Gelson (6), Acuña (6), Podence (5), Bas Dost (4), Doumbia (4), Bruno Fernandes (6), Iuri Medeiros (5).

segunda-feira, 31 de julho de 2017

A questão dos três centrais

Jesus jogou pelo seguro (afinal, os resultados da pré-época também são importantes) e colocou William a jogar a central em vez de Palhinha ou do promissor Demiral (jovem da equipa B). Ao lado de Tobias (muito inseguro, ainda, para ser opção no Sporting), William distribuiu segurança e classe, com e sem bola, na última linha defensiva da equipa, mostrando que é opção mais do que válida para o lugar em caso de lesões ou castigos (o "tampão" Battaglia e a inoperância ofensiva da Fiorentina também ajudou a manter a baliza limpa, o que serve para relembrar o bom trabalho de Paulo Sousa à frente da equipa italiana).

Jesus poderá ter ficado ainda mais tentado em voltar a experimentar o 3-5-2 como sistema táctico (com William a terceiro central). No entanto, e mais do que uma questão táctica, coloca-se aqui uma questão estratégica para o treinador. Depois de dois anos em que apenas venceu uma Supertaça (e de um segundo campeonato desastroso), Jesus deverá também colocar todas as fichas nas rotinas já estabelecidas da equipa desde que assumiu o seu comando. Com um plantel que nos parece superior e mais bem preparado do que na época anterior, a equipa ganha confiança a explorar as rotinas conhecidas por (quase) todos, em dar lugar aos jogadores mais rápidos e criativos na construção e no ataque, e em deixar, pelo menos para já, algumas experiências que precisem de mais tempo e maior adaptação para momentos de maior confiança. O Sporting aposta forte, no mercado, para vencer rapidamente, pelo que o treinador deverá também acompanhar esse raciocínio e explorar as soluções mais eficazes. Nesse ponto, e com excepção de previsíveis adaptações a adversários mais exigentes, acreditamos que Jesus irá obedecer ao mesmo desejo de vencer.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

A saída de Rúben Semedo e a revolução na defesa do Sporting (ou no plantel)

Terminou ontem a primeira temporada de entrevistas do Sporting160, um podcast onde se discute não apenas a vida do clube mas, também, o futebol e a sua paixão de uma forma diametralmente oposta àquela que vinga nas televisões e que tanto mal faz ao desporto e aos seus adeptos. Depois de uma conversa já muito interessante com Rui Miguel Tovar, foi a vez de Rui Malheiro falar sobre futebol e, em particular, sobre a época do Sporting, os seus jogadores, e as contratações já confirmadas (ou faladas). Aproveitamos parte dessa análise (que poderão ouvir aqui) para falarmos sobre o sector que mais mexeu, até agora, no mercado de transferências do Sporting — a defesa — e como isso poderá implicar, também, outras mudanças noutros sectores do plantel.

Rúben Semedo saiu para o Villarreal (uma das melhores defesas da liga espanhola e uma equipa que ficou no top-6 nas últimas quatro épocas) a troco de 14 milhões de euros por 80% do passe. Em termos desportivos, é razoável para um jogador que tinha mostrado potencial para mais, mas em termos financeiros, é um bom negócio para um central que, até agora, ainda não mostrou ter todas as capacidades para ser titular num candidato ao título. Para o Sporting, é uma jogada que poderá envolver algum risco, tanto pela idade do jogador (23 anos), como pelo seu potencial e aquilo que mostrou na sua primeira época como titular no clube. Semedo tem lacunas importantes (o controlo da profundidade, a leitura de jogo, a concentração no passe) e — talvez a verdadeira razão para a sua saída —, terá participado em mais um episódio de "indisciplina", no final da época, que lembra outros da sua curta carreira (desta vez num conflito com adeptos). Parece-nos, assim, um bom negócio para um jogador colocado no mercado, ficando a dúvida sobre aquilo que poderá valer amanhã (estando o clube salvaguardado, apesar de tudo, com 20% do passe numa futura venda). Com a defesa reduzida, neste momento, a Coates, André Pinto e Paulo Oliveira, e pelas dúvidas que temos sobre estes dois últimos em cumprir uma época a titulares, acreditamos que o Sporting procure, neste momento, um central mais experiente para o lugar esquerdo da defesa (e fá-lo bem). Não nos espantaria que Oliveira saísse para que Domingos Duarte, que esteve emprestado ao Belenenses, ocupasse o lugar de quarto central (e assim o desejaríamos como política para a formação). Mas caso não existam outras saídas no sector, não vemos outra hipótese para além de um novo empréstimo para o jovem defesa.

No entanto, a revolução que Jorge Jesus procura fazer num sector que decresceu brutalmente em eficácia (de 21 golos sofridos, em 2015/16, passámos a 36 em 2016/17) poderá passar, também, por outras mudanças. Como apontava Rui Malheiro no Sporting160, a defesa, no ano transacto, começava no último terço do terreno, com a dupla de avançados e os (falsos) extremos a reagirem agressivamente à perda de bola. Este ano, com a saída de Slimani, Teo Gutiérrez e João Mário, o Sporting perdeu essa capacidade e viu o adversário chegar às zonas centrais do terreno com capacidade para jogar, romper linhas e finalizar. Os defeitos da linha defensiva, agora mais sozinha, saltaram à vista, e o Sporting acabou por sofrer golos em praticamente todos os jogos do campeonato. 

Piccini terá de levar uma masterclass defensiva de Jesus. Coentrão, por outro lado (ainda não confirmado), já conhece o guião do treinador e, existindo apenas dúvidas sobre a sua condição física (não joga há um ano), por 10% do salário, e numa época em que quererá reentrar nas contas da selecção nacional para o Mundial de 2018, parece um negócio difícil de recusar. No entanto, tal não deveria impedir o clube de procurar, ao mesmo tempo, outro lateral-esquerdo que consiga potenciar ainda esta época. Os números defensivos deverão, por outro lado, tapar o lugar aos regressados. Francisco Geraldes poderia oferecer as mesmas garantias de João Mário, mas está tapado por Gelson, Alan Ruiz, Podence e uma futura contratação para extremo-esquerdo. O mesmo para Iuri Medeiros. Pelo perfil dos jogadores que têm aparecido no radar do clube, vemos a procura do jogador típico de Jesus: alto e forte em termos físicos ou, também, jogadores já habituados às suas exigências tácticas. Na época que poderá definir o seu futuro, não acreditamos que Jesus venha a abrir espaço a quem não der lhe garantias no imediato. No entanto, o pior que o Sporting poderia fazer seria encher o plantel de jogadores caros, em fim de carreira, que nenhum retorno poderiam dar ao clube ou que pouco mais acrescentem ao valor que já existe em casa. O afastamento de jogadores como Mathieu, ou semelhantes, do nosso radar parece, por isso, uma boa notícia. Mas não deverá ser esta época que Alvalade irá ver um ataque composto por Bas Dost, Gelson/Geraldes, Podence e Iuri Medeiros... E faltam 84 dias até Setembro.

terça-feira, 23 de maio de 2017

Balanço da época 2016/17

A figura: Bas Dost. O holandês não precisou de adaptação para fazer aquilo para o qual foi contratado: marcar golos (e foram 34 no campeonato). Se a equipa se adaptou a ele, já é outra questão. Raras são as que perdem um campeonato com um melhor marcador deste nível (segundo a ajuda preciosa de Rui Miguel Tovar, umas quatro). Este é o tipo de contratação de que o Sporting precisa para enriquecer a sua base: jogadores de qualidade indiscutível e cujo mercado raramente deixa escapar por menos de 8-10 milhões. Faltam três ou quatro (laterais, central, meio-campo).

A confirmação: Gelson Martins. À semelhança de Bas Dost, Gelson exibiu-se a um nível técnico estrondoso. A manter esta evolução, seguramente estará no topo do mundo quando atingir a maturidade necessária no momento da decisão e na participação do jogo colectivo (onde já se mostrou mais objectivo do que no ano anterior). A sua exibição no Santiago Bernabéu lembrou a exibição de Cristiano Ronaldo no jogo inaugural do novo Estádio de Alvalade, em 2003, contra o Manchester United. Gelson será certamente aliciado para outros vôos, mas o clube já tem as suas pérolas protegidas por cláusulas de grande valor (outros tempos).

A esperança: Daniel Podence. Muita qualidade técnica no último passe, no remate, na ruptura de linhas e no envolvimento no jogo colectivo. Um jogador ainda jovem mas que traz algo que muito faltou ao Sporting nesta época: o risco, a procura da baliza, uma bola entregue em condições a quem finaliza. Jesus irá provavelmente voltar a apostar em Alan Ruiz no próximo ano (um jogador talentoso e com futuro), mas é o miúdo que nos faz levar ao estádio para vê-lo jogar, surpreender-nos e sentir o clube.

A desilusão: Por onde começar? Direcção e treinador partilham responsabilidades. No entanto, Jesus pecou nos jogadores pedidos, na gestão da equipa entre jogos domésticos e europeus, nas declarações a chamar valor a si quando a equipa brilhava. Bruno de Carvalho pecou por entregar carta branca ao treinador, crendo que este lhe daria, sozinho (e já), um sucesso tão esperado. Ambos terão de aprender com os erros e olhar para as suas decisões técnicas e para a sua estrutura competitiva (um com mais experiência, outro menos). A chave do sucesso do Sporting, no próximo ano, começa aí.

Positivo: Os sportinguistas. Sempre presentes em todos os momentos: em todos os jogos, em qualquer dia e em qualquer hora, na adesão às eleições, no entusiasmo com o talento que vêem à sua frente, apesar da falta de sucesso. Não há adeptos como estes -- adeptos que fazem um clube crescer desta maneira perante tantas desilusões no currículo. Por fim, a cantera. Os miúdos levantaram o clube na segunda volta e trouxeram alguma estabilidade ao "caos organizado" em que se tinha tornado o balneário.

Negativo: Uma pré-época desastrosa que foi apenas um anúncio para o que vinha mais tarde. O despesismo, na hora de contratar, em valores pouco seguros (o meio-campo), e a ausência de reforços em sectores importantes (as laterais). A transição entre o jogo colectivo do ano anterior e as suas mudanças para este ano (sobretudo com a saída de João Mário). As poucas oportunidades e o discurso hesitante perante o talento da casa. Começamos do zero na próxima época. Tudo pode acontecer até Agosto: assim é o futebol nos dias de hoje. Cá estaremos para outra volta. 

terça-feira, 16 de maio de 2017

A quebra na qualidade de jogo na era de Jesus

Uma das questões pouco faladas quando se discute a quebra na qualidade de jogo do Sporting entre a época passada e a que agora termina está no desaparecimento do jogo interior. Mais ainda do que as contratações falhadas que pouco ou nada acrescentaram à equipa (com a excepção óbvia de Bas Dost), o Sporting passou a jogar com jogadores diferentes que trouxeram um jogo diferente. Há questões que saltam à vista: os jogadores jogam mais afastados uns dos outros, há menos entre-ajuda e solidariedade, e as decisões que cada um tomam, por consequência, parecem menos eficientes. 

No ano passado, o Sporting jogava com Slimani a primeiro avançado, jogador cuja palavra "solidariedade" estava escrita na alma, com Teo Gutiérrez a apoiar, e, como falsos extremos, João Mário e Bryan Ruiz. Até André Carrillo, nos poucos jogos que fez com a equipa, entrava constantemente da faixa para o centro do terreno, um movimento que fez explodir o jogo de João Mário e fazê-lo concentrar-se nos seus melhores atributos: a organização de jogo e o último passe (em vez de ser obrigado a finalizar como lhe era pedido no 4-3-3 de Marco Silva, algo que não está nas suas características). Nesta época, a saída de João Mário deu entrada a um endiabrado diamante: Gelson Martins. Com Gelson, um extremo de estonteante técnica e velocidade, o Sporting ganha muito na imprevisibilidade (algo que lhe faltava no ano anterior) mas perde na troca de bola, na tomada de decisão e no último passe (algo que só pode ser trabalhado com o tempo). Com a saída de Teo, um "patinho-feio" que pecou pela falta de golo na primeira volta do campeonato mas que era essencial nas manobras centrais e no posicionamento da equipa, entrou Alan Ruiz, jogador talentoso mas pouco adaptado ao ritmo de jogo do Sporting. Dost também precisou do seu tempo de adaptação e só agora aparece mais envolvido nas manobras ofensivas.

Dito isto, não há como negar: se a equipa apresentava um forte jogo colectivo no ano passado (como não se via em Alvalade há muitos anos), hoje, dez jogadores jogam para um jogador-alvo (Dost), que espera e desespera para que lhe cheguem bolas em condições, bolas essas que lhe são entregues com maior distância do que as que chegavam a Slimani (aumentando, assim, o risco de falhanço). Estas, ao contrário do ano anterior (e de um jogo apoiado pelo centro), chegam, portanto, com mais metros de distância, a partir das faixas, e sem jogo apoiado. Pior ainda, os dois laterais da equipa não parecem capazes de acompanhar o jogo ofensivo e arriscar movimentações com os respectivos extremos ou o meio-campo, preferindo correr até ao fim da linha, arriscar o um-para-um, e mandar para bola para a área à espera que calhe na cabeça de Dost. Schelotto, um jogador que repete constantemente esta decisão, alheia-se, assim, totalmente do jogo de que uma equipa como o Sporting precisaria. Surpreende, também, que este seja o jogo hoje adoptado por Jorge Jesus, alguém que sempre trabalhou outros princípios na sua carreira.

Há dois jogadores no plantel que poderiam "obrigar" o Sporting a jogar de maneira diferente. Francisco Geraldes tem as características que fez de João Mário um grande jogador: alguém que entende o jogo interior como poucos e que pode ser adaptado a uma das alas para aí fazer florescer as suas capacidades de passe, de organização, de posse de bola, e de decisão. Por fim, Daniel Podence, possivelmente um jogadores de maior talento e futuro em todo o plantel do Sporting, é um jogador que vive para rasgar linhas, assistir, e arriscar o remate ao mínimo espaço (e a sua estatura especial encontra-a). Não necessitam de adaptação, estão identificados com o clube, e já pertencem aos seus quadros. Vê-los jogar juntos, num meio-campo apoiado por William Carvalho e Adrien (que agradeceria uma colaboração em zonas do meio-campo onde Geraldes pode entrar), Gelson, Podence e Dost mudaria radicalmente o jogo da equipa, acrescentando-lhe canais de ataque, ruptura de linhas, criatividade e objectividade, e um crescimento que, através da aprendizagem, tocaria muitas mais vezes em altos do que baixos. Para isso, terá o treinador de correr esse risco. São momentos, mais ainda do que os seus planos tácticos, que também definem o seu trabalho.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

A(s) época(s) seguinte(s)

Pela primeira vez desde que o clube elegeu Bruno de Carvalho a presidente, os adeptos sentem a enorme frustração de uma época perdida em que não se conquistou nenhum título. Se essa frustração acaba por ser, por um lado, muito bem-vinda, pois tal sentimento era, em anos muitos recentes ainda, um conformado encolher de ombros, os sportinguistas sentem que o clube parece, de novo, de rumo indefinido, correndo o perigo de se encerrar em mais um longo ciclo sem glória. Na verdade, a transição desta época para a seguinte bem pode ser o momento mais importante dos próximos quatro anos da vida do clube. 

Bruno de Carvalho ficará como um dos presidentes mais importantes na história do Sporting pelo "simples" facto de ter evitado a sua falência e devolvido, em tempo recorde, os níveis de competitividade que lhe eram exigidos (e depois de uma época em que se chegou a temer a descida de divisão). Por outro lado, se a sua enorme força de vencer, e depressa, funcionou como um impulso tremendo para recuperar uma auto-estima que andava pelas ruas da amargura, algo que levaria o Sporting a cumprir feitos internos tremendos (a entrada no top 5 do ranking mundial de sócios, tendo já ultrapassado os 150 mil, lotações perto de esgotadas em todos os jogos, ou a construção de um pavilhão para as modalidades e responder, assim, ao seu espírito de formação desportiva nacional), essa mesma rapidez, hoje, acaba por ter um efeito perverso nas esperanças dos adeptos face à realidade em que o clube ainda se encontra. Não queremos dizer, com isto, que o Sporting deve pôr de lado o seu desejo de vencer (os clubes grandes não vivem assim). Mas se antes se viu uma enorme recuperação, hoje, já sofremos com a desvirtuação daquela que é uma das principais questões de toda e qualquer liderança política ou desportiva e da sua relação com quem a apoia: a gestão das expectativas. E perante a evidência do falhanço estratégico da época que agora termina, os sportinguistas sentem que foram iludidos perante aquilo que viveram na época passada.  

1.

Nunca ninguém poderá criticar a aposta desportiva em Jorge Jesus e o sentido de oportunidade que o presidente revelou em contratá-lo. Mas tornou-se evidente que a pressa de vencer (e que quase nos deu um título no primeiro ano do treinador), já nos mostra, num prazo temporal mais alargado, as carências estruturais de um clube que deseja manter uma regularidade de vitórias. Curiosamente, carências que também impediram o Sporting (na altura, talvez mais graves ainda) de manter uma regularidade de campeonatos depois de conquistar, no início do milénio, dois em três anos, algo que veio de um momentum anual e não de uma estratégia a médio-longo prazo. Hoje, numa altura em que o futebol está cada vez mais profissionalizado (e em que o sucesso desportivo passa, também, por uma cultura de comunicação, de prospecção, de marcas e de gestão), será necessário ao presidente rodear-se de pessoas cada vez mais profissionais, perspicazes, e exigentes para tomar decisões cada vez menos isoladamente. E se muito se discutiu, no momento da contratação de Jorge Jesus, se o sucesso do Sport Lisboa e Benfica se devia, em primeiro lugar, ao treinador ou à estrutura profissional que o rodeava, hoje já sabemos a resposta: nenhum dos dois venceria sozinho, mas era esta última que dava todas as condições, ao primeiro, para conseguir vencer com regularidade, algo que ainda está por provar na experiência e nas condições actuais do Sporting.

2.

Se as grandes decisões do clube, na transição para a época seguinte, terão de recair a nível da estrutura, é necessária uma comunicação, em todos os departamentos do clube, que se baseie exclusivamente numa cultura e identidade sportinguista sem dependências e colagens a outros. Uma das grandes razões para o insucesso do Sporting nas últimas décadas deve-se, também, à resposta que o clube deu ao sucesso que outros tinham. Ou seja, decisões desportivas e estruturais que vieram em resposta a decisões dos rivais e não na sequência de uma crítica interna, e permanente, ao sucesso interno do Sporting (ou à falta dele). O sucesso de um clube passa, em primeiro lugar, por olhar para dentro e ver aquilo que tem de mais fraco e aquilo que tem de mais forte. Só assim poderá resolver com eficiência, estrutura, e regularidade o que tem de pior para apostar naquilo que tem de melhor (e assim crescer). E perante o sucesso do seu maior rival, o Sporting já não pode responder como fez nas últimas décadas: com um pânico estrutural, e uma obsessão pelos outros, que leve o clube repetidamente ao conflito interno ou à beira da auto-destruição.

3.

Por fim, se a análise da direcção quanto ao desenvolvimento técnico da equipa, nas mãos de Jorge Jesus, terá também de passar por questões estruturais (construindo uma equipa e uma cultura de comunicação que favoreça o seu sucesso), o Sporting terá também de apostar na vantagem que tem em relação a todos os seus adversários: a formação de jogadores. A (talvez) última frustração dos sportinguistas prende-se, precisamente, com este último ponto: não só a mais-valia técnica do seu treinador não se fez sentir este ano, mas as suas decisões técnicas, do início até ao fim da temporada, vão contra a grande vantagem e matriz do clube. Se Jorge Jesus lançou Gelson Martins e Rúben Semedo (nenhum treinador no mundo não apostaria, em todos os jogos, no primeiro a titular), vimos o clube lançar inúmeros e careiros falhanços, sem influência no futuro do clube a não ser o prejuízo financeiro, em vez de jogadores como Daniel Podence (que joga a titular em caso de lesão), Francisco Geraldes, Matheus Pereira, Iuri Medeiros, Ryan Gauld ou Ricardo Esgaio. Apesar da ausência de títulos, o Sporting foi sempre o principal formador de talento do futebol português e o grande responsável pela formação da selecção nacional que conseguiu o primeiro título, a nível sénior, na sua história. Esse sucesso desportivo e humano passa por formar, e para formar talento, é preciso que ele jogue (com todas as suas imperfeições). Se, com o campeonato já resolvido, e com vários jogadores sem motivação (outro motivo de discussão), o treinador acredita que este ainda não é o momento para lhes dar espaço, resta saber quando e se esse quando passará pelo Sporting (ou pela selecção nacional). 

4.

A nova época, com ou sem Jorge Jesus (o Verão futebolístico é longo e dado a paixões da estação), irá começar, mais uma vez, de maneira ingrata para o clube. A tremenda alegria de vencer o Campeonato da Europa trouxe fadiga e férias atrasadas aos principais jogadores do clube e ao nosso meio-campo (o principal motor do jogo). Com uma (seguramente muito difícil) pré-eliminatória da Champions a antecipar a época desportiva e uma Taça das Confederações, com a selecção, a acontecer pelo meio, o Sporting arrisca-se a mais um início de época atribulado e a uma afinação atrasada das várias peças do seu jogo. O clube e a estrutura, mais uma vez, deverão estar à altura de uma gestão exigida a uma equipa grande. E colocar o pé no acelerador sem ter todas as peças afinadas poderá provocar novos acidentes de percurso. Resta saber se os sportinguistas terão paciência para sofrer outras voltas de avanço e, também, para entender as suas razões, pois nem sempre a direcção tem sabido transmiti-lo ou apostar nesse discurso. Uma coisa é certa: lá estaremos para a viagem, e para apoiar o Sporting, com lealdade, visão e inteligência.